Após uma série de postagens provocadas por
solicitações e sugestões de alguns ex-colegas de trabalho e eternos amigos,
segue uma sugerida por duas recentes
ocorrências. A primeira delas foi a leitura de uma postagem homônima publicada,
em 21.07.2014, no blog idiossincrasiabyselmo.blogspot.com.br.
A segunda foi a trágica resposta dada pelo ator Robin Williams à questão
proposta no título, no dia 11 do mês passado. Questão que associo a uma
afirmação de Albert Camus (1913 – 1960), escritor, romancista, ensaísta,
dramaturgo e filósofo francês nascido na Argélia, que diz que "há um só problema verdadeiramente sério e é... estabelecer se vale
ou não a pena viver...". Afirmação que suscita outra questão: é
possível estabelecer se vale ou não fazer determinada coisa sem saber o que
seja essa coisa? É possível estabelecer se vale ou não a pena viver sem saber o
que seja a vida?
Outra questão, outra associação,
outra afirmação. Em uma reportagem sobre Vaclav Havel (1936 – 2011),
ex-presidente da República Tcheca e premiado dramaturgo que destacou-se nos
anos 1980 e 1990 pela luta contra o regime comunista patrocinado por Moscou na
antiga Checoslováquia, publicada na edição de 19.12.2011 (dia seguinte ao de
sua morte) do jornal O Estado de S. Paulo, é
atribuída a ele a seguinte a afirmação: "A tragédia do
homem moderno não é que ele saiba menos sobre o significado de sua vida, mas o
fato de ele não incomodar-se com isso."
Não incomodar-se com o fato de não saber qual seja o significado
da vida! Eis a tragédia do homem moderno, segundo a afirmação de Havel.
Afirmação que, pelo método das associações sucessivas, leva-me de Vaclav Havel a
Blaise
Pascal (1623 – 1662), físico, matemático, filósofo e teólogo francês. Vejam o
que diz ele:
"A imortalidade da alma é uma
coisa de tal importância, interessa-nos tão profundamente, que é preciso ter
perdido toda a sensibilidade para ser-se indiferente ao seu conhecimento.
O nosso primeiro interesse e o nosso
primeiro dever são os de nos esclarecermos sobre este assunto, de que depende
toda a nossa conduta: e é por isso que eu faço uma distinção extrema entre os
que trabalham com todas as suas forças para nele se instruírem, e os que vivem
sem dele cuidarem e sem nele pensarem.
Esta negligência numa questão em que se
trata deles mesmos, da sua eternidade, do seu todo, irrita-me mais do que me
comove, surpreende-me e espanta-me, é monstruosa para mim. Não falo assim pelo
zelo piedoso duma devoção espiritual. Pelo contrário, entendo que se deve ter
este sentimento por um princípio de interesse humano."
E juntando as
afirmações de Havel e de Pascal chegamos a algo que, no meu entender, faz
bastante sentido para explicar a vida sem sentido da maioria dos integrantes da dita espécie
inteligente do Universo, pois a tragédia apontada por Havel tem tudo ver com a
negligência apontada por Pascal. Não interessar-se pelo que pode lhe acontecer
após essa coisa denominada morte tem tudo a ver com não incomodar-se com o fato
de não saber qual seja o significado dessa coisa chamada vida. Sabe de nada, negligente!
E sabendo de nada, uma enorme quantidade de seres da espécie já citada recorre
ao suicídio, ou seja, recorre à morte como "solução" para o problema de não saber lidar com a vida.
Aprender a lidar com a
vida! Algum de vocês conhece um método rápido, prático e que surte efeito para
aprender tal coisa? Creio que não, pois, no estágio evolutivo em que se
encontra esta civilização, métodos rápidos e práticos jamais surtirão efeito
quando tratar-se de aprendizados comportamentais. Aprendizados que jamais terão
êxito enquanto não nos dispusermos a refletir sobre as quatro questões
milenares cada vez mais abandonadas nesta civilização que estimula, única e
exclusivamente, o entretenimento, em detrimento da reflexão. Que questões são essas?
O que é o homem? De onde ele veio? Para onde ele vai? O que ele veio fazer neste
mundo?
Questões que, no meu entender, contribuíram para
que Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), teólogo, filósofo e paleontólogo
francês, pudesse chegar a seguinte conclusão: "Não somos seres humanos
vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma
experiência humana." E como seres espirituais que
somos, jamais nos sentiremos verdadeiramente realizados enquanto satisfizermos
apenas nossas necessidades materiais; jamais deixaremos de procurar – de forma
consciente ou inconsciente - um sentido para a vida. E dependendo da forma de
procurar os resultados são completamente diferentes. Enquanto, a procura
consciente resulta no encontro de um sentido para a vida e, consequentemente,
na crença de que vale a pena viver, a procura inconsciente é vã, resulta na crença
de que não vale a pena viver e, muitas vezes, muitas mesmo, induz ao suicídio.
E neste ponto, volto
a mencionar Robin Williams. Em uma prática bastante previsível, sua morte levou
as emissoras de televisão a reapresentarem seus filmes. E foi assim que, sem
querer (pois não fui eu quem deixara ligada a televisão naquele canal, naquele
momento), tornei a assistir Patch Adams – O amor é
contagioso. Mas ao assistir pude tornar a ouvir uma afirmação que tem tudo a
ver com esta postagem: "Tudo o que vale a pena fazer é difícil.", diz
o protagonista, ao ouvir que o que pretende fazer é algo muito difícil.
"Tudo o que vale a pena fazer é difícil.",
é a afirmação feita no filme. "Vale a pena viver?",
é a pergunta feita no título da postagem. Portanto, se viver é algo que vale a
pena fazer, viver é algo difícil. Difícil, mas que vale a pena fazer. No papel de Patch
Adams, Robin Williams diz que "Tudo o que vale a pena fazer é difícil.".
Na vida real, com seu trágico ato, ele "disse" exatamente
o contrário: "O que é difícil não vale a pena fazer." Entre o
personagem e o ator, fico com Patch Adams, e espero que vocês também fiquem. Quanto
à trágica resposta dada por Robin Williams a pergunta "Vale a pena viver?",
tenho a seguinte opinião: é uma pena que ele tenha respondido dessa forma.
E é também uma pena
Robin Williams não ter acreditado em algumas mensagens passadas por personagens
por ele interpretados. Além da citada acima, há outra inesquecível em Amor além da vida: "O que alguém chama de impossível é
simplesmente algo que jamais tinha visto". Filme em que ele
interpreta um personagem que sempre dizia a todos da família "nunca
desista" e no qual sua esposa comete suicídio por não conseguir lidar com
as mortes inesperadas de seus filhos e dele próprio, em dois acidentes, ou seja,
por não conseguir lidar com os fatos da sua vida. E ao escrever o trecho final
desta frase, lembrei de uma entrevista com Robin Williams publicada na edição
de 12 de fevereiro de 2007 da revista Época.
Uma entrevista assinada por Andreas Renner, da revista Focus, intitulada Sempre engraçado.
E agora sóbrio.
Entrevista cuja
primeira pergunta é: "O senhor não bebia uma só gota de álcool havia 20
anos. Por que a recaída há alguns meses?" Pergunta cujo trecho inicial da
resposta é: "Na verdade, foram 19 anos. No ano passado, cheguei a um ponto
em que os fatos da minha vida ultrapassaram minha capacidade de lidar com eles."
O tempo seguiu e oito anos e meio depois, Robin Williams, mais uma vez, viu-se em
um ponto em que os fatos de sua vida ultrapassaram sua capacidade de lidar com
eles. E dessa vez seu desespero foi tão grande que, esquecendo o que seu
personagem em Amor além da vida dizia
sempre dizia a todos da família ("nunca desista"), mas lembrando a
personagem que representava sua esposa naquele filme, que em um ato extremo desistira
desta vida e partira para o além, ele também desistiu desta vida e partiu para
o além. Foi realmente uma pena Robin Williams não ter conseguido acreditar nas
belas mensagens passadas pelos dois filmes citados nesta postagem.
"O que alguém chama de impossível é
simplesmente algo que jamais tinha visto". Portanto, "nunca
desista", pois "Tudo o que vale a pena fazer é difícil." Sendo
assim, por mais difícil que possa lhe parecer, faça tudo, mas tudo mesmo, para
que na sua vida o ponto de interrogação que aparece no título desta postagem
seja substituído por um ponto de exclamação; para que a questão apresentada no
título transforme-se em uma afirmação. Transformação que passa inevitavelmente
por reflexões sobre as quatro questões milenares citadas nesta postagem, e das
quais a maioria da dita espécie inteligente do Universo tanto se esquiva. Muitas vezes de forma trágica.
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