Ainda em fase de
recuperação do desgaste emocional causado pela exposição ao clima insalubre da
reta final da campanha eleitoral, passei a última semana tentando descobrir qual
seria o melhor tema para o retorno às postagens. Após pensar bastante, a escolha
foi definida pela impressão que me causou a quantidade de vezes que li e ouvi
uma determinada palavra durante o mês de outubro. Uma palavra cujo significado
considero de suma importância, conforme vocês poderão verificar ao ler o último
parágrafo desta postagem. Que palavra é essa? Mudança.
E para começar a falar sobre mudança, retroajo
25 séculos e vou até a Grécia, no período compreendido entre os anos 535 a.C e 475 a.C. (aproximadamente).
Época e lugar em que, segundo historiadores, viveu um filósofo pré-socrático de
nome Heráclito. Um filósofo a quem é atribuída a expressão "Panta
Rei" que significa tudo flui; tudo
segue um grande fluxo perene no qual nada permanece como está, pois a única
coisa permanente é o estado de contínua mutação.
A única coisa permanente é o estado de
contínua mutação! Dá para discordar de tal afirmação? No meu entender, não, e a
quem discordar sugiro que escolha algumas coisas e compare como elas eram no
passado e como são hoje. Entendido que mudar seja algo inevitável, o próximo
passo é refletir sobre o que diz um antigo provérbio: "Mudar e mudar para
melhor são duas coisas diferentes". Ou seja, mudar também pode ser para
pior. E aqui alguém poderá argumentar: classificar se é para melhor ou para
pior é algo subjetivo.
Que tal classificação é algo subjetivo eu não discordo, e é aqui
que pode estar o problema. Sendo algo subjetivo, qual terá sido o ponto de
vista usado para definir se a mudança é para melhor ou para pior? O da
conveniência da sociedade como um todo ou apenas do segmento no qual o
classificador está inserido? Gosto muito de uma afirmação atribuída ao imperador
Marco Aurélio: "O que não convém ao enxame não convém tampouco à
abelha". Portanto, vejo na não assimilação de tal afirmação a origem da
maioria dos males que assolam esta insana sociedade.
Da mesma forma que a
força de uma corrente é determinada por seu elo mais fraco, a qualidade de uma
sociedade é determinada pelo seu segmento mais pobre. Portanto, de que adianta
uma parte dela viver na abundância, enquanto outras sobrevivem na pobreza? Afinal,
por mais que tal parte acredite ser possível isolar-se do "resto" da
sociedade, a interação entre esta e todas as outras partes jamais deixará de
ocorrer, pois no Universo tudo é sistêmico; tudo e todos estão
inter-relacionados, independentemente de qualquer opinião contrária manifestada
por alguma das partes.
Criticado por mostrar
vontade de entrar em contato com algumas tribos selvagens, Confúcio (aprox. 551 a.C
– 479 a.C)
viu-se diante da seguinte indagação: "- Por que este desejo? Eles são
selvagens!". Indagação que ele respondeu assim: "- Mas se um tipo
de homem mais adiantado não for até eles, como poderão sair do estado de selvagens?".
Vinte e cinco séculos depois, este planeta ainda abriga muitos indivíduos com
indagações semelhantes; muitos indivíduos que acham que pobreza é problema dos
pobres e que não devem envolver-se com eles. Considero simplesmente impossível
mudar uma sociedade para melhor sem o engajamento de seus melhores componentes na
imprescindível tarefa de melhorar os piores. Piores em vários aspectos, entre
eles o que concerne às condições financeiras.
Assim como entendo que a qualidade de uma
sociedade é o resultado das ações de todos os seus componentes, entendo que
mudar uma sociedade para melhor é tarefa para todos os seus componentes. Ou
seja, é algo que necessita da minha participação. E ao dizer isto eu lembro a opinião
de Herbert de Sousa (1935 – 1997), o Betinho, sobre mudanças: "Não existe
mudança que não deva começar comigo", dizia ele. Opinião em perfeita sintonia
com a de Mahatma Gandhi (1869 – 1948): "Seja a mudança que você deseja ver
no mundo".
Betinho e Gandhi entendiam que a mudança
começava neles e que precisavam ser a mudança que desejavam ver no mundo. E
nós, como lidamos com a mudança? Bem, nós entendemos que realizar mudanças é
tarefa que compete aos políticos, não é mesmo? Eles apregoam que representam a
mudança, nós fazemos a nossa parte elegendo-os e então passamos a esperar que
eles façam a parte deles realizando as mudanças.
Gandhi e Betinho viam-se como responsáveis
pela mudança, enquanto nós optamos pela terceirização. Terceirizamos a
responsabilidade pelas mudanças e diante da frustração quando elas não
acontecem costumamos reagir usando uma expressão popular exaustivamente
repetida: ninguém merece! Será que
não? Não, não concordo com tal reação. No meu entender, qualquer coisa que acontece
em uma sociedade, mesmo aquelas mais deploráveis, é algo que tal sociedade fez
por merecer. Não entender que tudo o que acontece na vida é uma questão de
merecimento até hoje só nos trouxe o que lamentar. Até quando insistiremos em não
querer entender tal coisa?
Esta postagem
apresenta algumas das minhas reflexões provocadas pela quantidade de vezes que
li e ouvi a palavra mudança no
período compreendido entre os dois turnos da eleição. Sugiro que reflitam sobre
elas e cheguem as suas próprias reflexões. E caso cheguem a alguma (s) diferente
(s) daquelas aqui apresentadas, solicito que as compartilhem, ok?
Considero de suma importância mudar a nossa relação com a mudança. Respondendo a pergunta que
intitula a primeira postagem deste blog - Por
que criei um blog? - a primeira frase de tal postagem é: "Porque acredito em uma afirmação atribuída a Caio Graco: 'Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros
só mudam as pessoas'". Ou seja, criei este blog porque acredito que
quem muda o mundo são as pessoas. Para melhor ou para pior. Sendo assim, este
blog tem a pretensão de ("espalhando
ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem ações para torná-la cada vez
melhor") despertar nas pessoas a vontade de contribuir para mudar o
mundo para melhor. Compreendido?
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