Neste blog onde as postagens costumam ter alguma relação com a anterior, há algum tempo eu
aguardava por um momento propício para espalhar a história intitulada O Velho Vendedor de Cebolas. E, no meu
entender, esse momento surgiu quando associei a comparação de importância feita
por D. H. Lawrence em sua afirmação de que "o futuro da
humanidade não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações
entre homens e mulheres" (citada na postagem anterior) com a comparação de importância implícita na atitude do protagonista da história citada acima e apresentada abaixo: a de julgar
as relações humanas mais importantes do que as relações comerciais. Considerando
que encontrei a história no livro intitulado Vida de Meditação, de Ken Gire, que por sua vez a encontrou em
outro livro, achei interessante apresentar não apenas a história, mas também como
ele a encontrou.
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Um pouco da noção da
santidade da vida também me foi revelado em um momento de meditação em uma loja
de livros usados, pouco tempo depois de ter assistido ao filme Dança com Lobos,
que estimulou meu interesse pela cultura dos indígenas americanos. Percorrendo
as prateleiras, topei com um livro fino, intitulado The Gospel of the Redman (O Evangelho do Pele Vermelha), de Ernest
Thompson Seton.
Escrito por um homem
branco que vivera entre os indígenas, o livro continha visões perspicazes de
ambas as culturas, como mostrava o parágrafo inicial do primeiro capítulo:
"A cultura e a
civilização do Homem Branco são essencialmente materiais; ele mede seu sucesso
pela quantidade de propriedades que adquiriu para ele mesmo. A cultura do Pele
Vermelha é fundamentalmente espiritual; sua medida de sucesso é quanto serviço
ele já prestou a seu povo".
Considero essa análise
muito pungente e bem convincente.
Folheei as páginas
amareladas e parei em uma história que ilustrava a diferença entre as duas
culturas. O título era simples: O Velho
Vendedor de Cebolas.
Um velho índio,
chamado Pota-lamo, estava em um canto sombrio de um velho mercado da cidade do
México. À sua frente havia vinte réstias de cebolas. Um americano, de Chicago, foi até ele e disse:
- Quanto custa uma
réstia de cebolas?
- Dez centavos, respondeu Pota-lamo.
- E duas réstias?
- Vinte centavos, foi a resposta.
- E três réstias?
- Trinta centavos.
- Não vejo desconto, disse o americano. Você
aceitaria vinte e cinco centavos?
- Não.
- Quanto você cobra por todas as vinte
réstias?
- Eu não venderia todas as réstias para você.
- Por que não? Você não está aqui para vender
cebolas?
- Não, respondeu o índio. Estou aqui para
viver minha vida. Amo este mercado. Gosto de ver as pessoas em seus ponchos
vermelhos. Amo a luz de sol e o balanço das palmeiras. Amo quando Pedro e Luiz
vêm até aqui me dar bom dia e conversar sobre filhos e plantações. Gosto de ver
meus amigos. Isso é minha vida. É por isso que me assento aqui o dia inteiro e
vendo minhas vinte réstias de cebolas. Mas, se as vendo para um único cliente,
meu dia termina. Perdi a vida que amo, e isso eu não vou fazer.
Pensei muito nessa
história, sobre valorizar a comunidade acima do comércio, e me pareceu que este
estilo de vida era mais cristão do que o meu.
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Que história perturbadora! E
provocadora de uma infinidade de reflexões.
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