"Persistir é
imprescindível"! Eis a ideia escolhida para ser espalhada pela "Tricentésima postagem". O porquê da
escolha? A comprovada eficácia da persistência na concretização de objetivos.
Eficácia comprovada, principalmente, na concretização de objetivos deploráveis.
Vocês já perceberam o quão persistentes são as variadas instituições
inescrupulosas que para atingir seus sórdidos objetivos ferram (para não usar
um verbo mais contundente) a maioria da população deste planeta?
Antes que alguém pense em acusar-me de plágio
(ao reconhecer o parágrafo acima como algo lido em outro lugar),
espontaneamente confessarei de onde o copiei: do penúltimo parágrafo de "Tricentésima postagem" ou "Persistir é imprescindível". Pois é. Neste blog onde a maioria das postagens tem
alguma relação com a (s) anterior (es), o penúltimo parágrafo de uma pode
perfeitamente reaparecer como o primeiro de outra. Sendo assim, após duas
postagens alusivas ao Dia do Silêncio, eis-me de volta ao tema persistência. De
volta para espalhar um texto focalizando um recente e deplorável exemplo de uso
da persistência para atingir objetivos sórdidos, conforme é afirmado na última
frase do referido parágrafo.
Um texto publicado na edição de 14 de abril de 2015 do jornal Folha de S.Paulo, na coluna semanal de
Vladimir Safatle, com um estranho título: Fuzilamento.
Um texto onde Safatle comenta a aprovação
pela Câmara dos Deputados do "emendão" ao Projeto de Lei 4330 (PL
4330). Um projeto que facilita a terceirização e a subcontratação do trabalho.
"Um velho e famigerado Projeto de Lei com
mais de dez anos e de autoria de um deputado que nem mais é parlamentar, Sandro
Mabel, a proposta simplesmente legaliza o desmanche da CLT.", afirma
Ricardo Melo, outro articulista semanal da Folha
de S.Paulo, em um artigo intitulado Retrocesso
trabalhista, publicado na edição de 6 de abril de 2015.
Ou seja, o tempo passa, até o autor do projeto
passa, mas algo que jamais passa é a vontade que essa turma tem de nos ferrar
(para não usar um verbo mais contundente). Vão ser persistentes no mal assim lá
....... no Nepal!
Fuzilamento
"Foi a pior derrota dos trabalhadores brasileiros
desde o golpe de 64." Essa frase do sociólogo Ruy Braga descreve muito bem
o que significou a aprovação do projeto que facilita a terceirização e a
subcontratação do trabalho (lei 4.330), na semana passada, pela Câmara dos
Deputados.
Ela visa fragilizar os vínculos trabalhistas,
criando uma situação de precarização na qual, em um futuro próximo, não haverá
mais empregos, apenas funcionários flexíveis alocados temporariamente em
empresas por período incerto.
As escolas não terão mais professores contratados
e com o mínimo de estabilidade para planejar seu futuro, apenas "pessoas
jurídicas" que prestarão serviços para outras pessoas jurídicas, podendo
ser trocadas sem dificuldades. O mesmo em empresas e hospitais.
Não por acaso, logo ficamos sabendo que
salários de funcionários terceirizados tendem a ser 24% menor do que salários
de empregados formais. Terceirizados trabalham, em média, três horas a mais do
que os empregados formais. Ou seja, vemos se abrir um cenário de intensificação
brutal do trabalho e achatamento de salários. Vendem-se imagens de um paraíso
neoliberal de flexibilização, mas o que se entrega é o inferno medieval da
espoliação no trabalho.
De fato, essa é a tendência mundial. Relações
trabalhistas são relações de força e há de se perguntar quem tem mais força
hoje. Àqueles que acreditam em situações nas quais patrões e trabalhadores saem
todos ganhando, gostaria de lembrar que entrou em cartaz nos cinemas
"Cinderela": um filme que vem da mesma região desses pensamentos, a saber,
a terra dos contos de fada.
Nessa terra, ninguém consegue entender por
que, enquanto o PIB norte-americano por habitante cresceu 36% entre 1973 e
1995, o salário horário de não-executivos (a maioria dos empregos) caiu em 14%.
No ano 2000, o salário real de não-executivos nos EUA retornou ao que era há 50
anos.
De nada serve também afirmar que leis dessa
natureza aumentam o nível de emprego. Faz parte do velho mantra neoliberal
tentar nos fazer crer que direitos trabalhistas dificultam a contratação, como
se fosse do seu interesse não ter direitos que lhe protejam.
Que uma lei dessa natureza foi aprovada pelo
Congresso que temos não é de se espantar. Os 324 deputados que votaram a favor
da lei que irá destruir o seu emprego não representam o povo. Eles representam
os empresários que pagam suas campanhas e são comandados por um presidente da
Câmara que entrará para a história como aquele que permitiu os trabalhadores
brasileiros serem fuzilados em um conflito no qual eles, cada vez mais sem
defesas, caminham para o aprofundamento de sua espoliação. Agradeça a eles
quando você sentir as maravilhas da terceirização.
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