Comecei a enviar mensagens alusivas ao Dia Internacional da Mulher em 2005.
Naquele ano, enviei para vinte colegas de trabalho um e-mail de apenas três
frases com o qual parabenizava-as por aquele dia e dizia-lhes que suas presenças
contribuíam para tornar mais agradável o ambiente de trabalho. Nos anos
seguintes, a lista de destinatárias sempre aumentou e os textos passaram a ser mais
elaborados. A partir de 2012, ao perceber que no blog (criado em fevereiro de 2011) a mensagem é lida por
mulheres e por homens, resolvi enviá-la também para a ala masculina da minha
(?) lista de destinatários. Mas foi em 2009 que (usando uma linguagem que eu costumava
ouvir na área contábil) surgiu o primeiro de três fatos relevantes. Qual foi esse
fato? O recebimento de uma resposta ao e-mail que enviei naquele ano e cujo
início é assim:
"Guedes,
Obrigada por vir tornando o Dia
da Mulher cada vez mais aguardado!
Acredita que eu já
havia pensado: "será que esse ano o Guedes vai lembrar de nós???"
Três anos depois, recebi uma resposta que
continha a seguinte frase: Sei que já te
disse (escrevi) isso, mas não me canso de repetir: aguardo sua mensagem neste dia com bastante ansiedade e alegria!!!.
E no ano seguinte, uma resposta dizia: Recebi algumas mensagens, mas a sua é sempre
a mais esperada!!!
Por que cito tais respostas
nesta postagem? Porque se a princípio a ideia de escrever sobre o Dia Internacional da Mulher partira de
um merecido reconhecimento a esses seres que, em um ato de extrema generosidade,
permitem o uso de seu ventre como porto de chegada a esta dimensão deste
planeta, a partir da leitura da primeira das três respostas eu passei a ter um
motivo a mais para escrever sobre tal dia. Por quê? Porque ao lê-la,
imediatamente, veio-me à cabeça uma das inesquecíveis frases de Antoine de
Saint-Exupéry apresentadas em seu extraordinário livro O Pequeno Príncipe. Qual é a frase? "Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas." Resultado:
daquele ano em diante eu passara a ter a difícil responsabilidade de elaborar um
texto alusivo ao Dia Internacional da
Mulher. Sim, uma difícil responsabilidade, pois não basta escrever, é
preciso escrever algo que esteja à altura das homenageadas. Sendo assim,
passemos a mensagem deste ano. E que, de alguma forma, eu possa receber alguma inspiração
para elaborá-la.
Vocês percebem que nem toda data comemorativa
deve ser tratada como tal? Por quê? Porque como datas comemorativas devem ser classificadas
apenas aquelas em que se comemora algo que já se tenha obtido. Ou seja, se o
que se almeja ainda não foi obtido, em vez de comemorativa a data deve ser,
digamos, avaliativa. Sim, avaliativa, pois nesses casos o que há de mais
importante a fazer é avaliar se as ações praticadas com o intuito de obter o
que se pretende estão surtindo o efeito desejado. Considerando que, embora
almejada por todas (e até mesmo por
muitos), a igualdade de direitos
entre homens e mulheres é algo que ainda não foi obtido, é na categoria
avaliativa que classifico o Dia
Internacional da Mulher. E sendo assim, creio que avaliar o que se tem
feito até aqui em prol de tal igualdade seja algo, simplesmente,
imprescindível.
Nada contra comemorações, até porque ainda
hoje deverei participar, juntamente com as mulheres mais próximas a mim
(esposa, filha, namorada do filho e sogra da filha), de um jantar comemorativo
desta data. O que não concordo é que esta data restrinja-se a comemorações.
Afinal, embora já tenham ocorrido várias conquistas que diminuíram a
desigualdade de direitos entre homens e mulheres (e que por isso devem ser
comemoradas), creio que o imprescindível seja termos consciência de que ainda
estamos muito longe de alcançar a almejada igualdade. É à luz dessa
consciência que considero que esta data seja mais avaliativa do que
comemorativa.
Avaliativa com a finalidade de verificar se a igualdade
que as mulheres estão buscando ainda é aquela que, inicialmente, começaram
a buscar. Será que a busca foi deturpada e, em vez da igualdade de direitos, as
mulheres passaram a buscar outra igualdade - a de comportamento? Será que
igualdade de direitos foi, equivocadamente, confundida com direito de cometer
os mesmos erros cometidos pelos os homens? Igualdade essa que leva as mulheres
a quererem mostrar aos homens que são melhores do que eles nas coisas que só a
eles era permitido fazer, em vez de preferirem mostrar-lhes que há coisas que
só elas sabem fazer. Coisas que são, exatamente, as que precisam ser feitas se
ainda almejarmos transformar este mundo em algo melhor.
Não, não é competindo para mostrar quem faz
melhor coisas que não devem ser feitas que esta civilização atingirá um estágio
evolutivo mais elevado, pois homens e mulheres não foram feitos para competir,
e sim para cooperar. Vocês já perceberam que nas competições envolvendo homens
e mulheres, mostradas em programas televisivos, na quase totalidade das vezes, a
disputa é homens contra mulheres? E não é só em tais programas que isso
acontece. Em brincadeiras de crianças há o seu similar: "meninos contra
meninas". Não, não é estimulando a competição entre homens e mulheres que
chegaremos à igualdade de direitos entre eles. E é avaliando nossa atitude em relação
ao estímulo a essa competição que poderemos reavaliar nosso possível comportamento
inadequado.
E quando digo que esta data deve ser avaliativa,
não me dirijo exclusivamente às mulheres (que podem, equivocadamente, serem
consideradas as únicas beneficiárias da extinção da referida desigualdade), e
sim a todos os integrantes desta civilização, pois concordo plenamente com D.
H. Lawrence quando diz que "o futuro da humanidade
não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações entre homens
e mulheres". Relações que até hoje foram tremendamente prejudicadas pela desigualdade de direitos existente entre eles e elas.
Desigualdade que, nesta dita civilização,
construída pela dita espécie inteligente do Universo, e repleta de malditas
desigualdades, talvez seja a mais difícil de entender por seres que sejam
realmente inteligentes. Como é possível alguém negar a igualdade de direitos
justamente àquelas que dão a cada um de nós o primeiro direito: o direito de vir
à luz nesta dimensão deste planeta. Não, isto não é apenas uma desigualdade;
isto chega às raias do absurdo. Sim, as mulheres podem até terem-se equivocado quanto
à igualdade a ser buscada (conforme explicado no terceiro parágrafo acima), mas
o fato é que enquanto os homens não avaliarem o quão absurda é a sua pretensa
superioridade na relação entre homens e mulheres o futuro da humanidade
(composta por homens e mulheres) jamais será dos melhores.
É impressionante como tudo está
interligado! Na postagem anterior (Otimistas, pessimistas e esperançosos), eu disse que estava encerrando uma sequência
de postagens. Mas será que dispor-se a avaliar as ações praticadas
visando à obtenção de algo que se deseje, tem alguma coisa a ver com dispor-se a
agir em prol da crença de ser possível transformar este mundo em algo melhor
para todos que o integram? Será que quem se dispõe a ser um avaliador de ações
pode ser considerado um esperançoso? No meu entender, sim. E no de vocês?
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