terça-feira, 26 de maio de 2015

Um exemplo de uso sórdido da persistência

"Persistir é imprescindível"! Eis a ideia escolhida para ser espalhada pela "Tricentésima postagem". O porquê da escolha? A comprovada eficácia da persistência na concretização de objetivos. Eficácia comprovada, principalmente, na concretização de objetivos deploráveis. Vocês já perceberam o quão persistentes são as variadas instituições inescrupulosas que para atingir seus sórdidos objetivos ferram (para não usar um verbo mais contundente) a maioria da população deste planeta?
Antes que alguém pense em acusar-me de plágio (ao reconhecer o parágrafo acima como algo lido em outro lugar), espontaneamente confessarei de onde o copiei: do penúltimo parágrafo de "Tricentésima postagem" ou "Persistir é imprescindível". Pois é. Neste blog onde a maioria das postagens tem alguma relação com a (s) anterior (es), o penúltimo parágrafo de uma pode perfeitamente reaparecer como o primeiro de outra. Sendo assim, após duas postagens alusivas ao Dia do Silêncio, eis-me de volta ao tema persistência. De volta para espalhar um texto focalizando um recente e deplorável exemplo de uso da persistência para atingir objetivos sórdidos, conforme é afirmado na última frase do referido parágrafo.
Um texto publicado na edição de 14 de abril de 2015 do jornal Folha de S.Paulo, na coluna semanal de Vladimir Safatle, com um estranho título: Fuzilamento. Um texto onde Safatle comenta a aprovação pela Câmara dos Deputados do "emendão" ao Projeto de Lei 4330 (PL 4330). Um projeto que facilita a terceirização e a subcontratação do trabalho.
"Um velho e famigerado Projeto de Lei com mais de dez anos e de autoria de um deputado que nem mais é parlamentar, Sandro Mabel, a proposta simplesmente legaliza o desmanche da CLT.", afirma Ricardo Melo, outro articulista semanal da Folha de S.Paulo, em um artigo intitulado Retrocesso trabalhista, publicado na edição de 6 de abril de 2015.
Ou seja, o tempo passa, até o autor do projeto passa, mas algo que jamais passa é a vontade que essa turma tem de nos ferrar (para não usar um verbo mais contundente). Vão ser persistentes no mal assim lá ....... no Nepal!
Fuzilamento
"Foi a pior derrota dos trabalhadores brasileiros desde o golpe de 64." Essa frase do sociólogo Ruy Braga descreve muito bem o que significou a aprovação do projeto que facilita a terceirização e a subcontratação do trabalho (lei 4.330), na semana passada, pela Câmara dos Deputados.
Ela visa fragilizar os vínculos trabalhistas, criando uma situação de precarização na qual, em um futuro próximo, não haverá mais empregos, apenas funcionários flexíveis alocados temporariamente em empresas por período incerto.
As escolas não terão mais professores contratados e com o mínimo de estabilidade para planejar seu futuro, apenas "pessoas jurídicas" que prestarão serviços para outras pessoas jurídicas, podendo ser trocadas sem dificuldades. O mesmo em empresas e hospitais.
Não por acaso, logo ficamos sabendo que salários de funcionários terceirizados tendem a ser 24% menor do que salários de empregados formais. Terceirizados trabalham, em média, três horas a mais do que os empregados formais. Ou seja, vemos se abrir um cenário de intensificação brutal do trabalho e achatamento de salários. Vendem-se imagens de um paraíso neoliberal de flexibilização, mas o que se entrega é o inferno medieval da espoliação no trabalho.
De fato, essa é a tendência mundial. Relações trabalhistas são relações de força e há de se perguntar quem tem mais força hoje. Àqueles que acreditam em situações nas quais patrões e trabalhadores saem todos ganhando, gostaria de lembrar que entrou em cartaz nos cinemas "Cinderela": um filme que vem da mesma região desses pensamentos, a saber, a terra dos contos de fada.
Nessa terra, ninguém consegue entender por que, enquanto o PIB norte-americano por habitante cresceu 36% entre 1973 e 1995, o salário horário de não-executivos (a maioria dos empregos) caiu em 14%. No ano 2000, o salário real de não-executivos nos EUA retornou ao que era há 50 anos.
De nada serve também afirmar que leis dessa natureza aumentam o nível de emprego. Faz parte do velho mantra neoliberal tentar nos fazer crer que direitos trabalhistas dificultam a contratação, como se fosse do seu interesse não ter direitos que lhe protejam.
Que uma lei dessa natureza foi aprovada pelo Congresso que temos não é de se espantar. Os 324 deputados que votaram a favor da lei que irá destruir o seu emprego não representam o povo. Eles representam os empresários que pagam suas campanhas e são comandados por um presidente da Câmara que entrará para a história como aquele que permitiu os trabalhadores brasileiros serem fuzilados em um conflito no qual eles, cada vez mais sem defesas, caminham para o aprofundamento de sua espoliação. Agradeça a eles quando você sentir as maravilhas da terceirização.
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A charge abaixo foi publicada acima do artigo de Vladimir Safatle.

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