Antes de
qualquer outra coisa, devo dizer que sempre gostei de futebol. Tanto de ver
quanto de jogar, embora eu sempre tenha sido melhor vendo do que jogando. Mas
algo do qual eu nunca gostei é a exagerada euforia que toma conta deste país a
cada edição de uma Copa do Mundo FIFA. Exagerada euforia da qual resultam duas crenças
equivocadas e, consequentemente, nocivas: a de que todos os nossos problemas
estarão resolvidos caso o Brasil vença a Copa e a de que o mundo acabará caso o
Brasil não vença. Assim como tudo o que é exagerado, a euforia com que a
torcida brasileira participa de uma Copa do Mundo FIFA é, no meu entender,
algo não salutar. Em conformidade com tal entendimento espalhei, na postagem anterior, o artigo de Rita Siza intitulado Valores mais altos e nesta compartilho algumas reflexões provocadas por ele.
"Durante algumas semanas, estaremos absorvidos pelos treinos e pelos jogos realizados na África do sul, como o holandês também esteve durante a sua vida em Barcelona. Mas, durante este tempo, nossas crianças terão de continuar a ir à escola com tranquilidade e segurança, como também foram os filhos do Cruyff. O sucesso e a felicidade delas valem muito mais do que uma Copa do Mundo.
Em tempos de Copa, acho que Cruyff tem toda a razão: há coisas mais importantes na vida do que o futebol."
É assim
que Rita Siza termina o seu artigo. Sim, o sucesso e a felicidade de nossas
crianças valem muito mais do que uma Copa do Mundo. E a tranquilidade e
segurança para continuarem indo a escola também. Sucesso, felicidade, tranquilidade e segurança: coisas que são mais
importantes na vida do que o futebol. Coisas que nossas crianças jamais desfrutarão
apenas pelo fato de terem nascido e de viverem no país que por mais vezes
conquistou a Copa do Mundo FIFA. Coisas cuja obtenção jamais dependerá da
conquista de mais uma Copa, pois se fosse assim a maioria dos
integrantes deste planeta jamais teria a possibilidade de tê-las. Afinal a Copa
do Mundo FIFA ocorre apenas a cada quatro anos e tem somente um campeão, não é mesmo?
Sucesso, felicidade, tranqüilidade e segurança: coisas que são mais
importantes na vida do que o futebol. Coisas cuja obtenção depende do esforço
permanente de seres conscientes da imprescindibilidade de lutar para
consegui-las, e não da participação temporária (pouco mais que um mês a cada quatro
anos) de torcedores que, impelidos pela indústria da comunicação, colocam nos pés
de vinte e três jogadores a responsabilidade por algo que deve estar nas mãos
de todos os integrantes do país: a felicidade da nação em que vivem. É muita
responsabilidade para vinte e três jogadores! Jogadores que em sua maioria nem
vivem neste país. É muita irresponsabilidade por parte de todos os que lhes
atribuem tal responsabilidade!
Não, a
felicidade de uma nação não deve depender do que fizerem os pés de vinte e três
jogadores durante uma Copa do Mundo, pois há coisas mais importantes na vida do
que o futebol. E foi por não entender isto que há sessenta e quatro anos o povo
deste país entendeu o desfecho de uma Copa do Mundo como sendo uma verdadeira
tragédia.
Em conformidade com o
seu programa de preparação psicológica dos torcedores para uma Copa do Mundo
FIFA, a cada Copa a indústria da comunicação exibe retrospectos das anteriores.
Considerando que esta é a segunda vez que a Copa do Mundo FIFA será realizada
neste país, reforçar a lembrança da primeira era algo inevitável. Inevitabilidade que me possibilitou assistir, na semana passada, uma
reportagem sobre a Copa de 1950. Uma
reportagem onde é dito que ao andar pelas ruas do Rio de Janeiro, após o jogo
final da Copa, o capitão da equipe uruguaia ficou chocado com o que viu; com a
tristeza que se abateu sobre os brasileiros. Segundo ele, a impressão que ele
tinha é que ocorrera uma verdadeira tragédia e não apenas um jogo de futebol.
Por que isso aconteceu? No meu entender, devido à importância exagerada que se
dá a uma Copa do Mundo. Devido ao não entendimento de que há coisas mais importantes na vida do que o futebol.
Portanto,
em conformidade com a ideia espalhada por esta postagem (há coisas mais
importantes na vida do que o futebol) encerro-a dizendo que
torcer pela seleção pode até ser uma atitude louvável, mas evitar participar da
exagerada euforia que toma conta deste país durante uma Copa do Mundo parece-me
uma atitude bastante saudável.
De minha
parte, como apreciador do futebol bonito, farei o seguinte: tentarei assistir
os jogos que, pela qualidade das equipes, merecem ser assistidos, procurando
assisti-los sem torcer alucinadamente por nenhum dos dois países e torcendo
para que o jogo não seja decido por algum (ns) erro (s) de arbitragem. Por que
agirei assim? Porque, embora eu sempre tenha gostado de futebol (conforme foi
dito já na primeira linha desta postagem), concordo plenamente com Johan Cruyff
e Rita Siza quando dizem que há coisas
mais importantes na vida do que o futebol; coisas que precisam ser vistas como
Valores mais altos.
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