sexta-feira, 3 de julho de 2015

O avanço da tecnologia

Interessante demais para deixar de ser espalhado, segue o artigo atribuído a Rania Al-Abdullah - rainha da Jordânia - mencionado no antepenúltimo parágrafo da postagem anterior. Com o título O avanço da tecnologia, ele foi publicado na edição de 10 de maio de 2015 do jornal O Estado de S. Paulo. A tradução é de Terezinha Martino. Segundo a Wikipédia, Rania Al-Abdullah é conhecida por ser uma grande defensora de trabalhos relacionados à educação, à saúde, à economia e diálogos interculturais.
O avanço da tecnologia
O benefício do desenvolvimento tecnológico sem o progresso moral é apenas uma ilusão
Árvores luminescentes plantadas nas calçadas para substituir lâmpadas de rua. Encanamentos de água que monitoram os próprios vazamentos. Braços biônicos comandados pela mente. Proteções bucais que detectam comoções cerebrais. Carros que dispensam motorista. Essas são algumas tecnologias que se tornarão mais comuns nos próximos dez anos. E não há dúvida de que o ritmo das inovações deve acelerar vertiginosamente à medida que as mentes mais criativas do mundo procurem satisfazer as demandas de nosso apetite insaciável por avanços e um estilo de vida instantâneo, mais rápido, mais barato, mais fácil e melhor – independentemente do que "melhor" possa significar.
Mas quando refletimos sobre o que serão os próximos dez anos devemos nos perguntar: qual é o benefício oferecido por essas tecnologias se elas não podem ser compartilhadas e desfrutadas por todos – especialmente pelas pessoas ou nações que mais necessitam delas? Ou se a falta de segurança e estabilidade impede as pessoas de terem acesso? Em outras palavras, qual é o benefício do progresso tecnológico sem o progresso moral? Resposta: nada mais que uma ilusão de progresso.
Neste exato momento na minha região, o Oriente Médio, homens são decapitados por bruxaria enquanto crianças são forçadas a assistir. Mulheres são escravizadas e abusadas por pertencer a "outra" religião. Cerca de 5 milhões de crianças não frequentam a escola, ignorantes quanto ao seu futuro e o futuro de sua região.
Em outros lugares, as cenas revoltantes em Ferguson e Baltimore nos lembram que embaixo da superfície – e muitas vezes acima dela – a injustiça e o preconceito estão em ebulição nos Estados Unidos. Vimos a intolerância religiosa se manifestar nos massacres no Quênia.
Ainda este ano, mil refugiados em busca de uma vida melhor morreram afogados, em parte por causa da indiferença da comunidade global quanto às suas aflições. Enquanto o progresso for exclusivo e não inclusivo, compartilhado por alguns e não por todos, veremos mais incidentes como esses. E veremos cada vez mais lobos solitários e grupos terroristas como Estado Islâmico, Al-Shabab e Boko Haram alimentando o sentimento de injustiça das populações e buscando satisfação deturpada.
Para um progresso real e duradouro precisamos voltar atrás, ao que é essencial. Retornar às raízes da nossa humanidade e aos valores universais que nos ligam um ao outro. E temos de desejar avidamente e buscar incansavelmente esses valores como se fossem um novo smartphone, uma Fitbit ou um novo videogame.
Imagine o poder por trás do simples ato de conhecer outras pessoas diferentes de nós próprios – e nos comunicarmos com alguém de uma religião ou cultura diferentes da nossa. Como seria imensa a compreensão e a compaixão se nos colocássemos no lugar do outro.
Amor de mãe. Sou árabe e muçulmana, mãe de quatro filhos, mas vi com simpatia e aplaudi as ações de Toya Graham, uma mãe negra, quando ela arrancou seu filho dos tumultos em Baltimore e o obrigou a voltar para casa. Sei que não foi a única. O amor de uma mãe é o mesmo em qualquer cultura, religião ou língua. Por acaso Toya é diferente de Ghada, de 40 anos, uma mãe síria de cinco meninas e dois meninos? Seu marido foi morto por um franco atirador, a casa de seus sogros foi saqueada e queimada, suas filhas ameaçadas de estupro e morte e com os serviços de segurança atrás, ela fugiu com seus filhos. No meio da noite, temendo que a luz da lua os delatasse, ela vagou por terrenos acidentados e montanhosos carregando o filho mais novo e o que podia de haveres, até alcançar a fronteira jordaniana. O amor de uma mãe é o mesmo em qualquer cultura, religião ou língua.
É no momento em que pensamos que "este poderia ser meu filho" que começamos a nos identificar com os outros e com as esperanças e temores recíprocos. É o impulso que nos leva a assumir a responsabilidade pelo bem-estar recíproco. Esta é a essência da cidadania global e do que significa viver num mundo interdependente: sermos capazes de depender um do outro.
Mas, em algum lugar em nosso mundo que avança velozmente, repleto dos mais recentes gadgets que se tornaram supostos símbolos do "progresso", um número demasiado de pessoas esquece os valores com base nos quais nossa família global é constituída.
Então, como resolver isso? Com um aplicativo chamado "Moralidade", que clicamos diariamente para nos lembrarmos de ser honestos, amáveis e generosos? Ou com um "Valuebit" que colocamos em nosso pulso para contar os pontos de integridade, amor e perdão? Que tal parar, colocar de lado os dispositivos, olhar e ouvir nossos corações e nossas consciências? Nada de muita "conectividade", somente nos conectarmos um com o outro. E se este progresso moral avançar no mesmo ritmo do progresso tecnológico, este será, de fato, o real progresso.
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"A civilização não tem como finalidade o progresso das máquinas; mas, sim o do homem.", afirmou Alexis Carrel, cirurgião, fisiologista, biólogo e sociólogo, na década de 1930. Nossa! Para que ir buscar uma afirmação feita há oito décadas? Para compará-la com uma feita há menos de dois meses. "Qual é o benefício do progresso tecnológico sem o progresso moral?", pergunta a rainha da Jordânia, no artigo que provocou esta postagem. Pergunta que ela mesma responde com a seguinte afirmação: "nada mais que uma ilusão de progresso". E sendo uma ilusão de progresso, o que fazer para obter um progresso real? E é ainda a rainha quem responde: "Para um progresso real e duradouro precisamos voltar atrás, ao que é essencial. Retornar às raízes da nossa humanidade e aos valores universais que nos ligam um ao outro."
"Retornar aos valores universais que nos ligam um ao outro.", afirma a rainha Rania Al-Abdullah. "Como seria imensa a compreensão e a compaixão se nos colocássemos no lugar do outro.", é ainda ela quem afirma, e sou eu quem grifa o final da afirmação. E é como uma sugestão de como nos colocarmos no lugar do outro que eu interpreto as palavras finais do artigo atribuído à rainha:
"Que tal parar, colocar de lado os dispositivos, olhar e ouvir nossos corações e nossas consciências? Nada de muita 'conectividade', somente nos conectarmos um com o outro. E se este progresso moral avançar no mesmo ritmo do progresso tecnológico, este será, de fato, o real progresso."
Colocar-se no lugar do outro! Será essa uma condição imprescindível para o real progresso; para um progresso que não seja esse ilusório focalizado pela rainha em seu excelente artigo? O que vocês acham?

Um comentário:

Anônimo disse...

vapo vapo é os guri hahaha