quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Abaixo a competição

Conforme prometido na anterior, segue a segunda postagem focalizando a competição no mundo corporativo. Esta apresenta uma reportagem-entrevista publicada na edição do mês passado da revista Exame. A reportagem é de Aline Scherer, o entrevistado é o antropólogo, escritor e consultor britânico Simon Sinek e o título é o mesmo que o desta postagem. Sinek tem 41 anos e é formado em antropologia pela Universidade Brandeis, em Massachusetts, nos Estados Unidos, Depois de publicar o primeiro livro em 2010, Sinek passou a aconselhar empresas como Disney, 3M, Pfizer, KPMG, Microsoft e American Express.
Abaixo a competição
O mais popular entre os palestrantes do TED quando o assunto é negócios, o antropólogo Simon Sinek defende que a cooperação interna é que impulsiona bons resultados nas empresas
Entre os milhares de pensadores, anônimos e celebridades que fizeram apresentações no TED, o famoso ciclo de palestras que disseminam ideias inovadoras em vídeos da internet, o britânico Simon Sinek é hoje o mais popular na seara dos negócios. Sua primeira apresentação, em 2010, sobre o livro Por Quê? - Como Motivar Pessoas e Equipes a Agir, já foi assistida por mais de 20 milhões de pessoas. De lá para cá, ele deu consultoria a mais de uma dezena de grandes empresas e palestras em locais tão diversos quanto o Pentágono e as Nações Unidas. Em 2014, lançou o segundo livro, Leaders Eat Last (em tradução literal, "Líderes comem por último"), ainda sem previsão de publicação no Brasil. Nele, Sinek utiliza evidências biológicas e antropológicas para comprovar sua tese de que chefes jamais deveriam estimular a competitividade entre seus subordinados - e sim tratá-los como se fossem seus filhos. "Já existem muitas ameaças às empresas no mercado, não faz qualquer sentido reproduzir esse clima de tensão e de medo no ambiente interno", disse ele em entrevista a EXAME, de seu escritório em Nova York. 
Em seu livro mais recente, o senhor usa a metáfora de que os líderes devem comer por último. O que isso significa?
Em uma conversa com um almirante, perguntei a ele por que a Marinha americana é tão boa naquilo que faz? Ele me contou que, na hora das refeições, os marinheiros juniores comem primeiro, e os seniores comem por último. Não é uma regra escrita, mas reflete a forma como eles definem liderança. Não se trata de um cargo, mas de ser responsável pelas pessoas sob seu comando. Na carreira militar, condecoram-se os líderes que se sacrificam pelos outros. No mundo corporativo, o mais usual é premiar com bônus os executivos dispostos a sacrificar os outros para que eles e as empresas, supostamente, saiam ganhando. É um contrassenso.
Qual é a importância de ter líderes que se sacrificam pela equipe?
É a melhor maneira de ter um ambiente menos agressivo, em que haja mais colaboração entre os funcionários. Caso contrário, no longo prazo, o excesso de competitividade interna se torna prejudicial. Quando as pessoas sentem que o líder faria qualquer coisa para se beneficiar, que ele mentiria para parecer melhor do que é, a resposta natural é paranoia e egoísmo. Quando os funcionários acreditam que o líder sacrificaria seu bônus para evitar demissões, eles se sentem seguros. A resposta natural é confiança e cooperação. O homem é um animal social e responde ao ambiente onde está. É por isso que o chefe deve criar um círculo de segurança em torno de sua equipe.
E como o chefe cria esse círculo?
Dando oportunidades para que os funcionários tentem e fracassem sem sofrer retaliações. Se as pessoas temem perder o emprego porque apostaram numa ideia que não deu certo, elas vão, em vez de tentar inovar, gastar tempo e energia se protegendo. É instintivo: não nos permitimos oferecer nossas melhores ideias se estamos preocupados em nos blindar contra chefes ou pares que possam nos prejudicar.
O senhor é sempre radicalmente contra demissões?
Não, mas é importante ponderar: a empresa está falindo ou apenas passando por um período ruim? Se é uma fase, por que penalizar os funcionários? E se a culpa for da estratégia definida pela liderança? Não os demita e peça ajuda. Líderes inspiradores fazem com que seus subordinados respondam a seus apelos com sangue, suor e lágrimas.
Há bons exemplos de líderes inspiradores?
Eles são poucos. Comparei a curva de retorno sobre investimentos de 1986 a 2010 da varejista americana Costco com a da General Electric, um dos maiores conglomerados do mundo. Na GE, onde os funcionários sempre foram incentivados a competir entre si, algo estimulado, sobretudo, pelo ex-presidente Jack Welch, as ações se comportaram como uma montanha-russa. Já na Costco, as ações valorizaram de maneira contínua, sem sobressaltos. Em 2010, seus acionistas tiveram o dobro do lucro da GE e da média das demais empresas listadas no índice S&P500, da bolsa de Nova York. James Sinegal, que fundou e deixou a presidência da Costco em 2012, sempre foi um executivo amoroso, que tratava seus empregados como se fossem da família e pagava bons salários. Diferentemente de Welch, Sinegal e seu sucessor, Craig Jelinek, sempre pregaram a cooperação em lugar da competição.
Outro exemplo de liderança negativa além de Jack Welch?
Há muitos maus exemplos nos bancos de investimento. Jamie Dimon, presidente do banco JP Morgan, não é um bom líder porque coloca os resultados acima de qualquer coisa. Em 2010, logo após sua empresa anunciar um lucro de 4,4 bilhões de dólares no trimestre e assinar milhares de ordens de despejo, Dimon quis eximir a parcela de culpa dos bancos na bolha imobiliária, transferindo a responsabilidade para as empresas de hipoteca e os moradores endividados. Ele é terrível. Um líder de verdade não faria isso.
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Segundo a reportagem-entrevista, "em seu livro Leaders Eat Last (em tradução literal, 'Líderes comem por último'), ainda sem previsão de publicação no Brasil, Simon Sinek utiliza evidências biológicas e antropológicas para comprovar sua tese de que chefes jamais deveriam estimular a competitividade entre seus subordinados - e sim tratá-los como se fossem seus filhos." Segundo Humberto Maturana, doutor em alguns ramos da biologia, "Não existe competição sadia. A competição é um fenômeno cultural e humano e não constituinte do biológico".
Será que - segundo a biologia - a competição é algo contra-indicado para a tal da espécie inteligente do Universo? Será que é por estar fundamentada em uma contra-indicação que esta civilização (sic) encontra-se no atual estágio de insanidade? Será que faz sentido nos eximirmos da busca e da implementação de solução para problemas que nos afligem e para os quais, de alguma forma, contribuímos para sua manutenção? Será que essa sequência de "será?" os faz lembrar aquela linda canção da Legião Urbana? Canção em que há uma afirmação perfeitamente aplicável para definir o que nos acontecerá como integrantes da tal da espécie inteligente do Universo: "Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação."

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