Continuação de sexta-feira
Você também diz que é comum transferir a
autoestima para o que os outros pensam, e que nos tornamos dependentes disso.
Sim, principalmente se você não tem uma
comunidade de pessoas com quem possa dividir suas histórias. Nessas situações,
você acaba caindo no conto da publicidade e da TV, mostrando vidas perfeitas,
quando, na verdade, estamos todos em conflitos constantes.
Como sair disso?
É importante construir um network – de uma ou
duas pessoas que realmente se importam com você. Que gostam de você não porque
suportam seus defeitos e vulnerabilidades, mas gostam justamente por causa
deles. Pessoas com quem você possa ser você mesmo. E ter muito claro que
opinião realmente é importante. Quando minha carreira decolou, recebi um monte
de mensagens maravilhosas e também algumas críticas. E escolhi me focar nas
pessoas que eu amo, não nas resenhas boas ou ruins. Essa foi uma ótima escolha,
porque são as pessoas que querem minha autoestima, que ficam felizes quando
tenho êxito em algo. Portanto, há três ou quatro pessoas cujas opiniões eu
deixo que me influenciem.
Por isso você fala tanto em compaixão?
Sim, porque não acho que podemos ter compaixão
por outros se não tivermos compaixão por nós mesmos. Somos tão duros conosco, e
a cultura midiática vende isso tão bem... um julgamento constante. É só avaliar
o índice de cirurgias plásticas, tanto nos EUA como no Brasil. Somos os líderes
nesse pesadelo (risos). Passamos
tanto tempo nos sentindo os piores, que não sobra para dar a outros, entende.
Você faz a diferenciação entre compaixão e
empatia.
Na minha visão, empatia é um conjunto de
habilidades. Compaixão é uma crença e uma visão de mundo. Compaixão é algo tão
profundo que, quando alguém próximo de nós sofre, sofremos junto. Empatia é a
maneira pela qual praticamos compaixão.
"Empatia é a maneira pela
qual praticamos compaixão"
E a comiseração?
É péssimo, porque é pena. Empatia cura a
vergonha, já comiseração ajuda a alimentá-la.
Outro aspecto que você levanta em suas
discussões é sobre o perfeccionismo ser um grande mecanismo de defesa. O que
quer dizer com isso?
Não acho que sejamos escravos do
perfeccionismo. O que realmente pensamos é que, se fizermos as coisas
perfeitamente, vivermos de acordo com o que é correto, se trabalharmos de maneira
perfeita, poderemos minimizar ou evitar situações de vergonha, culpa,
julgamentos e críticas. Ou seja, quanto mais perfeito eu for, menos vou sofrer
e me machucar. A triste realidade é que, nesse contexto, ninguém nos enxerga de
verdade. Ninguém nos ama. É um cenário realmente exaustivo.
Você observou, em sua pesquisa, muitos que
passam por essa situação?
A grande maioria, sim. Acho que quem consegue
não ceder a essas situações está tentando minimizá-las o tempo todo. Acontece
comigo, por exemplo. Quando dou uma conferência para um público de
pesquisadores, psicólogos ou qualquer um que, por uma razão ou outra, possa
julgar meu trabalho, eu mudo de postura. Coloco uma espécie de máscara. Evito
contar minhas histórias pessoais, ser engraçada, tento usar uma linguagem bem
clínica. Tudo isso para me proteger. É nesse tipo de situação que tenho de
fazer uma escolha consciente de ser eu mesma.
Isso não é utópico? Podemos aceitar as
imperfeições, mas como se encaixar em um universo em que todos julgam o tempo
todo?
A maneira de compartilhar as coisas é
imperfeita. Você cria identificação quando assume suas imperfeições. Na questão
do julgamento, acredito que só julgamos coisas com as quais temos alguma
suscetibilidade de nos sentir envergonhados. Não é uma regra, mas observamos
que pessoas que estão bem resolvidas com seu corpo tendem a ser menos críticas
com o corpo dos outros. E por aí vai. Isso vale para maternidade, trabalho e
outras situações.
Falando de gênero, acredita que as mulheres
passam por mais situações suscetíveis à vergonha do que os homens?
De jeito nenhum. São apenas situações
diferentes. Digamos que homens e mulheres têm a mesma quantidade de conflitos
com relação à vergonha. O que acontece é que a mensagem e as expectativas que
circunscrevem esses conflitos são organizados por gêneros. A questão para a
mulher é fazer tudo perfeitamente e parecer linda fazendo isso. Não é apenas
questão de ser perfeita, mas de passar a ideia de que está se desdobrando em
mil com a maior facilidade do mundo. Isso é impossível.
Como é essa divisão?
Para os homens, é difícil mostrar emoções e
vulnerabilidade. Na minha pesquisa, muitos homens se mostram com vergonha de
assuntos que têm relação com dinheiro e status profissional. No caso das
mulheres, sempre surgem inseguranças com a aparência e a imagem do corpo. Além
de muitos casamentos que têm alianças frágeis, tipo "eu continuo bonita e
você continua ganhando bem". Mulheres envelhecem, homens perdem seus
empregos, isso faz parte da vida.
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A entrevista concedida pela pesquisadora Brené Brown dá o que
pensar!
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