Continuação de quinta-feira
Mas
os erros cometidos pelos dirigentes da CBF não se restringem a volta de Carlos
Alberto Parreira. Em mais um erro de estratégia, mais uma volta foi promovida:
a de Felipão. O motivo para mais essa? O mesmo da outra. Ter alguém que possa lhes servir de
escudo contra ataques provocados por eventuais fracassos pelos quais pudessem ser
acusados. Em um linguajar popular o motivo seria
descrito assim: "tirar o deles da reta". Dentro de seu modo de ver as coisas, em
caso de fracasso poderiam alegar algo mais ou menos assim: "Fizemos o melhor
possível. Contratamos os profissionais que nos deram os dois últimos títulos
mundiais." E se as condições de saúde permitissem, provavelmente, teriam
trazido também o velho lobo (Mário
Jorge Lobo Zagallo).
Em
mais um erro do nível estratégico, a função de técnico da seleção brasileira foi
entregue a alguém que, se no passado contribuíra para torná-la campeã do mundo,
no presente não estava apto a repetir o feito. Alguém que discordando de
Cazuza (que dizia que o tempo não pára) teria, ele sim, parado no tempo e
tornara-se um profissional inadequado para protagonizar o nível tático da CBF.
Será que é possível uma seleção obter êxito em uma Copa do Mundo tendo como
técnico alguém que desconhece a capacidade das outras seleções que dela
participam?
Em entrevista
concedida ainda na primeira fase, defendendo-se de críticas pelo fraco
desempenho da seleção, mesmo tendo enfrentado apenas adversários que não
estavam entre os mais fortes, vosso técnico (meu ele não é) disse algo mais ou
menos assim: "o que vocês não vêem é que nós enfrentamos adversários
qualificados, muito melhores do que imaginávamos".
Melhores do que imaginávamos! Como assim cara pálida? De onde
vieram tais adversários? De outro planeta? Talvez, pois só vindo de outro
planeta seria válido alegar que sua qualidade ultrapassara a imaginação de
alguém deste. Afinal, para adversários oriundos deste próprio planeta não é
necessário imaginar nada, basta observá-los. Será que entre as atribuições de
um técnico não está incluída a necessidade de assistir os jogos das seleções
que participariam da Copa para saber como elas atuam e não ser surpreendido por
elas durante a competição? Será que sem conhecer a capacidade dos adversários é
possível desenvolver a melhor tática para enfrentá-los? No meu entender, não,
mas na minha longa trajetória no mundo corporativo, muitas vezes vi algo
semelhante. Tentar dar uma solução sem antes identificar qual é o problema é
análogo a tentar vencer um adversário sem estudar o modo como ele atua.
Mas
os erros do nível tático não pararam por aí. E que o pior: erros de tática afetam
diretamente o nível operacional. Um dos mais criticados pelo fracasso da
seleção foi o jogador Fred. A que nível pertence ele? Ao operacional. Mas será
que o fato de ter fracassado na Copa não resulta do fato de sua forma de jogar
ser incompatível com a tática usada pelo técnico? No meu entender, sim. E sendo
assim, surge a seguinte questão: como é que um técnico convoca um jogador,
declara-o seu homem de confiança e desenvolve um esquema tático que nada tem a
ver com a forma de jogar desse jogador? Para responder a esta pergunta só mesmo
apelando para um comentário do próprio Felipão em um vídeo que vazou (?) e no
qual ele fala sobre o trágico 7
a 1. "É coisa de louco para pensar. Não entendo,
pô!". E é ainda em relação à questão "como
é que um técnico convoca um jogador...?" que segue o parágrafo abaixo.
Três
dias após o Brasil quase ter sido eliminado pelo Chile, durante um encontro com seis jornalistas na Granja Comary, Felipão
confessou que, se pudesse, trocaria um jogador entre os convocados para a Copa
do Mundo. Qual seria esse jogador, até hoje, não sei quem é, mas o fato de
admitir ter errado na convocação é algo bastante chocante. Considerando a
quantidade de jogadores que nascem neste país e devido a sua qualidade é exportada
para as principais ligas futebolísticas do planeta, a probabilidade de o Brasil
ter uma equipe capaz de conquistar qualquer título que disputar é muito grande.
Afinal, mão de obra, ou melhor, pé de obra é o que não falta a um técnico da
seleção brasileira.
Portanto, sendo uma seleção, o que tem faltado (e não é de hoje) é um
técnico capaz de selecionar melhor os jogadores e, mais importante do que isso,
saber transformar o grupo selecionado em uma equipe capaz de atuar segundo
esquemas táticos desenvolvidos em função dessa equipe e dos adversários que vier
a enfrentar. Foi isso o que se pôde ver por parte de alguns técnicos de
seleções menos aquinhoadas com jogadores de qualidade superior, e que, há algum
tempo, não se vê na seleção brasileira.
Em
1997, após um jogo amistoso em que a Noruega venceu o Brasil por 4 a 1, o técnico da seleção
norueguesa disse algo mais ou menos assim: "Se eu dispusesse dos jogadores
de que dispõe o técnico da seleção brasileira dificilmente eu perderia alguma
coisa que disputasse.". O jogo fazia parte da preparação do Brasil para a
Copa de 1998 e a declaração fora provocada por um comentário do técnico da
seleção brasileira (Zagallo) que reclamara por ter que jogar com equipes inexpressivas como a Noruega.
No
ano seguinte, na Copa do Mundo, o destino colocou Brasil e Noruega no mesmo
grupo, o que levaria a um novo confronto entre eles. Em um jogo que, dessa vez,
não seria por escolha de adversários inexpressivos para amistosos, e sim uma partida
válida pela primeira fase da Copa. Antes de tal jogo, o velho lobo, que detestara a declaração feita pelo técnico
norueguês no ano anterior, afirmou que após o novo confronto aquele falastrão
teria que engolir a declaração que fizera. O resultado da nova partida? Para
aqueles que não sabem (e também para os que sabem): 2 a 1 para a Noruega. Ou seja,
mais uma derrota diante daquela equipe
inexpressiva. Será que o falastrão era o técnico norueguês? Será que é
correta a declaração do técnico norueguês de que embora tendo a sua disposição
os melhores jogadores do mundo o técnico da seleção brasileira não conseguia
montar a melhor equipe? Por que tal coisa acontece?
Porque
de nada adiante ter o que há de melhor no nível operacional, se o nível tático
não souber como dele tirar o melhor proveito. Não saber como tirar o melhor
proveito do nível operacional ao seu dispor é mais uma das lamentáveis coisas que
vivenciei durante a minha longa trajetória profissional no mundo corporativo.
Em cumprimento a
promessa de apresentar considerações sobre o 7 a 1 diante da Alemanha e
analogias entre futebol e mundo corporativo, feita no penúltimo parágrafo de "O que é a Copa do Mundo de Futebol?",
até aqui, foram apresentadas analogias entre futebol e dois (estratégico e
tático) dos três níveis segundo os quais são estruturadas as corporações. Sendo
assim, o que falta é a analogia entre futebol e o terceiro desses níveis: o
operacional. Analogia que será o assunto da próxima postagem. Postagem que ainda não redigi e que espero que seja a última
sobre o tema "O 7 a
1 sob o ponto de vista do mundo corporativo". Se, será ou não, depende do
tamanho que ela atingir.
Continua na próxima sexta-feira
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