Interessante demais para deixar de ser espalhado, segue o artigo
atribuído a Rania Al-Abdullah - rainha da Jordânia - mencionado no
antepenúltimo parágrafo da postagem anterior. Com o título O avanço da tecnologia, ele foi publicado na edição de 10 de maio
de 2015 do jornal O Estado de S. Paulo.
A tradução é de Terezinha Martino. Segundo a Wikipédia, Rania Al-Abdullah é conhecida por ser uma grande
defensora de trabalhos relacionados à educação, à saúde, à economia e diálogos
interculturais.
O avanço da tecnologia
O benefício do desenvolvimento tecnológico sem o progresso moral é apenas uma ilusão
Árvores luminescentes
plantadas nas calçadas para substituir lâmpadas de rua. Encanamentos de água
que monitoram os próprios vazamentos. Braços biônicos comandados pela mente.
Proteções bucais que detectam comoções cerebrais. Carros que dispensam
motorista. Essas são algumas tecnologias que se tornarão mais comuns nos
próximos dez anos. E não há dúvida de que o ritmo das inovações deve acelerar
vertiginosamente à medida que as mentes mais criativas do mundo procurem
satisfazer as demandas de nosso apetite insaciável por avanços e um estilo de
vida instantâneo, mais rápido, mais barato, mais fácil e melhor –
independentemente do que "melhor"
possa significar.
Mas quando refletimos sobre o que serão os próximos dez anos devemos
nos perguntar: qual é o benefício oferecido por essas tecnologias se elas não
podem ser compartilhadas e desfrutadas por todos – especialmente pelas pessoas
ou nações que mais necessitam delas? Ou se a falta de segurança e estabilidade
impede as pessoas de terem acesso? Em outras palavras, qual é o benefício do
progresso tecnológico sem o progresso moral? Resposta: nada mais que uma ilusão
de progresso.
Neste exato momento na
minha região, o Oriente Médio, homens são decapitados por bruxaria enquanto
crianças são forçadas a assistir. Mulheres são escravizadas e abusadas por
pertencer a "outra"
religião. Cerca de 5 milhões de crianças não frequentam a escola, ignorantes
quanto ao seu futuro e o futuro de sua região.
Em outros lugares, as
cenas revoltantes em Ferguson e Baltimore nos lembram que embaixo da superfície
– e muitas vezes acima dela – a injustiça e o preconceito estão em ebulição nos
Estados Unidos. Vimos a intolerância religiosa se manifestar nos massacres no
Quênia.
Ainda este ano, mil refugiados em busca de uma vida melhor morreram
afogados, em parte por causa da indiferença da comunidade global quanto às suas
aflições. Enquanto o progresso for exclusivo e não inclusivo, compartilhado por
alguns e não por todos, veremos mais incidentes como esses. E veremos cada vez
mais lobos solitários e grupos terroristas como Estado Islâmico, Al-Shabab e
Boko Haram alimentando o sentimento de injustiça das populações e buscando
satisfação deturpada.
Para um progresso real e duradouro precisamos voltar atrás, ao que é
essencial. Retornar às raízes da nossa humanidade e aos valores universais que
nos ligam um ao outro. E temos de desejar avidamente e buscar incansavelmente
esses valores como se fossem um novo smartphone, uma Fitbit ou um novo
videogame.
Imagine o poder por trás do simples ato de conhecer outras pessoas
diferentes de nós próprios – e nos comunicarmos com alguém de uma religião ou
cultura diferentes da nossa. Como seria imensa a compreensão e a compaixão se
nos colocássemos no lugar do outro.
Amor de mãe. Sou árabe e muçulmana, mãe de quatro filhos, mas vi com simpatia e
aplaudi as ações de Toya Graham, uma mãe negra, quando ela arrancou seu filho
dos tumultos em Baltimore e o obrigou a voltar para casa. Sei que não foi a
única. O amor de uma mãe é o mesmo em qualquer cultura, religião ou língua. Por
acaso Toya é diferente de Ghada, de 40 anos, uma mãe síria de cinco meninas e
dois meninos? Seu marido foi morto por um franco atirador, a casa de seus
sogros foi saqueada e queimada, suas filhas ameaçadas de estupro e morte e com
os serviços de segurança atrás, ela fugiu com seus filhos. No meio da noite,
temendo que a luz da lua os delatasse, ela vagou por terrenos acidentados e
montanhosos carregando o filho mais novo e o que podia de haveres, até alcançar
a fronteira jordaniana. O amor de uma mãe é o mesmo em qualquer cultura,
religião ou língua.
É no momento em que pensamos que "este poderia ser meu filho"
que começamos a nos identificar com os outros e com as esperanças e temores
recíprocos. É o impulso que nos leva a assumir a responsabilidade pelo
bem-estar recíproco. Esta é a essência da cidadania global e do que significa
viver num mundo interdependente: sermos capazes de depender um do outro.
Mas, em algum lugar em nosso mundo que avança velozmente, repleto dos
mais recentes gadgets que se tornaram supostos símbolos do
"progresso", um número demasiado de pessoas esquece os valores com
base nos quais nossa família global é constituída.
Então, como resolver isso? Com um aplicativo chamado
"Moralidade", que clicamos diariamente para nos lembrarmos de ser
honestos, amáveis e generosos? Ou com um "Valuebit" que colocamos em
nosso pulso para contar os pontos de integridade, amor e perdão? Que tal parar,
colocar de lado os dispositivos, olhar e ouvir nossos corações e nossas
consciências? Nada de muita "conectividade", somente nos conectarmos
um com o outro. E se este progresso moral avançar no mesmo ritmo do progresso
tecnológico, este será, de fato, o real progresso.
*************
"A civilização não tem como finalidade o progresso das
máquinas; mas, sim o do homem.", afirmou Alexis Carrel, cirurgião,
fisiologista, biólogo e sociólogo, na década de 1930. Nossa! Para que ir buscar
uma afirmação feita há oito décadas? Para compará-la com uma feita há menos de
dois meses. "Qual é o benefício do progresso
tecnológico sem o progresso moral?", pergunta a rainha da Jordânia, no artigo
que provocou esta postagem. Pergunta que ela mesma responde com a seguinte
afirmação: "nada mais que uma ilusão de progresso". E sendo uma
ilusão de progresso, o que fazer para obter um progresso real? E é ainda a
rainha quem responde: "Para um progresso
real e duradouro precisamos voltar atrás, ao que é essencial. Retornar às
raízes da nossa humanidade e aos valores universais que nos ligam um ao outro."
"Retornar aos valores universais que nos
ligam um ao outro.", afirma a rainha Rania Al-Abdullah. "Como seria imensa a compreensão e a
compaixão se nos colocássemos no lugar do outro.", é ainda ela quem afirma, e sou eu quem grifa o final da
afirmação. E é como uma sugestão de como nos colocarmos no lugar do outro que
eu interpreto as palavras finais do artigo atribuído à rainha:
"Que tal parar, colocar de lado os dispositivos, olhar e ouvir nossos corações e nossas consciências? Nada de muita 'conectividade', somente nos conectarmos um com o outro. E se este progresso moral avançar no mesmo ritmo do progresso tecnológico, este será, de fato, o real progresso."
Colocar-se no lugar do outro! Será essa uma
condição imprescindível para o real progresso; para um progresso que não seja
esse ilusório focalizado pela rainha em seu excelente artigo? O que vocês
acham?
Um comentário:
vapo vapo é os guri hahaha
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