domingo, 21 de junho de 2015

Esclarecimentos provocados por comentário sobre a postagem anterior

Nesta postagem cujo título começa com a palavra esclarecimentos, o primeiro deles é sobre a que comentário o título se refere. Afinal, não há no blog comentário algum sobre a postagem anterior. Não, ele não é fruto da minha imaginação, e sim de um e-mail recebido de um dos integrantes de uma lista de destinatários composta de amigos que preferem receber as postagens por e-mail em vez de lê-las no blog. Dito isto, creio que esteja esclarecido a que comentário o título se refere. Considerando que podem existir pessoas com opiniões parecidas com a do autor do comentário, em conversa com ele solicitei-lhe permissão para publicar o seu comentário seguido por alguns esclarecimentos. Os grifos são do autor do comentário.
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Prezado Guedes,
É sempre uma satisfação enorme receber suas postagens, mas dessa vez vou ser obrigado a discordar completamente da sua tese.
No início do século XIX, um certo Thomas Malthus chegou a conclusão de que o mundo (ou a humanidade) caminhava para uma catástrofe: enquanto a população crescia de forma geométrica, a produção de alimentos tinha um crescimento aritmético. Uma hora faltaria comida para muitos.
O que ele não poderia prever naquela época é que a produtividade das terras aumentaria absurdamente, em parte pelo uso de pesticidas e técnicas de cultivo, em outra pela mecanização.
Não fosse esse fato, já teríamos chegado ao limite. A diferença para a indústria automobilística é que essa última produz bens não indispensáveis à vida (automóveis). Pela sua tese, deveríamos ainda estar no modo de produção do século XIX para evitar o desemprego. Isso não faz sentido.
Ao mesmo em tempo que empregos são destruídos pela mecanização, outros são criados. No exemplo acima, precisamos de engenheiros que projetam as máquinas e outros para dar manutenção nessas mesmas máquinas. Ao mesmo tempo poderão ser construídas novas fábricas para produzir as máquinas que auxiliam na construção dos carros. E assim sucessivamente.
O que realmente vai sofrer forte redução será o emprego com atividades mecânicas e repetitivas, ao contrário de empregos baseados no conhecimento e no uso das habilidades intelectuais de cada um. Isso é inevitável.
Hoje temos 7 bilhões de pessoas no planeta. A continuar com o uso e destruição dos recursos naturais conforme o presente, não teremos como evitar o esgotamento. Parece que a questão aqui é muito mais a maneira como consumimos e pensamos a vida, como acumulamos coisas supérfluas, do que propriamente a globalização e a escassez de empregos.
Sempre haverá empregos, mas não os mesmos de tempos atrás. Os países que perceberam esse fato continuam e continuarão à frente. O que garantirá a empregabilidade será sempre o conhecimento... Estamos mal muito mais pela nossa incompetência do que por força da globalização. Muito mais pela desunião e prostração das massas e dos homens de bem, do que pelos políticos ineptos e corruptos.
É só mais uma opinião....
Grande abraço,
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"No início do século XIX, um certo Thomas Malthus chegou a conclusão de que o mundo (ou a humanidade) caminhava para uma catástrofe: enquanto a população crescia de forma geométrica, a produção de alimentos tinha um crescimento aritmético. Uma hora faltaria comida para muitos."
Uma catástrofe que, segundo o autor do comentário, só não ocorreu devido a algo que um certo (ou seria um errado?) Thomas Malthus não pudera prever: o absurdo aumento da produtividade das terras. Absurdo aumento originado por três fatores: o uso de pesticidas, de novas técnicas de cultivo e a mecanização. E por apresentá-la grifada, creio que, para o autor do comentário, a mecanização seja o principal fator responsável pelo aumento da produtividade.
Mecanização e aumento da produtividade, eis os alardeados remédios para todos os males que afligem a dita espécie inteligente do Universo. Remédios que, segundo o comentário, são por mim rejeitados, conforme demonstra o seguinte trecho: "Pela sua tese, deveríamos ainda estar no modo de produção do século XIX para evitar o desemprego. Isso não faz sentido.". Deixando para mais adiante a "defesa da minha tese", focalizemos antes outros argumentos apresentados em defesa da mecanização que leva ao aumento da produtividade.
"Ao mesmo tempo em que empregos são destruídos pela mecanização, outros são criados. (...) precisamos de engenheiros que projetam as máquinas e outros para dar manutenção nessas mesmas máquinas. Ao mesmo tempo poderão ser construídas novas fábricas para produzir as máquinas que auxiliam na construção dos carros. E assim sucessivamente. ... O que realmente vai sofrer forte redução será o emprego com atividades mecânicas e repetitivas, ao contrário de empregos baseados no conhecimento e no uso das habilidades intelectuais de cada um. Isso é inevitável."
E assim sucessivamente. ... Será que é bem assim? Não, não é. Hoje, segundo o que tenho lido, já existem máquinas dando manutenção em máquinas. Não, não é apenas em atividades mecânicas e repetitivas que a mecanização está sendo aplicada. Algum (a) de vocês, ao ligar para alguma concessionária de serviços, já foi atendido (a) por um atendente virtual? Creio que sim. No Japão, já existem robôs com aparência feminina trabalhando como recepcionistas em lojas de departamento. E ainda no Japão, está prevista para julho deste ano a anunciada abertura de um hotel gerido majoritariamente por robôs com feições humanas. Ou seja, indo além da aplicação em atividades mecânicas e repetitivas, a mecanização já abrange atividades que envolvem essencialmente interações humanas. Confirmar o que acabo de dizer é algo que pode ser feito facilmente pela internet.
Dito isto, creio já ser possível dizer algo em prol da "defesa da minha tese". Não, não creio que "deveríamos ainda estar no modo de produção do século XIX para evitar o desemprego", como é afirmado em um trecho do comentário. Não, não sou contra toda e qualquer mecanização, e sim sobre a mecanização geral e irrestrita de toda e qualquer atividade que pode ser desempenhada por seres humanos. Sou inteiramente a favor da mecanização de atividades mecânicas, mas inteiramente contra a mecanização de atividades que nada têm de mecânicas e que tudo têm de interações humanas. Hospedar-me em hotéis onde o atendimento é feito por robôs, e roboas, é algo que jamais me seduzirá. Mas que pelo andar da carruagem (provavelmente conduzida por robôs) talvez isso seja inevitável, não é mesmo?
"Sempre haverá empregos, mas não os mesmos de tempos atrás. (...) O que garantirá a empregabilidade será sempre o conhecimento...", é uma afirmação feita no comentário.
"Sempre haverá empregos, (...) O que garantirá a empregabilidade será sempre o conhecimento...." Sei não. Há controvérsias! Vejam a pérola que encontrei em um artigo intitulado Rompendo os velhos pactos, publicado na edição de 13 de agosto de 2001 do Jornal do Brasil, na coluna do saudoso Gilberto Dupas. "Há poucos dias o presidente do Federal Reserve Bank of Dallas, Robert MacTeer Jr, ironizou: a manter-se o ritmo atual de automação, a fábrica do futuro terá apenas dois empregados, um homem e um cachorro. O homem alimentará o animal; este, por sua vez, garantirá que ele não toque nos equipamentos."
Não (se o presidente do Federal Reserve Bank of Dallas estiver certo), não haverá empregos sempre. E para os poucos que ainda existirem, ao contrário da opinião do autor do comentário, o que garantirá a empregabilidade não será sempre o conhecimento, e sim a habilidade de conseguir relacionar-se bem com cachorros.
Agradecendo ao autor do comentário pela permissão para usá-lo com a finalidade de tentar esclarecer o que ele denominou "minha tese", ficarei por aqui, pois esta postagem já ultrapassou o tamanho aceitável pela maioria das pessoas que ainda se dispõem a ler alguma coisa. Acreditando que a próxima postagem seja capaz de oferecer outros esclarecimentos, para ser o último parágrafo desta, escolhi um trecho de O último discurso, proferido no filme O grande ditador (de 1940), do genial Charles Chaplin. Sim, é do século passado, mas, a partir da frase negritada, considero que seja eterna a validade das palavras de Chaplin. Os grifos são meus.
"A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido."
E o parágrafo acima acabou não sendo o último, hein! Por quê? Porque a afirmação "Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura.", induz a mais um esclarecimento: porque apesar de tanta mecanização e de tanta inteligência, a comida ainda falta para muitos. "Porque sem humanidade e sem afeição", mesmo que a capacidade de produzir alimentos seja suficiente para alimentar toda a população do planeta, a fome persistirá. Por quê? Porque a causa principal da falta de comida para muitos dos inquilinos deste planeta é o insaciável apetite por lucros financeiros dos relativamente poucos que dele se consideram donos. Vocês lembram de alguma notícia mais ou menos assim? Devido a uma produção além da expectativa, os produtores de ....... destruíram parte da safra para elevar o preço? E mesmo assim ainda há quem acredite que a erradicação da fome dar-se-á pelo aumento de produtividade propiciado pela mecanização!
"Mais do que de máquinas e de inteligência, precisamos de humanidade, de afeição e de doçura, pois sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.", diz Charles Chaplin, ator, diretor, roteirista, ..., profeta e orientador de teses. Sim, orientador de teses, pois se a postagem anterior for considerada uma tese (o autor do comentário refere-se a ela como "Pela sua tese, ..."), Chaplin terá que ser incluído entre os que nela me orientaram. Nossa! Que postagem difícil de terminar! Será que, pelo menos, consegui esclarecer alguma coisa?

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