quinta-feira, 29 de maio de 2014

Valores mais altos

Vinte e nove de maio de 2010. Treze dias antes do início da Copa do Mundo FIFA de 2010, o jornal Folha de S.Paulo publicava um artigo da jornalista Rita Siza no qual ela questiona a importância que se dá a uma Copa do Mundo. O artigo é intitulado Valores mais altos. Considerando que naquela época este blog ainda não existia, que a Copa do Mundo FIFA continua existindo e que os argumentos da jornalista permanecem válidos, resolvi aproveitar este novo vinte e nove de maio (quatorze dias antes do início da Copa do Mundo FIFA de 2014) para espalhar tal artigo por meio deste blog.
Valores mais altos
Quando o craque holandês Johan Cruyff desvendou o mistério de 30 anos sobre a sua ausência da Copa do Mundo de 1978, na Argentina, explicou que decidiu não atuar porque "há momentos na vida em que valores mais altos se levantam".
O futebolista-total, que na galeria dos maiores do futebol mundial só fica atrás de Pelé, contou que, nas vésperas do torneio, havia sido alvo de um assalto em sua casa de Barcelona.
Ele e sua mulher, Danny, foram amarrados e mantidos, juntamente com seus três filhos, sob a mira das armas dos assaltantes. Depois do ataque, as crianças passaram a ir para a escola com escolta policial, e a família foi obrigada a partilhar sua intimidade com seguranças.
Sem Cruyff, a Holanda, que já havia perdido a final da Copa de 1974 para a Alemanha, deixou escapar o troféu pela segunda vez consecutiva: o time anfitrião ganhou por 3 a 1 na prorrogação e conquistou seu primeiro título mundial.
No país das tulipas e dos queijos, o jogador foi vilipendiado por sua decisão de não competir – muitos acreditam, até hoje, que com Cruyff no time a Holanda teria vencido o Mundial jogado na Argentina.
"Algumas coisas que acontecem mudam completamente a perspectiva que temos da vida", justificou-se o holandês. Recordo este episódio antes do início de outra Copa por dois motivos.
Primeiro, porque, apesar de não estarmos habituados a notícias futebolistas chantageados ou sequestrados por motivos políticos, temos de reconhecer que, hoje, demasiadas vezes o futebol e a violência ainda se misturam.
O infeliz ataque contra a seleção do Togo, em uma emboscada preparada por separatistas do enclave de Cabinda no caminho para a Copa das Nações Africanas em Angola, há alguns meses, só nos lembra como eventos como um Mundial de futebol podem potencialmente despertar os piores instintos de grupos de guerrilha ou organizações terroristas.
Segundo, porque acho que Cruyff tem toda a razão: há outras coisas mais importantes na vida do que o futebol.
Durante algumas semanas, estaremos absorvidos pelos treinos e pelos jogos realizados na África do sul, como o holandês também esteve durante a sua vida em Barcelona. Mas, durante este tempo, nossas crianças terão de continuar a ir à escola com tranquilidade e segurança, como também foram os filhos do Cruyff. O sucesso e a felicidade delas valem muito mais do que uma Copa do Mundo.
Em tempos de Copa, acho que Cruyff tem toda a razão: há coisas mais importantes do que o futebol
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Segundo o futebolista-total, que na galeria dos maiores do futebol mundial só fica atrás de Pelé, há outras coisas mais importantes na vida do que o futebol. A jornalista que escreveu o artigo concorda com ele e eu também. Mas "segundo" a histeria coletiva que costuma assolar estas bandas durante a realização de uma edição da Copa do Mundo FIFA parece-me que há controvérsias em relação à opinião de Johan Cruyff. Que tal aproveitar estes dias que antecedem aquela que já está sendo chamada de "A Copa das Copas" para refletir sobre o assunto?

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