Conforme prometido na
anterior, segue a segunda postagem focalizando a competição no mundo
corporativo. Esta apresenta uma reportagem-entrevista publicada na edição do
mês passado da revista Exame. A reportagem é de Aline Scherer, o
entrevistado é o antropólogo, escritor e consultor britânico Simon Sinek e o
título é o mesmo que o desta postagem. Sinek tem 41 anos e é formado em
antropologia pela Universidade Brandeis, em Massachusetts, nos Estados Unidos,
Depois de publicar o primeiro livro em 2010, Sinek passou a aconselhar empresas
como Disney, 3M, Pfizer, KPMG, Microsoft e American Express.
Abaixo a competição
O mais popular entre os palestrantes do TED quando o assunto é negócios, o antropólogo Simon Sinek defende que a cooperação interna é que impulsiona bons resultados nas empresas
Entre os milhares de pensadores, anônimos e
celebridades que fizeram apresentações no TED, o famoso ciclo de palestras que
disseminam ideias inovadoras em vídeos da internet, o britânico Simon Sinek é
hoje o mais popular na seara dos negócios. Sua primeira apresentação, em 2010,
sobre o livro Por Quê? - Como Motivar Pessoas e Equipes a Agir, já foi assistida
por mais de 20 milhões de pessoas. De lá para cá, ele deu consultoria a mais de
uma dezena de grandes empresas e palestras em locais tão diversos quanto o
Pentágono e as Nações Unidas. Em 2014, lançou o segundo livro, Leaders Eat
Last (em tradução literal, "Líderes comem por último"), ainda sem
previsão de publicação no Brasil. Nele, Sinek utiliza evidências biológicas e antropológicas
para comprovar sua tese de que chefes jamais deveriam estimular a
competitividade entre seus subordinados - e sim tratá-los como se fossem seus
filhos. "Já existem muitas ameaças às empresas no mercado, não faz
qualquer sentido reproduzir esse clima de tensão e de medo no ambiente
interno", disse ele em entrevista a EXAME, de seu escritório em
Nova York.
Em seu livro mais recente, o senhor usa a metáfora de que os líderes devem comer por último. O que isso significa?
Em uma conversa com um almirante, perguntei a
ele por que a Marinha americana é tão boa naquilo que faz? Ele me contou que,
na hora das refeições, os marinheiros juniores comem primeiro, e os seniores
comem por último. Não é uma regra escrita, mas reflete a forma como eles definem
liderança. Não se trata de um cargo, mas de ser responsável pelas pessoas sob
seu comando. Na carreira militar, condecoram-se os líderes que se sacrificam
pelos outros. No mundo corporativo, o mais usual é premiar com bônus os
executivos dispostos a sacrificar os outros para que eles e as empresas,
supostamente, saiam ganhando. É um contrassenso.
Qual é a importância de ter líderes que se sacrificam pela equipe?
É a melhor maneira de ter um ambiente menos
agressivo, em que haja mais colaboração entre os funcionários. Caso contrário,
no longo prazo, o excesso de competitividade interna se torna prejudicial.
Quando as pessoas sentem que o líder faria qualquer coisa para se beneficiar,
que ele mentiria para parecer melhor do que é, a resposta natural é paranoia e
egoísmo. Quando os funcionários acreditam que o líder sacrificaria seu bônus
para evitar demissões, eles se sentem seguros. A resposta natural é confiança e
cooperação. O homem é um animal social e responde ao ambiente onde está. É por
isso que o chefe deve criar um círculo de segurança em torno de sua equipe.
E como o chefe cria esse círculo?
Dando oportunidades para que os funcionários
tentem e fracassem sem sofrer retaliações. Se as pessoas temem perder o emprego
porque apostaram numa ideia que não deu certo, elas vão, em vez de tentar
inovar, gastar tempo e energia se protegendo. É instintivo: não nos permitimos
oferecer nossas melhores ideias se estamos preocupados em nos blindar contra
chefes ou pares que possam nos prejudicar.
O senhor é sempre radicalmente contra demissões?
Não, mas é importante ponderar: a empresa está
falindo ou apenas passando por um período ruim? Se é uma fase, por que
penalizar os funcionários? E se a culpa for da estratégia definida pela
liderança? Não os demita e peça ajuda. Líderes inspiradores fazem com que seus
subordinados respondam a seus apelos com sangue, suor e lágrimas.
Há bons exemplos de líderes inspiradores?
Eles são poucos. Comparei a curva de retorno
sobre investimentos de 1986 a
2010 da varejista americana Costco com a da General Electric, um dos maiores
conglomerados do mundo. Na GE, onde os funcionários sempre foram incentivados a
competir entre si, algo estimulado, sobretudo, pelo ex-presidente Jack Welch,
as ações se comportaram como uma montanha-russa. Já na Costco, as ações
valorizaram de maneira contínua, sem sobressaltos. Em 2010, seus acionistas
tiveram o dobro do lucro da GE e da média das demais empresas listadas no
índice S&P500, da bolsa de Nova York. James Sinegal, que fundou e deixou a
presidência da Costco em 2012, sempre foi um executivo amoroso, que tratava
seus empregados como se fossem da família e pagava bons salários.
Diferentemente de Welch, Sinegal e seu sucessor, Craig Jelinek, sempre pregaram
a cooperação em lugar da competição.
Outro exemplo de liderança negativa além de Jack Welch?
Há muitos maus exemplos nos bancos de
investimento. Jamie Dimon, presidente do banco JP Morgan, não é um bom líder
porque coloca os resultados acima de qualquer coisa. Em 2010, logo após sua
empresa anunciar um lucro de 4,4 bilhões de dólares no trimestre e assinar
milhares de ordens de despejo, Dimon quis eximir a parcela de culpa dos bancos
na bolha imobiliária, transferindo a responsabilidade para as empresas de
hipoteca e os moradores endividados. Ele é terrível. Um líder de verdade não
faria isso.
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Segundo a reportagem-entrevista, "em seu
livro Leaders Eat Last (em tradução literal, 'Líderes comem por último'),
ainda sem previsão de publicação no Brasil, Simon Sinek utiliza evidências
biológicas e antropológicas para comprovar sua tese de que chefes jamais
deveriam estimular a competitividade entre seus subordinados - e sim tratá-los
como se fossem seus filhos." Segundo Humberto Maturana,
doutor em alguns ramos da biologia, "Não existe competição sadia. A
competição é um fenômeno cultural e humano e não constituinte do
biológico".
Será que - segundo a
biologia - a competição é algo contra-indicado para a tal da espécie
inteligente do Universo? Será que é por estar fundamentada em uma contra-indicação
que esta civilização (sic) encontra-se no atual estágio de insanidade? Será que
faz sentido nos eximirmos da busca e da implementação de solução para problemas
que nos afligem e para os quais, de alguma forma, contribuímos para sua manutenção?
Será que essa sequência de "será?" os faz lembrar aquela linda canção da Legião
Urbana? Canção em que há uma afirmação perfeitamente aplicável para definir
o que nos acontecerá como integrantes da tal da espécie inteligente do Universo:
"Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação."
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