segunda-feira, 7 de abril de 2014

Por que tanta pressa?

Após três postagens inspiradas em uma história (O Velho Vendedor de Cebolas) protagonizada por um velho índio, contada em um livro (The Gospel of the Redman [O Evangelho do Pele Vermelha] publicado há 78 anos e cujo autor viveu entre os índios, este blog espalha um artigo intitulado "Por que tanta pressa?" publicado, há 4 meses (na edição de 8 de dezembro de 2013), no jornal Folha de S.Paulo, em uma coluna assinada por Marcelo Gleiser, um físico brasileiro que vive entre os mestres de algumas renomadas instituições de ensino e de pesquisas existentes nos EUA. Por que essa sequência de postagens? Porque a história e o artigo têm muito a ver. Uma antiga história protagonizada por um velho índio e um artigo recente assinado por um físico renomado que têm muito a ver?! Será que tal afirmação faz sentido? Parece-lhes estranho? Então leiam o artigo e confirmem ou não se tal afirmação faz sentido, ok?
Por que tanta pressa?
Sei que ninguém gosta muito de pensar em assuntos pesados durante essa época pré-natalina, mas, como todo momento de reflexão, o fim de ano é sempre propício para darmos uma parada e analisarmos um pouco como andam as coisas.
A primeira palavra que me vem em mente quando penso na vida moderna é dispersão. Existe uma competição constante pela nossa atenção entre os produtores de novas tecnologias, de comida, de roupas; há uma necessidade crescente de estarmos "ligados" com o que está acontecendo, e já não basta rádio e televisão; tem que ser pelo Facebook, pelo Twitter, pelo Google Plus e um bando de outras redes sociais.
Cada instante é ocupado por algo que vemos numa tela, pequena ou grande. A informação vem em torrentes incessantes. Se esquecemos nosso celular em casa, é como se tivéssemos perdido um dedo ou outra parte do corpo. Os celulares tornaram-se parte integral de nossa existência, um apêndice tecnológico que nos define como indivíduos. Tornaram-se um vício, como verificamos assim que pousa um avião e todo mundo se precipita para ligar seu iPhone ou seu Galaxy, como se naquele voo de 45 minutos a história do mundo tivesse se transformado de forma profunda e aquele e-mail que mudará a sua vida tivesse finalmente chegado.
Não nos permitimos mais espaço para a contemplação.
Sei que isso está parecendo papo de velho, atravancado com os avanços tecnológicos. Mas não é nada disso; eu mesmo tenho todos os brinquedos tecnológicos que existem e os uso como todo mundo, com muito prazer. Portanto, essa reflexão é para mim também, mesmo se digitada em meu laptop.
Muita gente me pergunta se o tempo está mudando, passando mais rápido. Essa é uma percepção psicológica da passagem do tempo, que nada tem a ver com a passagem física do tempo. A duração do dia muda muito lentamente, e muda no sentido inverso, aumentando e não diminuindo, devido à fricção gravitacional das marés causadas pelas atrações entre Terra, Lua e Sol.
O tempo está passando mais rapidamente, ou assim o percebemos, porque cada vez temos menos controle sobre ele. O ócio é algo que consideramos quase que pecaminoso (esquecendo os pecados capitais); qualquer brecha de tempo nós enchemos com uma leitura no Twitter, do Facebook, de e-mail, um videozinho no YouTube, ou um podcast qualquer.
Uma das maiores vítimas dessa correria moderna é nossa conexão com a natureza.
Na ânsia pela informação, pouco desviamos os olhos das telas. Olhar para o céu é algo que raramente fazemos, especialmente nas grandes cidades. Para a maioria das pessoas a natureza é um conceito, algo que existe lá longe, nas fotos que vemos nas revistas, ou nos vídeos do YouTube e especiais da TV.
Para resgatarmos nosso controle sobre o tempo é necessário retornarmos à natureza, criarmos espaço para a contemplação das formas de vida, das árvores, das flores e animais; é necessário olharmos para o céu noturno, longe das luzes da cidade. Assim conseguiremos desacelerar, buscando outro tipo de informação que nos liga ao que temos de mais essencial: nossa relação com os ciclos e ritmos do Cosmo.
Para resgatarmos nosso controle sobre o tempo, é preciso criar espaço para a contemplação da vida
(Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de vários livros. Facebook:goo.gl/93dHI)
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"Amo a luz de sol e o balanço das palmeiras. (...) Amo quando Pedro e Luiz vêm até aqui me dar bom dia e conversar sobre filhos e plantações", diz o protagonista de O Velho Vendedor de Cebolas.
"Para resgatarmos nosso controle sobre o tempo é necessário retornarmos à natureza, criarmos espaço para a contemplação das formas de vida, das árvores, das flores e animais; é necessário olharmos para o céu noturno, longe das luzes da cidade. Assim conseguiremos desacelerar, buscando outro tipo de informação que nos liga ao que temos de mais essencial: nossa relação com os ciclos e ritmos do Cosmo", diz Marcelo Gleiser.
Ou seja, para resgatarmos nosso controle sobre o tempo (algo defendido pelo renomado físico) é necessário retornarmos a práticas seguidas pelo velho índio que protagoniza a educativa história. Sendo assim, podemos considerar confirmada a afirmação de que a história O Velho Vendedor de Cebolas e o artigo "Por que tanta pressa?" têm muito a ver? E será que faz sentido refletir sobre o que diz Marcelo Gleiser?

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