domingo, 8 de março de 2015

Dia Internacional da Mulher - 2015

Se a inesperada e simultânea descoberta de duas reportagens focalizando a competição no mundo corporativo levou-me a elaborar três postagens sobre tal tema, a esperada chegada do dia 8 de março seria a oportunidade de quebrar essa sequência. Seria, mas não foi. Por quê? Porque quando alguém dispõe-se a focalizar determinado assunto sempre poderá fazê-lo à luz de uma variedade de pontos de vista. Sendo assim, no momento em que parei para pensar em qual usaria para elaborar uma postagem sobre o Dia Internacional da Mulher, o primeiro que me veio à mente foi justamente aquele que coincide com o tema daquelas três postagens: a inconveniência da competição e a imprescindibilidade da cooperação nos relacionamentos humanos. Relacionamentos dentre os quais o mais importante é exatamente o que ocorre entre homens e mulheres, pois, como disse D. H. Lawrence, "o futuro da humanidade não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações entre homens e mulheres".
Ou seja, em prol do futuro da humanidade, a tarefa que cabe a todos e a cada um de nós é convencer aos demais dos malefícios da competição e da imprescindibilidade da cooperação. Foi isso o que fez a atriz britânica Emma Watson (24 anos, famosa por interpretar Hermione Granger nos filmes da série Harry Potter) através de um discurso inspirador proferido em 21.09.2014, na sede da ONU. Na condição de embaixadora da boa vontade para a ONU Mulheres, cargo para o qual fora nomeada em junho daquele ano, com aquele discurso ela fazia o lançamento da campanha HeForShe – um movimento de solidariedade pela igualdade de gêneros que acredita que essa causa não é um problema apenas das mulheres. Discurso do qual, com a finalidade de diminuir o tamanho desta postagem, selecionei os trechos apresentados a seguir.
"Hoje estamos aqui lançando a campanha HeForShe. Eu estou falando com vocês porque precisamos de ajuda. Queremos acabar com a desigualdade de gêneros, e para fazer isso todo mundo precisa estar envolvido. Essa é a primeira campanha desse tipo na ONU. Precisamos mobilizar tantos homens e garotos quanto possível para a mudança. Não queremos só falar sobre isso. Queremos tentar e ter certeza de que é tangível.
Eu fui apontada como embaixadora da boa vontade para a ONU Mulheres há seis meses e quanto mais eu falava sobre feminismo, mais eu me dava conta que lutar pelos direitos das mulheres muitas vezes virou sinônimo de odiar os homens. Se há uma coisa que eu tenho certeza é que isso tem que parar. Para registro, feminismo, por definição é a crença de que homens e mulheres devem ter oportunidades e direitos iguais. É a teoria da igualdade política, econômica e social entre os sexos. (...) Mas minhas pesquisas recentes mostraram que feminismo virou uma palavra não muito popular. Aparentemente, eu estou entre as mulheres que são vistas como muito fortes, muito agressivas, anti-homens, não atraentes. Por que essa palavra se tornou tão impopular?
Eu sou da Inglaterra e eu acho que é direito que me paguem o mesmo tanto que meus colegas de trabalho do sexo masculino. Eu acho que é direito tomar decisões sobre meu próprio corpo. Eu acho que é direito que mulheres estejam envolvidas e me representando em políticas e decisões tomadas no meu país. Eu acho que é direito que socialmente, eu receba o mesmo respeito que homens. Mas infelizmente, eu posso dizer que não existe nenhum país no mundo em que todas as mulheres possam esperar ver esses direitos. Nenhum país do mundo pode dizer ainda que alcançou igualdade de gêneros.
(...) Em 1997, Hillary Clinton fez um famoso discurso em Pequim sobre direitos das mulheres. Infelizmente, muito do que ela queria mudar ainda é verdade hoje. Mas o que me impressionou foi que menos de 30% da audiência era masculina. Como nós podemos efetivar a mudança no mundo quando apenas metade dele é convidada a participar da conversa?
Homens, eu gostaria de usar essa oportunidade para apresentar o convite formal. Igualdade de gêneros é seu problema também. Até hoje eu vejo o papel do meu pai como pai ser menos válido na sociedade. Eu vi jovens homens sofrendo de doenças, incapazes de pedirem ajuda por medo de que isso os torne menos homens - de fato, no Reino Unido, suicídio é a maior causa de morte entre homens de 20-49 anos, superando acidentes de carro, câncer e doenças de coração. Eu vi homens frágeis e inseguros sobre o que constitui o sucesso masculino. Homens também não têm o benefício da igualdade.
Nós não queremos falar sobre homens sendo aprisionados pelos estereótipos de gênero, mas eles estão. Quando eles estiverem livres, as coisas vão mudar para as mulheres como consequência natural. Se homens não têm que ser agressivos, mulheres não serão obrigadas a serem submissas. Se homens não têm a necessidade de controlar, mulheres não precisarão ser controladas. Tanto homens quando mulheres deveriam ser livres para serem sensíveis. Tanto homens e mulheres deveriam ser livres para serem fortes.
Você pode pensar: Quem é essa menina de Harry Potter? O que ela está fazendo na ONU? É uma boa questão e acreditem em mim, eu tenho me perguntado a mesma coisa. Não sei se sou qualificada para estar aqui. Tudo que eu sei é que eu me importo com esse problema e eu quero melhorar isso. E tendo visto o que eu vi e sendo apresentada com a oportunidade, eu acho que é minha responsabilidade dizer algo. Edmund Burke disse: "Tudo que é preciso para que as forças do mal triunfem é que bons homens e mulheres não façam nada."
Cheia de nervos para esse discurso e em um momento de dúvida eu disse pra mim mesma: se não eu, quem? Se não agora, quando? Se você tem as mesmas dúvidas quando apresentado uma oportunidade, eu espero que essas palavras possam ajudar. Porque a realidade é que se a gente não fizer nada, vai demorar 75 anos, ou até eu ter quase 100 anos antes que mulheres possam esperar receber o mesmo tanto que os homens no trabalho.
(...) Se você acredita em igualdade, você pode ser um desses feministas que não sabem sobre os quais eu falei mais cedo. E por isso, eu te aplaudo. Estamos lutando, mas a boa notícia é que temos a plataforma. É chamada HeForShe. Eu convido você a ir em frente, ser visto e se perguntar: se não eu, quem? Se não agora, quando? Obrigada."
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Será que é possível enxergar no discurso da lúcida atriz e embaixadora da ONU Mulheres uma nítida afinidade com a crítica aos malefícios da competição e a imprescindibilidade da prática da cooperação? Será que foi uma boa ideia aproveitar este Dia Internacional da Mulher para espalhar o inspirador discurso de Emma Watson? Será que refletir sobre o que nele foi dito conseguirá provocar em homens e mulheres o despertamento para a imprescindibilidade de agir em conformidade com a afirmação de D. H. Lawrence de que "o futuro da humanidade não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações entre homens e mulheres". Será que você aceitará o convite de Emma Watson "para ir em frente, ser visto e se perguntar: se não eu, quem? Se não agora, quando?" Ou, como diz a bela canção da Legião Urbana, "Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão?". Será que a autodenominada espécie inteligente do Universo prosseguirá sendo uma decepção? Será que essa sequência de "será"s lhes despertará a vontade de refletir sobre tais questões?

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