Após a impressionante
quantidade de vezes que li e ouvi a palavra meritocracia durante o mês de
outubro, redigir uma postagem focalizando-a passou a ser uma questão de puro
merecimento. E para começar a falar sobre ela segue um de seus possíveis significados.
Meritocracia é o método que consiste na atribuição de recompensa aos que
possuem méritos. E o que é mérito? É aquilo que faz com que uma pessoa seja
digna de recompensa; merecimento. Apresentado o significado, seguem dois parágrafos
contendo algumas frases interessantes selecionadas por mim na Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Meritocracia).
"Embora a maioria das organizações seja apologista da meritocracia, esta não se expressa na sua forma pura em nenhum lugar. Governos como de Singapura e da Finlândia utilizam padrões meritocráticos para a escolha de autoridades, mas misturados com outros.O problema perene na defesa da meritocracia é definir, exatamente, o que cada um entende por "mérito". Além disso, um sistema que se diga meritocrático e não o seja na prática será um mero discurso para mascarar privilégios e justificar indicações a cargos públicos."
Embora a maioria das organizações seja apologista da
meritocracia, esta não se expressa na sua forma pura em nenhum lugar, diz uma das frases
selecionadas na Wikipédia. Vocês
conhecem um antigo ditado que diz "Faça o que eu
digo, mas não faça o que eu faço"? Pois é! Sempre que ouvi falar em
meritocracia, o que vi foi uma clara e manifesta aplicação desse antigo e
deplorável ditado. Fazer apologia é uma coisa, praticar o que se apologiza é outra. Falar em
meritocracia é fácil, difícil é praticá-la. E ao dizer isto eu lembro o criativo slogan de uma antiga loja que vendia
tecidos. Sim, por mais incrível que possa lhes parecer, já houve época em que
as pessoas compravam tecidos para fazer roupas sob medida. Qual era o slogan de tal loja? Casas Huddersfield: difícil de pronunciar, mas fácil de encontrar!
Slogan que possibilita
a seguinte paráfrase: Meritocracia: fácil
de pronunciar, mas difícil de encontrar. Difícil de encontrar por ser simplesmente
incompatível com algo denominado cargo de confiança. O que é cargo de
confiança? É um cargo de cujo ocupante espera-se o seguinte comportamento: nunca
trair a confiança daqueles que nele o colocaram e jamais deixar de fazer "tudo
o que o seu mestre mandar". Afinal, vivemos em uma sociedade que tem no "manda
quem pode e obedece quem tem juízo" um de seus lemas prediletos, não é
mesmo? E em uma sociedade onde vigore tal lema e proliferem os denominados
cargos de confiança, falar em meritocracia será um mero discurso para
mascarar privilégios e justificar indicações a cargos públicos. Diante de
tudo o que se vê nesta sociedade, falar em meritocracia é praticar hipocrisia.
E aproveitando a
frase que diz que o problema perene na
defesa da meritocracia é definir, exatamente, o que cada um entende por
"mérito", eu sugiro que se olhe a meritocracia a partir de um ponto
de vista do qual, creio eu, seja imprescindível olhá-la. Do ponto de vista que
possibilite perceber que qualquer coisa que ocorre com uma sociedade (mesmo as coisas
mais deploráveis) seja algo que tal sociedade fez por merecer. Fez por merecer!
Eis a explicação para a existência dos males que nos afligem. Fazer por
merecer! Eis a solução para nos livramos deles e sem eles construirmos uma
sociedade melhor.
"A boa sociedade não é uma dádiva, mas
trata-se de um processo de construção coletivo, em que as boas organizações (lembre-se de que
vivemos em uma sociedade organizacional) serão seus esteios. Por outro lado,
entendem os autores que estas ficções
legais, que chamamos organizações, são decorrência, por sua vez, de
indivíduos que nelas atuam", é uma afirmação encontrada em
um livro intitulado
Magia & Gestão – Aprendendo a
ReAdministrar sua Vida Pessoal, de autoria de Geraldo R. Caravantes e
Wesley E. Bjur. Ou seja, a boa sociedade
não é uma dádiva, e sim uma consequência meritocrática das ações dos indivíduos que nela atuam. Mas se a
boa sociedade não é uma dádiva, e sim um processo de construção coletivo, a má
sociedade também o é, conforme pode ser demonstrado pelo que é dito a seguir.
"O analfabetismo,
a falta de ocupação, a vida difícil e a miséria poderão criar uma grave
situação de insegurança que evoluiria para uma criminalidade
irreprimível." Ditas, em fevereiro de 1945, por Alberto Pasqualini (1901 –
1960), advogado, professor, sociólogo e senador que daria nome à refinaria
localizada em Porto Alegre, as palavras acima eram uma profecia. Afinal, o que
é uma profecia? É uma advertência sobre algo a que estará sujeita uma sociedade
caso seus integrantes insistam em prosseguir pelo caminho em que enveredaram.
O tempo passou, em seu
caminho equivocado a sociedade continuou e, consequentemente, tal profecia se
concretizou. Que esta sociedade já atingiu um estágio de criminalidade
irreprimível (conforme advertira Alberto Pasqualini) creio que seja algo difícil
de contestar. Sendo assim, faço aqui a seguinte pergunta: será que atingir uma
condição deplorável, após ter sido alertada de que se encaminhava para tal, pode
ser considerada, para esta sociedade, uma questão de merecimento? No meu
entender, sim.
Enxergo na meritocracia (vista do ponto de
vista por mim sugerido) uma lei universal, pois, no meu entender, tudo ao que
se está sujeito ao viver em uma determinada sociedade é uma questão de
merecimento de tal sociedade, por mais que, devido a conveniências imediatistas e equivocados,
insista-se em não querer enxergar tal coisa. Conforme foi dito na postagem
anterior, discordo inteiramente daquela expressão popular exaustivamente
repetida: "ninguém merece!".
Portanto, para terminar esta postagem, segue
mais uma sugestão: reflitam sobre o que foi dito até aqui, façam suas próprias
reflexões sobre meritocracia e avaliem a afirmação de que estar sujeita aos males
originados por seu estágio evolutivo coletivo é, para uma sociedade, uma
questão de puro merecimento; uma questão de meritocracia. Questão que ao ser
entendida tende a despertar, naqueles que a entendem, a vontade de agir no
sentido de fazer com que a meritocracia passe a atuar em prol da sociedade a qual
pertencem, e não contra ela, como tem sido até hoje.
Meritocracia é algo do qual qualquer sociedade
jamais conseguirá livrar-se, e diante de alguma coisa da qual jamais conseguiremos
nos livrar, creio que a única opção inteligente seja fazer tal coisa atuar a nosso favor. Que tal refletir sobre isto?
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