Nesta postagem cujo título começa com a
palavra esclarecimentos, o primeiro
deles é sobre a que comentário o título se refere. Afinal, não há no blog
comentário algum sobre a postagem anterior. Não, ele não é fruto da minha
imaginação, e sim de um e-mail recebido de um dos integrantes de uma lista de
destinatários composta de amigos que preferem receber as postagens por e-mail
em vez de lê-las no blog. Dito isto, creio que esteja esclarecido a que
comentário o título se refere. Considerando que podem
existir pessoas com opiniões parecidas com a do autor do comentário, em
conversa com ele solicitei-lhe permissão para publicar o seu comentário seguido
por alguns esclarecimentos. Os grifos são do autor do comentário.
*************
Prezado Guedes,
É sempre uma satisfação
enorme receber suas postagens, mas dessa vez vou ser obrigado a discordar
completamente da sua tese.
No início do século
XIX, um certo Thomas Malthus chegou a conclusão de que o mundo (ou a
humanidade) caminhava para uma catástrofe: enquanto a população crescia de
forma geométrica, a produção de alimentos tinha um crescimento aritmético. Uma
hora faltaria comida para muitos.
O que ele não poderia
prever naquela época é que a produtividade das terras aumentaria absurdamente,
em parte pelo uso de pesticidas e técnicas de cultivo, em outra pela mecanização.
Não fosse esse fato,
já teríamos chegado ao limite. A diferença para a indústria automobilística é
que essa última produz bens não indispensáveis à vida (automóveis). Pela sua
tese, deveríamos ainda estar no modo de produção do século XIX para evitar o
desemprego. Isso não faz sentido.
Ao mesmo em tempo que
empregos são destruídos pela mecanização, outros são criados. No exemplo acima,
precisamos de engenheiros que projetam as máquinas e outros para dar manutenção
nessas mesmas máquinas. Ao mesmo tempo poderão ser construídas novas fábricas
para produzir as máquinas que auxiliam na construção dos carros. E assim
sucessivamente.
O que realmente vai
sofrer forte redução será o emprego com atividades mecânicas e repetitivas, ao
contrário de empregos baseados no conhecimento e no uso das habilidades
intelectuais de cada um. Isso é inevitável.
Hoje temos 7 bilhões
de pessoas no planeta. A continuar com o uso e destruição dos recursos naturais
conforme o presente, não teremos como evitar o esgotamento. Parece que a
questão aqui é muito mais a maneira como consumimos e pensamos a vida, como
acumulamos coisas supérfluas, do que propriamente a globalização e a escassez
de empregos.
Sempre haverá
empregos, mas não os mesmos de tempos atrás. Os países que perceberam esse fato
continuam e continuarão à frente. O que garantirá a empregabilidade será sempre
o conhecimento... Estamos mal muito mais pela nossa incompetência do que por
força da globalização. Muito mais pela desunião e prostração das massas e dos
homens de bem, do que pelos políticos ineptos e corruptos.
É só mais uma
opinião....
Grande abraço,
*************
"No
início do século XIX, um certo Thomas Malthus chegou a conclusão de que o mundo
(ou a humanidade) caminhava para uma catástrofe: enquanto a população crescia
de forma geométrica, a produção de alimentos tinha um crescimento aritmético.
Uma hora faltaria comida para muitos."
Uma catástrofe que,
segundo o autor do comentário, só não ocorreu devido a algo que um certo (ou
seria um errado?) Thomas Malthus não pudera prever: o absurdo aumento da
produtividade das terras. Absurdo aumento originado por três fatores: o uso de
pesticidas, de novas técnicas de cultivo e a mecanização. E por apresentá-la grifada,
creio que, para o autor do comentário, a mecanização seja o principal fator
responsável pelo aumento da produtividade.
Mecanização e aumento
da produtividade, eis os alardeados remédios para todos os males que
afligem a dita espécie inteligente do Universo. Remédios que, segundo o
comentário, são por mim rejeitados, conforme demonstra o seguinte trecho: "Pela sua tese, deveríamos ainda estar no modo de produção do
século XIX para evitar o desemprego. Isso não faz sentido.". Deixando para
mais adiante a "defesa da minha tese", focalizemos antes outros
argumentos apresentados em defesa da mecanização que leva ao aumento da produtividade.
"Ao mesmo
tempo em que empregos são destruídos pela mecanização, outros são criados. (...)
precisamos de engenheiros que projetam as máquinas e outros para dar manutenção
nessas mesmas máquinas. Ao mesmo tempo poderão ser construídas novas fábricas
para produzir as máquinas que auxiliam na construção dos carros. E assim
sucessivamente. ... O que realmente vai sofrer forte redução será o emprego com
atividades mecânicas e repetitivas, ao contrário de empregos baseados no
conhecimento e no uso das habilidades intelectuais de cada um. Isso é inevitável."
E assim sucessivamente. ... Será que é bem assim? Não, não é.
Hoje, segundo o que tenho lido, já existem máquinas dando manutenção em
máquinas. Não, não é apenas em atividades
mecânicas e repetitivas que a mecanização
está sendo aplicada. Algum (a) de vocês, ao ligar para alguma concessionária de
serviços, já foi atendido (a) por um atendente virtual? Creio que sim. No Japão, já existem robôs
com aparência feminina trabalhando como recepcionistas em lojas de
departamento. E ainda no Japão, está prevista para julho deste ano a anunciada
abertura de um hotel gerido majoritariamente por robôs com feições humanas. Ou
seja, indo além da aplicação em atividades
mecânicas e repetitivas, a mecanização
já abrange atividades que envolvem essencialmente interações humanas. Confirmar
o que acabo de dizer é algo que pode ser feito facilmente pela internet.
Dito isto, creio já
ser possível dizer algo em prol da "defesa da minha tese". Não, não creio que "deveríamos ainda estar
no modo de produção do século XIX para evitar o desemprego", como é afirmado em um trecho do comentário. Não, não sou contra
toda e qualquer mecanização, e sim sobre a mecanização geral e irrestrita de
toda e qualquer atividade que pode ser desempenhada por seres humanos. Sou
inteiramente a favor da mecanização
de atividades mecânicas, mas inteiramente
contra a mecanização de atividades que nada têm de mecânicas e que tudo têm de
interações humanas. Hospedar-me em hotéis onde o atendimento é feito por robôs,
e roboas, é algo que jamais me
seduzirá. Mas que pelo andar da carruagem (provavelmente conduzida por robôs)
talvez isso seja
inevitável, não é mesmo?
"Sempre
haverá empregos, mas não os mesmos de tempos atrás. (...) O que garantirá a
empregabilidade será sempre o conhecimento...", é uma afirmação feita no comentário.
"Sempre haverá empregos, (...) O que garantirá a empregabilidade
será sempre o conhecimento...." Sei não. Há controvérsias! Vejam a pérola
que encontrei em um artigo intitulado Rompendo
os velhos pactos, publicado na edição de 13 de agosto de 2001 do Jornal do Brasil, na coluna do saudoso
Gilberto Dupas. "Há poucos dias o presidente do Federal
Reserve Bank of Dallas, Robert MacTeer Jr, ironizou: a manter-se o ritmo atual
de automação, a fábrica do futuro terá apenas dois empregados, um homem e um
cachorro. O homem alimentará o animal; este, por sua vez, garantirá que ele não
toque nos equipamentos."
Não (se o presidente do Federal Reserve Bank of Dallas estiver
certo), não haverá empregos sempre. E para os poucos que ainda existirem, ao
contrário da opinião do autor do comentário, o que garantirá a empregabilidade
não será sempre o conhecimento, e sim a habilidade de conseguir relacionar-se bem com
cachorros.
Agradecendo ao autor do comentário pela permissão para usá-lo com
a finalidade de tentar esclarecer o que ele denominou "minha tese",
ficarei por aqui, pois esta postagem já ultrapassou o tamanho aceitável pela
maioria das pessoas que ainda se dispõem a ler alguma coisa. Acreditando que a
próxima postagem seja capaz de oferecer outros esclarecimentos, para ser o último parágrafo desta, escolhi um
trecho de O último discurso,
proferido no filme O grande ditador (de
1940), do genial Charles Chaplin. Sim, é do século passado, mas,
a partir da frase negritada, considero que seja eterna a validade das palavras de Chaplin. Os grifos são meus.
"A máquina, que produz abundância,
tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa
inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos
em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de
máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de
afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo
será perdido."
E o parágrafo acima acabou não sendo o último, hein! Por quê?
Porque a afirmação "Mais do que de máquinas, precisamos de
humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura.", induz a mais
um esclarecimento: porque apesar de tanta mecanização e de tanta inteligência,
a comida ainda falta para muitos. "Porque sem humanidade e sem afeição",
mesmo que a capacidade de produzir alimentos seja suficiente para alimentar toda
a população do planeta, a fome persistirá. Por quê? Porque a causa principal da
falta de comida para muitos dos inquilinos deste planeta é o insaciável apetite
por lucros financeiros dos relativamente poucos que dele se consideram donos. Vocês
lembram de alguma notícia mais ou menos assim? Devido a uma produção além da
expectativa, os produtores de ....... destruíram parte da safra para elevar o
preço? E mesmo assim ainda há quem acredite que a erradicação da fome dar-se-á
pelo aumento de produtividade propiciado pela mecanização!
"Mais do que de
máquinas e de inteligência, precisamos de humanidade, de afeição e de doçura,
pois sem essas virtudes, a vida será de violência e
tudo será perdido.", diz Charles Chaplin, ator, diretor, roteirista, ...,
profeta e orientador de teses. Sim, orientador de teses, pois se a postagem
anterior for considerada uma tese (o autor do comentário refere-se a ela como "Pela
sua tese, ..."), Chaplin terá que ser incluído entre os que nela me
orientaram. Nossa! Que postagem difícil de terminar! Será que, pelo menos,
consegui esclarecer alguma coisa?
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