Inaugurado com uma postagem intitulada "Por que criei um blog?", a primeira
ideia espalhada por este blog foi "O Fenômeno do Centésimo Macaco". Onze meses depois, período em que noventa e
oito postagens foram publicadas, influenciado pelo simbolismo do centésimo, publiquei "A centésima postagem".
Tendo tomado gosto pela ideia de destacar a
completeza de uma nova centena de postagens, dezesseis meses depois, publiquei
"Ducentésima postagem" ou "Quanto pior melhor". Postagem com
um título estranho na qual é defendida a ideia de que para chegar ao estágio que
a faça passar a agir de modo a melhorar o mundo em que vive a autodenominada espécie
inteligente do Universo talvez tenha que passar pelo que há de pior: pelo estágio
em que as condições em que sobrevive atinjam à insuportabilidade.
O tempo passou e, dois anos depois, aqui está
"Tricentésima postagem" ou "Persistir é imprescindível". Perceberam
que é crescente o período necessário para completar uma nova centena? Por que
tal acontece? Porque, como diz Frei Betto, "É muito frustrante semear
esperanças." Esperanças semeadas pelo "espalhamento de ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem
ações para torná-la cada vez melhor".
E por ser frustrante, em alguns momentos, bate
o desânimo. E quando bate ele precisa ser superado. Como? Usando a força presente
em pérolas produzidas por espíritos mais evoluídos e às
quais devemos recorrer em tais momentos. E é dentre essas pérolas que eu retiro
uma oferecida pelo budismo: "Tudo é frustrante, tudo está interligado e
tudo é impermanente, eis as verdades fundamentais do mundo".
Ou seja, embora tudo seja frustrante, tudo
está interligado e tudo é impermanente. E tudo sendo impermanente, tudo é
mutável. E considerando que mudar pode ser para melhor ou para pior, cabe a cada
um de nós escolher para qual dos dois tipos de mudança deseja contribuir. Afinal,
se tudo está interligado, parece-me óbvio que tudo o que acontece ao todo está
interligado com toda e qualquer ação, e inação, de cada uma das partes. É
difícil compreender isto?
E se tudo está interligado, ligando uma pérola
à outra, chego a algumas pérolas encontradas em um livro de Frei
Betto intitulado A Mosca Azul, apresentadas
a seguir. Pérolas das quais lembro em meus momentos de desânimo.
Às vezes também tenho vontade de mandar tudo às favas. Pensa que não me invadem esse sentimento de frustração, essa amargura oca, essa acidez na boca da alma? Sim, tem hora em que me canso de carregar ladeira acima essa esperança esburacada. Tem hora em que me sinto Prometeu acorrentado, mas sem revolta, agradecido por ter as mãos atadas. E a única coisa que me passa pela cabeça é embriagar-me de alienação e ficar na varanda, contemplando silenciosamente a cidade lá embaixo, miríades de cristais reluzindo impessoais, anônimos, indiferentes ao meu estupor.É muito frustrante semear esperanças. São grãos miúdos, delicados, quase invisíveis, ora plantados no caminho acidentado, ora num coração angustiado, sempre no terreno árido da pobreza insolente. E depois vem o árduo trabalho de regar todos os dias, ver emergir o primeiro broto, um fiapo de verde aflorando sobre a terra negra, e a gente é tomado por esse sentimento feminino do querer cuidar e começa então a acreditar que a primavera existe.
A esperança é um pássaro em voo permanente. Segue adiante e acima de nossos olhos, flutua sob o céu azul, não se lhe opõe nenhuma barreira. É assim em tudo aquilo que se nutre de esperança: o amor, a educação de um filho, o sonho de um mundo melhor.A esperança é uma fênix. Sempre a renascer das cinzas.
É por concordar com Frei Betto que continuo fazendo coisas
das quais a grande maioria já desistiu. Dentre elas a de prosseguir escrevendo
em um blog de poucas visitas (eu sempre soube que seria assim). Não nasci no
Brasil – fui trazido para cá com dois anos de idade – mas posso repetir aquele
bordão "Eu sou brasileiro e não desisto nunca" com mais convicção do
que a maioria dos que aqui nasceram.
E em conformidade com a ideia de estimular a não desistência diante das dificuldades que sempre surgem no caminho de quem se dispõe a atuar no sentido de melhorar o mundo em que vive, segue uma pérola encontrada em um livro de Margaret J. Wheatley intitulado Liderança para Tempos de Incerteza – A
Descoberta de um Novo Caminho.
"Em uma carta para um amigo, Thomas Merton, o famoso místico cristão, dá o seguinte conselho: 'Não fique na dependência de resultados... você pode ter que encarar o fato de que seu trabalho será aparentemente inútil e sem resultados, ou que os resultados serão contrários aos esperados. Acostumando-se a essa ideia você começa a se concentrar não nos resultados, mas no valor, na retidão, na verdade do próprio trabalho...'"
O parágrafo acima já foi citado em uma
postagem intitulada "Não ficar na dependência de resultados",
publicada em 9 de janeiro de 2012. E falando em postagens anteriores, segue uma
frase apresentada em "Vale a pena viver?", publicada em 8 de
setembro de 2014. "Tudo o que vale a pena fazer é difícil.", diz
Robin Williams, ao ouvir que o que pretende fazer é algo muito difícil, no
filme Patch Adams – O amor é contagioso, por ele protagonizado. E se
"Tudo o que vale a pena fazer é difícil.", "Persistir é
imprescindível".
"Persistir é imprescindível"!
Eis a ideia escolhida para ser espalhada pela "Tricentésima postagem". O porquê da escolha? A comprovada
eficácia da persistência na concretização de objetivos. Eficácia comprovada,
principalmente, na concretização de objetivos deploráveis. Vocês já perceberam
o quão persistentes são as variadas instituições inescrupulosas que para atingir seus
sórdidos objetivos ferram (para não usar um verbo mais contundente) a maioria da população deste planeta?
Sim, persistência funciona. E se funciona
contra nós (vocês conseguem ver-se como pertencentes à maioria citada no final
do parágrafo anterior?), por que não usar a persistência a nosso favor? Por que
não usá-la na concretização de objetivos elevados? E desde que os objetivos que
se deseje concretizar sejam elevados, "Persistir é imprescindível"!
Nenhum comentário:
Postar um comentário