"Ao estudar a história da humanidade, percebemos que todos os grupos humanos, em diferentes épocas, cultivaram esperanças em relação ao futuro, sonhando com a liberdade, com um mundo de justiça, de respeito à vida, enfim, esperança de uma vida melhor tanto na esfera pessoal como na coletiva.Todavia, nosso tempo vive uma escassez de esperança. As pessoas não se entendem mais, fala-se na morte das utopias, no fim do mundo. (...) Quem cultiva a esperança é considerado um ingênuo frente à dureza dos fatos apresentados pela realidade cotidiana. Não confiamos mais nas pessoas e nem nas instituições."
"Ao estudar a história
da humanidade, percebemos que todos os grupos humanos, em diferentes épocas,
cultivaram esperanças em relação ao futuro (...) Todavia, nosso tempo vive uma
escassez de esperança.", diz Eduardo Morais em seu excelente texto reflexivo apresentado na postagem anterior. Ou seja, em termos de esperança em relação ao futuro, somos bastante
diferentes de todos os grupos humanos que
nos antecederam. E sendo assim, como interpretar tal diferença? Considerando
que todo ponto de vista é a vista de um ponto, ou seja, cada um interpreta o
que tem diante de si conforme a visão de mundo que tenha atingido, segue a
minha interpretação sobre a referida escassez de esperança que caracteriza o nosso
tempo.
Fascinada com a
alucinante evolução tecnológica, uma significativa parcela da dita espécie
inteligente do Universo, equivocadamente, passou a acreditar que este mundo
onde sobrevivemos seja resultado de um download,
e não de uma evolução gradativa desde
priscas eras e da qual participaram (para o bem ou para o mal) todos aqueles
que nos antecederam na vinda a este planeta. Constituída em sua maioria por
indivíduos aqui chegados após a explosão do desenvolvimento tecnológico, essa
significativa parcela é engrossada por aqueles que, chegados antes da referida explosão,
foram por ela cegados. E cegos eles incorporam-se à imensa legião de deslumbrados
com o progresso das máquinas. Progresso que é algo inevitável, desejável e utilizável,
mas que ao ser usado em desacordo com a hierarquia da importância dos
progressos torna-se algo lamentável.
"A civilização não tem
como finalidade o progresso das máquinas; mas, sim o do homem", disse Alexis
Carrel (1873-1944), cirurgião, fisiologista, biólogo e sociólogo, que, em 1912,
recebeu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia e, em 1935, publicou um livro
intitulado O Homem, Esse Desconhecido, que foi traduzido e reeditado
transformando-se num grande êxito mundial até a década de 1950.
Aquela década terminou,
o tempo passou, o homem conheceu um estupendo desenvolvimento tecnológico,
porém ele próprio continua desconhecido. Sim, infelizmente, O Homem, Esse Desconhecido continua
sendo algo bastante verdadeiro. E sendo ainda verdadeiro ele contribui muito
para a crença no disparate citado no penúltimo parágrafo acima deste. E é por acreditar
em tal disparate que a significativa parcela (citada no mesmo parágrafo) desinteressa-se
por algo dito por Eduardo Morais: o estudo da história da humanidade. E ao
desinteressar-se por tal estudo ela torna-se incapaz de algo também dito por Morais:
"perceber que todos os grupos humanos, em diferentes épocas, cultivaram
esperanças em relação ao futuro, sonhando com a liberdade, com um mundo de
justiça, de respeito à vida, enfim, esperança de uma vida melhor tanto na
esfera pessoal como na coletiva".
"Esperança de uma vida
melhor tanto na esfera pessoal como na coletiva", diz Eduardo Morais. Mas será
que é possível ter uma vida melhor na esfera coletiva sem uma melhora na esfera
pessoal? Creio que não. Será que a qualidade de vida na esfera coletiva (em uma
analogia com os sistemas de forças que estudamos na Física) nada mais é do que
a resultante de todas as qualidades de vida nas esferas pessoais? Creio que
sim. Será que a esperança de uma vida melhor na esfera pessoal pode prescindir
da atuação pessoal em prol de uma vida melhor na esfera coletiva? Creio que não. Será que faz algum
sentido viver sem esperança? Creio que não. Todavia...,
diz Eduardo Morais.
"Todavia, nosso tempo vive uma escassez de esperança. As pessoas não se entendem mais, fala-se na morte das utopias, no fim do mundo. (...) As pessoas não acreditam mais no futuro e nem nelas mesmas. Até parece que os horizontes de esperança foram deletados. Quem cultiva a esperança é considerado um ingênuo frente à dureza dos fatos apresentados pela realidade cotidiana. Não confiamos mais nas pessoas e nem nas instituições. A consequência imediata é a indiferença e o esvaziamento dos projetos coletivos.”
E com indiferença e
esvaziamento de projetos coletivos, o êxito na busca da alardeada qualidade de
vida torna-se, simplesmente, impossível, pois qualidade de vida é algo que só
pode ser obtido se pensarmos em termos coletivos. Como diz Padre Zezinho scj,
em seu livro Pensando como Jesus pensou,
"Em cada ladrãozinho prepotente que inferniza nossas vidas está um pouco
de nossa indiferença, que nada fez pelas crianças que eles um dia
foram...". Indiferença e falta de projetos coletivos que incluam as
crianças menos aquinhoadas pela sorte são dois males que precisam ser
extirpados de qualquer coletividade que almeje a tão propalada qualidade de
vida.
"Quem cultiva a
esperança é considerado um ingênuo frente à dureza dos fatos apresentados pela
realidade cotidiana.", é mais uma afirmação de Eduardo Morais que deve merecer
de nós algumas reflexões. Uma delas é a seguinte: O que será pior? A dureza dos fatos apresentados pela
realidade cotidiana ou a nossa moleza para enfrentá-los e modificá-los? Gosto
muito da seguinte afirmação de James Baldwin (1924-1987), escritor e ativista
americano: "Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser
modificado até que seja enfrentado." São também muito provocativas as últimas
palavras do excelente texto reflexivo de
Morais.
"A esperança por si só não transforma o mundo. Mas sem esperança crítica não é possível lutar para transformar o mundo. Portanto, o ser humano não é plenamente humano se não cultivar a esperança de um futuro melhor e se não agir para fazer deste mundo um lugar seguro para se viver, vamos desaparecer mais ou menos depressa. O mundo que nos espera não está para ser conquistado pela força, mas está para ser construído. Nessa tarefa de construir outro mundo possível, os sonhos, a esperança que não é espera, mas um fazer acontecer, é imprescindível. Como diz o cantor Geraldo Vandré numa de suas músicas: 'Quem sabe faz a hora, não espera acontecer'."
Sim a esperança por si só não transforma o mundo,
pois se não agirmos para fazer deste
mundo um lugar seguro para se viver, vamos desaparecer mais ou menos depressa,
mas é ela que nos dá disposição para agir com tal intento. Sim, O mundo que nos espera não está para ser
conquistado pela força, mas está para ser construído, pois o uso da força é
algo que costuma estar mais ligado à destruição do que à construção. Sim, a esperança não é espera, mas um fazer acontecer.
E como diz Geraldo Vandré, "Quem sabe faz
a hora, não espera acontecer".
E para "quem sabe faz
a hora, não espera acontecer", eu faço, para esta postagem, a seguinte
interpretação: quem sabe que a solução para qualquer mal que aflige uma
coletividade depende de cada um fazer a sua parte, não fica esperando acontecer
algo que venha como resultado de ações de outros. Sim, quem sabe faz a hora,
não espera acontecer, pois uma coisa que já passou da hora de sabermos é que deixar,
apenas, nas mãos de outros a solução para males que nos afligem, até hoje,
jamais solucionou qualquer um deles, não é mesmo? E por solucionar um mal eu
entendo eliminá-lo, e não aplicar-lhe algum paliativo que com o passar do tempo
revelar-se-á como mais uma fonte de novos males, como pode ser visto em Os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem. Será que é válida tal interpretação?
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