quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Reflexões provocadas por "Investimos pouco tempo nas relações que realmente importam"

"Na minha visão, empatia é um conjunto de habilidades. Compaixão é uma crença e uma visão de mundo. Compaixão é algo tão profundo que, quando alguém próximo de nós sofre, sofremos junto. Empatia é a maneira pela qual praticamos compaixão.", diz a pesquisadora Brené Brown em entrevista espalhada pelas duas postagens anteriores.
Empatia e compaixão, eis as palavras que, por aparecerem também na entrevista com o filósofo Roman Krznaric que fora espalhada neste blog, provocaram a vontade de espalhar também a entrevista com Brené Brown. O parágrafo abaixo repete o que foi dito por Krznaric sobre empatia e compaixão, em tal entrevista.
"Temos a tendência a sentir compaixão uns pelos outros. Somos criaturas empáticas. Há estudos que mostram que compaixão dá prazer." Diante da pergunta O senhor diz que a "empatia", no sentido de compaixão, é algo capaz de criar uma revolução. Poderia explicar?, Krznaric responde: "A ideia de empatia é, para mim, o ato de "calçar os sapatos de outra pessoa". Olhar o mundo pela visão do outro. E, normalmente, quando pensamos nessas coisas, sempre consideramos um relacionamento entre duas pessoas. Entretanto, se olharmos a história, em todo o mundo, vemos que movimentos de empatia coletiva tiveram momentos de grande êxito. (...) As pessoas podem agir juntas. Fazendo esse exercício de se colocar no lugar do outro, é possível, sim, mudar o mundo.".
Empatia e compaixão, eis o traço de união entre as duas referidas entrevistas. Entrevistas nas quais existem afirmações que podem sugerir contradição entre o que pensam os entrevistados. "Nós não conversamos com quem não conhecemos. (...) Ficamos muito tempo com pessoas que são como nós.", afirma Roman Krznaric. "Passamos muito tempo nos comunicando com estranhos e pouco tempo investindo nas relações que realmente importam.", afirma Brené Brown. Afinal, com quem ocupamos a maior parte de nosso tempo?
"Nós não conversamos com quem não conhecemos", é uma afirmação com a qual concordo, até porque nesta insana civilização (sic) individualista na qual sobrevivemos não é apenas com quem não conhecemos que não conversamos, e sim com quase todos, pois conversar é algo que poucos fazem. O que a imensa maioria faz é apenas falar. O pior é que conversar é uma das necessidades humanas, conforme procuro demonstrar em uma postagem intitulada A necessidade de conversar, publicada em 31 de maio de 2011.
"Ficamos muito tempo com pessoas que são como nós.", afirma Roman Krznaric. Será? Será que nesta civilização deslumbrada com telinhas de aparelhos eletrônicos inteligentes podemos afirmar que ficamos muito tempo com algum tipo de pessoa? Será que ficar com pessoas tem algo a ver com conviver? Será que nesta civilização fascinada pela velocidade, onde a cada dia há mais contatos e menos convívio, faz sentido afirmar que ficamos muito tempo com algum tipo de pessoa? O que vocês acham?
"Passamos muito tempo nos comunicando com estranhos e pouco tempo investindo nas relações que realmente importam.", afirma Brené Brown. E sobre comunicação ela diz o seguinte. "É muito importante não confundir comunicação e conexão. Facebook, Twitter, e-mails etc. nos ajudam na comunicação. Entretanto, essas ferramentas nem sempre ajudam a criar vínculos verdadeiros entre as pessoas. Relações de verdade exigem vulnerabilidade."
Sim, "relações de verdade exigem vulnerabilidade." E relações de verdade são as que realmente importam. Ou seja, relações que realmente importam exigem vulnerabilidade. Vulnerabilidade, eis a questão. Eis o que mudou radicalmente a carreira da pesquisadora Brené Brown, segundo o que é dito no primeiro parágrafo da reportagem-entrevista e repetido neste final de parágrafo. "Depois de uma palestra intitulada O Poder da Vulnerabilidade, ministrada em 2010, em Houston, EUA, a convite da fundação americana TED (Technology, Entertainment, Design), ela tornou-se fenômeno mundial com mais de 13 milhões de visualizações só no site da organização".
"Vulnerabilidade, incertezas, riscos, exposição emocional são os lugares de nascimento do amor, da intimidade e da confiança.", diz Brené Brown em sua entrevista. E aí eu pergunto: Será possível estabelecer relações que realmente importem sem antes terem ocorrido os nascimentos do amor, da intimidade e da confiança? O que vocês acham?
"É importante construir um network – de uma ou duas pessoas que realmente se importam com você. Que gostam de você não porque suportam seus defeitos e vulnerabilidades, mas gostam justamente por causa deles. Pessoas com quem você possa ser você mesmo.", diz Brené Brown. Pessoas com quem você possa ser você mesmo, pois de hipocrisia e falsidade este planeta já está saturado, digo eu.
"Não acho que podemos ter compaixão por outros se não tivermos compaixão por nós mesmos. Somos tão duros conosco, e a cultura midiática vende isso tão bem... um julgamento constante. É só avaliar o índice de cirurgias plásticas, tanto nos EUA como no Brasil. (...) Passamos tanto tempo nos sentindo os piores, que não sobra tempo para dar a outros.", diz Brené Brown.
Sim, estimulados pela "cultura midiática, passamos tanto tempo nos sentindo os piores", que passamos a ansiar ser como aqueles por ela estabelecidos como modelos a serem imitados; modelos sabe Deus de quê. E é na condição de imitadores que a paradoxal atitude de ter compaixão por nós mesmos passa a fazer sentido. Afinal, se (conforme um conhecido dicionário) compaixão é o pesar que em nós desperta a infelicidade, a dor, o mal de outrem, faz sentido tê-la em relação a nós mesmos? Em condições normais não, mas a partir do momento em que nos tornamos imitadores de modelos e automaticamente (e põe automaticamente nisso!) deixamos de sermos nós mesmos, ter compaixão por nós mesmos passa a fazer bastante sentido. E haja compaixão!
Sim, investimos pouco tempo nas relações que realmente importam, pois o desenvolvimento de tais relações "exige tempo, abertura emocional para escutar e atenção e, acima de tudo, a aceitação de situações de vulnerabilidade". Aceitação que requer a existência de um ambiente onde reinem "o amor, a intimidade e a confiança", para que cada um possa compartilhar suas vulnerabilidades, não com todos ou qualquer um, mas com aqueles capazes de entendê-las, de ajudar a lidar melhor com elas e talvez até mesmo de conseguir superá-las.  
Sim, investimos pouco tempo nas relações que realmente importam, porque tal investimento requer de nós a disposição para insistir em sermos nós mesmos. Disposição imprescindível durante toda a nossa vida, conforme nos alerta e. e. cummings (em minúsculas, como o poeta assinava) em uma citação usada como ilustração no blog e repetida a seguir. "Ser apenas você mesmo, em um mundo que se esforça ao máximo para torná-lo igual a todos os outros - significa enfrentar a mais árdua batalha que um ser humano pode enfrentar, sem jamais poder abandoná-la."
Se, tendo vivido entre 1894 e 1962, Edward Estlin Cummings já alertava para a dificuldade de sermos apenas nós mesmos, vocês imaginam como ele se sentiria hoje diante das atuais redes sociais? Redes sociais que, da forma como são usadas, tanto contribuem para a padronização de comportamento da imensa maioria dos integrantes da dita espécie inteligente do Universo. Redes sociais que, segundo a pesquisadora Brené Brown, é um dos fatores que contribuem para o enfraquecimento de vínculos verdadeiros, ou seja, da possibilidade de estabelecer relações que realmente importam.
"Com a finalidade de evitar mal-entendidos, começo dizendo que não sou contra o uso de redes sociais. Aliás, não sou contra a maioria das coisas que são inventadas e sim contra o uso que se faz de muitas delas. Para tudo o que existe é o uso que define se é algo bom ou ruim."
É com o parágrafo acima que eu começo uma postagem intitulada Redes sociais (I), publicada em 2 de junho de 2011.
Vocês acham que investimos pouco nas relações que realmente importam?

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