sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Uma interpretação do recente episódio de delação premiada

Evitar falar diretamente sobre política era algo para o qual eu estava me esforçando ao máximo, pois, no meu entender, são poucas as pessoas que conseguem lidar com tal assunto de forma racional. Mas, diante da torrente de absurdos que tomou conta desta reta final de campanha eleitoral, todo o meu esforço foi por água abaixo. E ao ir por água abaixo trouxe à tona lembranças de coisas ocorridas há mais de doze anos. E entre tais lembranças, a primeira trazida é de algo ocorrido há 25 anos: a eleição presidencial de 1989.
Após o susto pelo qual passara naquela eleição, recrudesceram, por parte do segmento que se considera dono deste país, as ações para impedir, a qualquer custo, que alguém não pertencente a tal segmento chegasse à Presidência da República. Mas, segundo notícias divulgadas naquela época, havia quem discordasse de tais ações. No entender de Delfim Netto, deveria ser feito exatamente o contrário: deixar Lula vencer a próxima eleição. Então, uma vez eleito, a estratégia seria "ajudá-lo" a fazer um péssimo governo (afinal, política se faz com parcerias, não é mesmo?), queimar sua imagem e a do partido pelo qual se elegeu, e dessa forma destruir, de uma vez por todas, a ideia de ter na Presidência da República alguém não pertencente ao segmento citado no início do parágrafo.
A opinião de Delfim Netto não prevaleceu, FHC foi eleito para a Presidência, comprou sua própria (ou seria imprópria?) reeleição, e dessa forma ocupou a Presidência da República, no período compreendido entre 01.01.1995 e 01.01.2003. Período durante o qual, em sua edição de 1º de julho de 2001, o Jornal do Brasil publicou na primeira página a seguinte manchete: Delfim Netto diz que FH 'estrepou o país'.
E foi com o país 'estrepado' que, em 01.01.2003, Lula chegou à Presidência da República. Então, não tendo conseguido impedir tal chegada, restava ao segmento que se considera dono deste país colocar em prática a sinistra ideia de Delfim Netto. E é à luz de tal ideia que interpreto o recente episódio de delação premiada.
Interpretação que começa a partir de uma reportagem de Mario Cesar Carvalho, Flávio Ferreira e Alexandre Aragão publicada pela Folha de S.Paulo em 09.10.2014 (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1529844-lula-deu-diretoria-a-paulo-roberto-apos-pressao-de-aliados-diz-youssef.shtml) com o seguinte título: Lula deu diretoria a Paulo Roberto após pressão de aliados, diz Youssef. É também da referida reportagem a seguinte afirmação: "Na época o presidente ficou louco, teve que ceder e realmente empossar Paulo Roberto Costa, completou o doleiro."
Empossado graças à pressão de aliados, Paulo Roberto é hoje usado apenas para incriminar o partido daquele que recebeu a pressão para empossá-lo. É a velha e nojenta prática de negar-se a ver que, da mesma forma que quando um não quer dois não brigam, quando um não quer corromper dois não corrompem. Em outras palavras: da mesma forma que sem milho não há pipoca, sem corruptor não há corrupção. Compreendido? Mas, se Paulo Roberto foi colocado em uma diretoria devido à pressão de aliados, de quem teria sido a referida pressão?
Segundo matéria da jornalista Helena Sthephnowits, na Rede Brasil em 14.10.2014, quem indicou Paulo Roberto para Diretor da Petrobrás foi o líder do Partido Progressista - PP, Francisco Dornelles, primo de Aécio Neves. Dornelles que também indicou no governo de Sarney, o recém formado, Aécio Neves, aos 25 anos, para diretor de Loterias da Caixa Econômica Federal.
E ainda sobre o episódio da delação premiada, segue algo escrito no blog Democracia & Política pela jornalista Tereza Cruvinel: "Denúncia grave: Juiz e procuradores do MP teriam armado depoimento de Costa para derrubar o PT, com vazamentos premeditados, escolhidos e somente vazados para mídia selecionada (VEJA e GLOBO)."
Em determinados momentos, é angustiante a vida de quem tem memória, pois ao ler que "vazamentos premeditados, escolhidos e somente vazados para mídia selecionada (VEJA e GLOBO) teriam sido resultado de depoimento armado para derrubar o PT", inevitavelmente, me vem a memória o episódio da edição do último debate da eleição de 1989, promovido pela GLOBO. Edição premeditada e para a qual foi escolhido o melhor de um candidato e o pior do outro com a intenção de derrubar o PT.
Sem me alongar mais, considero que o que foi dito acima seja suficiente para enxergar na atuação de Paulo Roberto Costa uma manifesta aplicação da sinistra ideia de Delfim Netto.
Esta postagem é intitulada Uma interpretação do recente episódio de delação premiada. Considero saber interpretar algo tão importante que entre as ilustrações do meu blog a primeira é a seguinte frase de Ariston Santana Teles. "Melhor vive quem melhor conhece; e melhor conhece quem melhor interpreta. Daí a necessidade de esforços cada vez maiores na iluminação do raciocínio." Iluminação para a qual contribui muito uma sábia afirmação de Soren Kierkgaard, filósofo e teólogo dinamarquês (1813-1855): "A vida só pode ser vivida olhando para frente, mas só pode ser compreendida olhando para trás".
E é só compreendendo o "para trás" que se consegue melhorar o "para frente". Dito isto, reflitam sobre o que foi dito acima, avaliem se faz sentido a interpretação que fiz do referido episódio e façam também a sua. "Não desprezeis as profecias; mas examinai tudo, retende o bem.", diz Paulo de Tarso em sua primeira carta aos Tessalonicenses. Não desprezeis o que é dito pelos "formadores de opinião"; mas examinai tudo, pensai bem e fazei vossa própria interpretação, para o vosso próprio bem, digo eu nesta primeira postagem aos eleitores.
Conforme foi dito na primeira frase desta postagem, são poucas as pessoas que conseguem lidar com o assunto "política" de forma racional. Sendo assim, termino esta postagem com uma recomendação. Do mesmo modo que evitei ao máximo falar diretamente sobre política neste blog, recomendo a vocês que evitem ao máximo manifestarem-se sobre tal assunto caso não estejam em um estado de relativo equilíbrio emocional (estado de perfeito equilíbrio é algo praticamente impossível) para fazê-lo, ok?

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