segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Mudança

Ainda em fase de recuperação do desgaste emocional causado pela exposição ao clima insalubre da reta final da campanha eleitoral, passei a última semana tentando descobrir qual seria o melhor tema para o retorno às postagens. Após pensar bastante, a escolha foi definida pela impressão que me causou a quantidade de vezes que li e ouvi uma determinada palavra durante o mês de outubro. Uma palavra cujo significado considero de suma importância, conforme vocês poderão verificar ao ler o último parágrafo desta postagem. Que palavra é essa? Mudança.
E para começar a falar sobre mudança, retroajo 25 séculos e vou até a Grécia, no período compreendido entre os anos 535 a.C e 475 a.C. (aproximadamente). Época e lugar em que, segundo historiadores, viveu um filósofo pré-socrático de nome Heráclito. Um filósofo a quem é atribuída a expressão "Panta Rei" que significa tudo flui; tudo segue um grande fluxo perene no qual nada permanece como está, pois a única coisa permanente é o estado de contínua mutação.
A única coisa permanente é o estado de contínua mutação! Dá para discordar de tal afirmação? No meu entender, não, e a quem discordar sugiro que escolha algumas coisas e compare como elas eram no passado e como são hoje. Entendido que mudar seja algo inevitável, o próximo passo é refletir sobre o que diz um antigo provérbio: "Mudar e mudar para melhor são duas coisas diferentes". Ou seja, mudar também pode ser para pior. E aqui alguém poderá argumentar: classificar se é para melhor ou para pior é algo subjetivo.
Que tal classificação é algo subjetivo eu não discordo, e é aqui que pode estar o problema. Sendo algo subjetivo, qual terá sido o ponto de vista usado para definir se a mudança é para melhor ou para pior? O da conveniência da sociedade como um todo ou apenas do segmento no qual o classificador está inserido? Gosto muito de uma afirmação atribuída ao imperador Marco Aurélio: "O que não convém ao enxame não convém tampouco à abelha". Portanto, vejo na não assimilação de tal afirmação a origem da maioria dos males que assolam esta insana sociedade.
Da mesma forma que a força de uma corrente é determinada por seu elo mais fraco, a qualidade de uma sociedade é determinada pelo seu segmento mais pobre. Portanto, de que adianta uma parte dela viver na abundância, enquanto outras sobrevivem na pobreza? Afinal, por mais que tal parte acredite ser possível isolar-se do "resto" da sociedade, a interação entre esta e todas as outras partes jamais deixará de ocorrer, pois no Universo tudo é sistêmico; tudo e todos estão inter-relacionados, independentemente de qualquer opinião contrária manifestada por alguma das partes.
Criticado por mostrar vontade de entrar em contato com algumas tribos selvagens, Confúcio (aprox. 551 a.C – 479 a.C) viu-se diante da seguinte indagação: "- Por que este desejo? Eles são selvagens!". Indagação que ele respondeu assim: "- Mas se um tipo de homem mais adiantado não for até eles, como poderão sair do estado de selvagens?". Vinte e cinco séculos depois, este planeta ainda abriga muitos indivíduos com indagações semelhantes; muitos indivíduos que acham que pobreza é problema dos pobres e que não devem envolver-se com eles. Considero simplesmente impossível mudar uma sociedade para melhor sem o engajamento de seus melhores componentes na imprescindível tarefa de melhorar os piores. Piores em vários aspectos, entre eles o que concerne às condições financeiras.
Assim como entendo que a qualidade de uma sociedade é o resultado das ações de todos os seus componentes, entendo que mudar uma sociedade para melhor é tarefa para todos os seus componentes. Ou seja, é algo que necessita da minha participação. E ao dizer isto eu lembro a opinião de Herbert de Sousa (1935 – 1997), o Betinho, sobre mudanças: "Não existe mudança que não deva começar comigo", dizia ele. Opinião em perfeita sintonia com a de Mahatma Gandhi (1869 – 1948): "Seja a mudança que você deseja ver no mundo".
Betinho e Gandhi entendiam que a mudança começava neles e que precisavam ser a mudança que desejavam ver no mundo. E nós, como lidamos com a mudança? Bem, nós entendemos que realizar mudanças é tarefa que compete aos políticos, não é mesmo? Eles apregoam que representam a mudança, nós fazemos a nossa parte elegendo-os e então passamos a esperar que eles façam a parte deles realizando as mudanças.
Gandhi e Betinho viam-se como responsáveis pela mudança, enquanto nós optamos pela terceirização. Terceirizamos a responsabilidade pelas mudanças e diante da frustração quando elas não acontecem costumamos reagir usando uma expressão popular exaustivamente repetida: ninguém merece! Será que não? Não, não concordo com tal reação. No meu entender, qualquer coisa que acontece em uma sociedade, mesmo aquelas mais deploráveis, é algo que tal sociedade fez por merecer. Não entender que tudo o que acontece na vida é uma questão de merecimento até hoje só nos trouxe o que lamentar. Até quando insistiremos em não querer entender tal coisa?
Esta postagem apresenta algumas das minhas reflexões provocadas pela quantidade de vezes que li e ouvi a palavra mudança no período compreendido entre os dois turnos da eleição. Sugiro que reflitam sobre elas e cheguem as suas próprias reflexões. E caso cheguem a alguma (s) diferente (s) daquelas aqui apresentadas, solicito que as compartilhem, ok?
Considero de suma importância mudar a nossa relação com a mudança. Respondendo a pergunta que intitula a primeira postagem deste blog - Por que criei um blog? - a primeira frase de tal postagem é: "Porque acredito em uma afirmação atribuída a Caio Graco: 'Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas'". Ou seja, criei este blog porque acredito que quem muda o mundo são as pessoas. Para melhor ou para pior. Sendo assim, este blog tem a pretensão de ("espalhando ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem ações para torná-la cada vez melhor") despertar nas pessoas a vontade de contribuir para mudar o mundo para melhor. Compreendido?

Nenhum comentário: