quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O 7 a 1 sob o ponto de vista do mundo corporativo (I)

Cumprindo a promessa feita em "O que é a Copa do Mundo de Futebol?" de que seria elaborada uma postagem apresentando considerações sobre o 7 a 1 diante da Alemanha e analogias com o teatro corporativo, eis a postagem prometida. Ela foi elaborada devido a sugestões e solicitações que recebi, foi difícil de redigir e resultou em um texto longo. Sendo assim, com a intenção de aumentar a probabilidade de ser lida, o jeito foi apelar para o velho método Jack: ir por partes.
Uma coisa que futebol e mundo corporativo sempre tiveram em comum é o fato de envolverem atividades coletivas, ou seja, de serem coisas em que sucesso ou fracasso resultem de saber ou não trabalhar em e com equipes. Uma coisa que futebol e mundo corporativo nem sempre tiveram em comum é o fato de suas atividades serem praticadas com a finalidade de obter lucro. Embora, para corporações essa tenha sido sempre a finalidade principal, para o futebol, acreditem vocês ou não, inicialmente a intenção era o prazer de praticar um esporte. Sim, por mais incrível que possa parecer, já houve época em que acreditava-se que "esporte é saúde; esporte é vida.". Hoje, "esporte é negócio; esporte é dinheiro (muito dinheiro!); esporte são contusões, (muitas vezes, graves); esporte não é vida, e sim um meio de ganhar (sic) a vida; esporte é, eventualmente, morte, pois, não poucas vezes, atletas morrem em decorrência de práticas desportivas".
Em um mundo onde para uma imensa quantidade de seus integrantes a única finalidade da vida é ganhar dinheiro, a partir do momento em que os esportes passaram a ser percebidos com uma fantástica fonte de lucros, as entidades que lidam com desportistas profissionais passaram a ter a necessidade de agir como empresas. E agindo assim elas seguem as práticas do mundo corporativo. Mundo que é estruturado segundo três níveis organizacionais. Não, estratégico, tático e operacional não são os nomes dos três navios que compunham "a frota" de Cristóvão Colombo, e sim a denominação dos três níveis organizacionais. Níveis de cuja qualidade de funcionamento depende o êxito de qualquer empresa que se preze. Dito isto, seguem algumas descrições que auxiliam o entendimento do que sejam esses três níveis.
O que é estratégia? É a arte de explorar condições favoráveis com o fim de alcançar objetivos específicos. E entre a exploração de tais condições está incluída a escolha dos profissionais que comporão o nível tático, daqueles que serão responsáveis pela elaboração da tática. A quem cabe definir a estratégia? Aos dirigentes da empresa.
O que é tática? É o conjunto de meios ou recursos empregados para alcançar um resultado favorável. E em tal conjunto o que há de mais importante é descobrir o melhor meio de usar os recursos de que a empresa dispõe para alcançar seus objetivos. Recursos dentre os quais o mais importante são os profissionais que compõem o nível operacional. A quem cabe definir a tática? Aos profissionais escolhidos pelos dirigentes para atuar entre eles e os profissionais que desenvolvem as atividades da empresa; aos profissionais denominados gerentes.
O que é operacional? É um adjetivo relativo à operação e serve para qualificar alguma coisa que está pronta para funcionar, que está em condições para realizar operações. Também significa operativo,... Alguma coisa que está pronta ou alguém que está apto para realizar operações. A quem cabe atuar no operacional? Aos profissionais que desenvolvem as atividades da empresa.
Estabelecidas as descrições acima, considerando que a CBF seja uma empresa que deve ter entre os seus objetivos específicos a conquista dos torneios em que a seleção brasileira de futebol participe, seguem algumas considerações que, na minha opinião, ajudam a entender as causas da contundente derrota por 7 a 1 diante da Alemanha.
Uma prática bastante comum entre dirigentes de corporações é a contratação de um famoso consultor que possa lhes servir de escudo contra ataques decorrentes de eventuais fracassos pelos quais eles possam ser acusados. É em conformidade com tal prática que enxergo a contratação pela CBF do famoso consultor Carlos Alberto Parreira. Campeão mundial como técnico da seleção brasileira em 1994, Parreira saiu pelo mundo afora dirigindo seleções de outros países e voltou a comandar a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2006. Uma volta desastrosa que merece alguns comentários.
Pouco antes de viajar para Weggis, na Suíça, onde a seleção brasileira realizaria a preparação para a Copa do Mundo da Alemanha (em 2006), Parreira lançou um livro intitulado Formando Equipes Vencedoras. O Brasil foi eliminado pela França nas quartas-de-final, pois Parreira não conseguiu "formar uma equipe vencedora", o livro foi colocado em promoção ou oferecido como brinde na compra de outros livros, e a seleção brasileira, momentaneamente, livrou-se de Parreira.
Sim, momentaneamente, pois considerando que, para essa tal de espécie inteligente do Universo, a lembrança de um único sucesso é capaz de provocar o esquecimento de vários fracassos, Parreira continuou tendo espaço para atuar como técnico de futebol. E sendo assim, na Copa seguinte ele comandou a África do Sul (seleção anfitriã) em mais uma lamentável participação como técnico. E o pior: quatro anos depois ele estava de volta à comissão técnica da seleção brasileira. De volta para participar de mais um fracasso da seleção; de volta em decorrência de um erro do nível estratégico da corporação responsável pelo futebol brasileiro que o escolhera para a função de coordenador técnico.
E de forma semelhante ao que ocorrera em há oito anos, agora, em 2014, durante a cerimônia de inauguração da nova sede da CBF, ocorrida no dia 4 de junho, Parreira protagonizou mais um episódio lamentável. Se, pouco antes da Copa de 2006, ele lançara um livro que seria desmentido pela participação do Brasil na Copa, agora, ele fez uma declaração que também seria desmentida pela participação da seleção brasileira na Copa.
"A CBF é um exemplo para o Brasil. É o Brasil que deu certo, que dá certo. É muito bem organizada.", declarou essa figura que começou a envolver-se com a seleção brasileira durante a Copa do Mundo de 1970. Época em que ainda nem existia a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), e apenas a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), uma confederação que, como diz o nome, abrangia todos os esportes. Naquela época, Parreira fazia parte da equipe de preparação física. Hoje, ele anda por aí à solta fazendo propaganda de suas palestras. O que fala em tais palestras, eu não quero nem imaginar! Quanto a sua declaração citada no início deste parágrafo, minha opinião é a seguinte: É lamentável um país ter a CBF como exemplo.
Continua na próxima terça-feira

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