"Pessoas estão mais ricas, mas vida hoje
é mais pobre", diz Barry Stroud, na reportagem-entrevista publicada na
postagem anterior. E diz também: "As pessoas gastam tempo nenhum em
reflexão. Raramente se vê pessoas sozinhas andando sem estar com fones de ouvido,
telefones." Então, questionando se a falta de tempo para a reflexão pode ser
considerada uma das causas do empobrecimento da vida, terminei aquela postagem,
passei vinte e três dias ausente do blog e agora retorno compartilhando algumas
reflexões provocadas pela leitura da reportagem. Reflexões que começam com a apresentação
da primeira frase da reportagem e da afirmação de Albert Einstein que escolhi
como citação da semana para ladear a postagem anterior.
"A vida virou uma carreira. As pessoas estão focadas o tempo todo no sucesso profissional. É preciso ganhar o máximo de dinheiro, ter família, casa grande – tudo junto. Consumismo, individualismo, carreirismo. A vida contemporânea, apesar dos avanços materiais, é mais pobre.", diz Barry Stroud (maio de 1935, [79 anos]).
"Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser compreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto.", diz (Albert Einstein, [1879-1955]).
"Não basta
ensinar ao homem uma especialidade", diz Einstein. "A vida virou uma
carreira", diz Stroud. "É
necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena
ser compreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto.", diz
Einstein. "Carreirismo, individualismo, consumismo. A vida
contemporânea, apesar dos avanços materiais, é mais pobre.", diz Stroud. Ou seja, a vida virou algo que não basta ao
homem.
"A pressão para o
avanço profissional e o sucesso é profunda, principalmente na cultura
americana. Sou professor em uma das melhores universidades. Ensino filosofia,
área que não significa ficar rico. Mesmo meus melhores alunos são forçados a
pensar neles como iniciantes de uma carreira profissional, em detrimento do
verdadeiro assunto de seu estudo.",
diz Stroud. E em uma comparação entre a Grécia antiga e os EUA, ele diz:
"Na Grécia, havia os que pensavam que existia uma única maneira de viver – dentro de uma forma muito racional e organizada. Os céticos, porém, diziam que alcançavam uma vida diferente daquela forma racional e ordeira. Que isso lhes dava uma certa paz e satisfação que não era atingível em outra concepção de vida – que sempre estabelece que é preciso viver assim ou assado."
"Em certo sentido, o profissionalismo na atual vida norte-americana é o oposto do ceticismo. Hoje o que vigora é o princípio de que o que se deve fazer na vida é ganhar o máximo de dinheiro."
Ou seja, pensar que existe uma única maneira
de viver é algo que vem de longe, e tentar viver de forma diferente da que nos
é impingida é algo que hoje parece-me mais difícil do que era na Grécia antiga.
Por que digo isso? Porque se resistir ao comportamento de manada é algo contra
o qual a tal da espécie inteligente do Universo jamais conseguiu se sair bem,
hoje tal resistência é ainda mais débil, pois, deslumbrada com um
desenvolvimento tecnológico avassalador, tal espécie tornou-se uma imensa
legião de vassalos desse senhor denominado tecnologia. Um senhor que padroniza
cada vez mais a maneira de viver dos que a ele se submetem docilmente. E ao iniciar
este parágrafo falando sobre se sair bem, o que imediatamente me veio à cabeça é
o fato de que em termos de se sair bem, a única coisa que interessa a essa
deslumbrada espécie é sair bem na foto. Nossa! Viajei! Esse é um assunto para
outra postagem.
Quanto aos céticos, creio que sua luta em
defesa da insubmissão a qualquer tipo de padronização da maneira de viver é
algo que pode visto como uma tarefa cujo grau de dificuldade esteve sempre em
alta, desde a Grécia antiga até os dias de hoje.
E da excelente
entrevista com o Barry Stroud uma passagem que me dá o que pensar é quando a
repórter indaga: "Existe também a ideia de que o indivíduo é o único responsável
pelos seus fracassos, sem considerar a situação social, econômica e política,
certo?". E o filósofo responde: "Exato.
Essa é a mentalidade norte-americana. É o que falam para as pessoas pobres, com
baixa escolaridade, muitas vezes negros e hispânicos. Que é responsabilidade
delas.
É a tal da meritocracia. Meritocracia que vai
de encontro à mensagem passada por um dos mais belos textos que já li: O Programa do Senhor. Programa que se me
for solicitado explicar do que se trata em apenas uma frase eu uso a seguinte:
é o entendimento de que, em uma civilização que faça jus a tal denominação, a
função dos melhores é atuar em prol dos piores. Ou, em outras palavras: é não
entender que os piores devem ser abandonados à própria sorte, digo, ao próprio
azar, como é feito pelos adeptos da meritocracia. Quem entende O Programa do Senhor jamais entenderá a
defesa dessa coisa denominada meritocracia. Em 11 de novembro de 2014 publiquei neste blog uma postagem intitulada Meritocracia.
Sim, as pessoas estão cada vez mais ricas,
pois a riqueza das pessoas é medida pela quantidade de bens materiais que elas possuem
(ou que por eles são possuídas), mas a riqueza da vida é medida de forma
diferente. O enriquecimento da vida se dá não por quantidade de bens materiais,
e sim por qualidade de bens imateriais. Não por quantidade de relacionamentos que
requer uma interface tecnológica, e sim pela qualidade de relacionamentos
humanos face a face, ou seja, sem a necessidade de qualquer interface.
A vida virou uma carreira. Carreirismo,
individualismo, consumismo. As pessoas pensam em preencher suas vidas com
coisas, (...), ficar em frente à TV, falar ao celular, entrar em redes sociais.
A amizade mudou. Hoje é clicar no computador. Não é mais falar, olhar e fazer
coisas junto. A vida contemporânea, apesar dos avanços materiais, é mais pobre.
O parágrafo acima é uma compilação de algumas
afirmações feitas por Barry Stroud em sua entrevista. No parágrafo abaixo é
feita uma associação com a afirmação de Albert Einstein citada no terceiro
parágrafo desta postagem.
A transformação da
vida em uma carreira, como diz Stroud, é resultado da transformação em
realidade do risco alertado por Einstein: ensinar ao homem apenas uma
especialidade. Ensinamento que - ainda segundo Einstein - tornou o homem uma
máquina utilizável e não uma personalidade; uma máquina desprovida de
sentimentos nobres em relação aos seres que julga inferiores a ele, do senso prático
daquilo que vale a pena ser compreendido e do que é moralmente correto.
Após um longo período sem postar, encerro
estas não muito curtas reflexões convidando-os a verificarem se elas fazem
algum sentido para vocês e a fazerem suas próprias reflexões, pois por acreditar
que uma das causas do empobrecimento da vida seja a falta de tempo para a
reflexão, obviamente, eu acredito também que encontrar tempo para refletir pode
ser uma forma de enriquecer a vida. O que vocês acham?
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