Passada a
frenética e ilusória "semana" situada entre o dia de Natal e o réveillon, com exceção daqueles
que iniciaram o ano gozando férias, a imensa maioria composta pelos demais já está
de volta à dura realidade daquele período de 51,14 semanas compreendido entre o
réveillon e o Natal. Foi pensando em ajudar essa maioria a tornar melhores as
referidas semanas que resolvi redigir esta postagem.
Na penúltima postagem
foi dito que neste blog há sempre
o risco da publicação de postagens focalizando o raciocínio sistêmico, mas o que eu não
imaginei, naquele momento, é que a "ameaça" fosse cumprida tão
rapidamente. Porém, considerando que a maioria das postagens deste blog é
elaborada em conformidade com as anteriores, creio que após A Grande Ilusão e O Verdadeiro Natal, falar sobre
o raciocínio sistêmico seja algo bastante natural. Afinal, ilusões,
verdadeiro Natal, expectativas alimentadas pela simples chegada de um novo
ano e raciocínio sistêmico têm tudo a ver, conforme poderá ser visto no decorrer
da postagem.
Em seu livro A Quinta Disciplina – Arte, teoria e prática
da organização de aprendizagem, Peter Senge chega à seguinte definição: "O raciocínio sistêmico é uma estrutura
conceitual, um conjunto de conhecimentos e instrumentos desenvolvidos nos
últimos cinquenta anos (o livro é de 1990), que tem por objetivo tornar mais
claro o conjunto e nos mostrar as modificações a serem feitas a fim de
melhorá-lo." E ainda nesse livro ele diz também: "Embora os instrumentos sejam
novos, a ideologia subjacente é extremamente intuitiva, experiências com
crianças de pouca idade demonstram que elas aprendem o raciocínio sistêmico com
muita rapidez."
Sim, a ideologia
subjacente é extremamente intuitiva, e também bastante antiga. Oriundo do
conceito de sistema, algo cuja definição que pode ser "um conjunto de partes
interligadas e interdependentes", a prática do raciocínio sistêmico pode ser identificada
em tempos remotos. Sem despender muito esforço, lembro de duas antigas
afirmações que evidenciam sua prática. A primeira é atribuída ao imperador Marco
Aurélio: "O que não convém ao enxame não convém tampouco à abelha". A segunda,
ao cacique que proferiu um discurso que ficou famoso após ter sido publicado
com o título A Carta do Cacique Seattle:
"O que seria dos homens sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem
morreria de uma imensa solidão de espírito. O que quer que aconteça com os
animais, logo acontece com os homens. Todas as coisas estão ligadas."
É difícil enxergar nas
duas afirmações os conceitos de sistema e de raciocínio sistêmico? Sim, embora
os instrumentos que sustentam a estrutura conceitual denominada raciocínio sistêmico
tenham sido desenvolvidos nos últimos setenta e três anos (os cinquenta decorridos
até a publicação do livro de Senge mais os vinte e três de lá para cá), a prática
do raciocínio sistêmico é algo bastante antigo. O lamentável é que a quantidade
dos que se dispõem a praticá-lo é relativamente pequena.
Lido isto, alguém
poderá estar pensando: Onde está a argumentação de que o raciocínio sistêmico
tem a ver com as postagens A Grande
Ilusão e O Verdadeiro Natal, e
com as expectativas alimentadas simplesmente pela chegada de um novo ano que
foi prometida no segundo parágrafo da postagem? Então, vamos ao cumprimento da
promessa feita naquele parágrafo.
Ao considerar que tudo
está interligado por relações de interdependência o raciocínio sistêmico sugere
que toda e qualquer coisa que nos acontece - como indivíduos e / ou como
coletividade – tem alguma relação com as ações, e até mesmo as inações, praticadas
pelos integrantes da coletividade. Sendo assim, creio que aqueles que
dispuserem de sã consciência e tiverem coragem suficiente para buscar a relação
entre o que lhes acontece e as ações que praticam, facilmente constatarão que
nada de bom que tenha lhes acontecido jamais foi originado por alguma das
inúmeras ilusões que adoramos cultivar. Ilusões dentre as quais cito três exemplos
característicos da última semana do ano.
1. Acreditar na
inverossímil existência de um bom velhinho que, num determinado dia, sai pelo
mundo afora presenteando materialmente toda e qualquer criança que lhe peça
algum presente. 2. Crer que assistir, ao vivo e a cores, a um fugaz e efêmero
espetáculo pirotécnico realizado na "virada do ano" seja capaz de lhe
proporcionar uma felicidade duradoura no ano que esteja prestes a iniciar. 3.
Acreditar que "virar o ano" em um determinado lugar, participando de alguma
festa colossal e trajando roupas e / ou peças íntimas de determinada cor possa tornar
o novo ano uma eterna festa.
Não, ter um feliz ano
novo é algo que jamais será possível com base em ilusões e simpatias, e sim
apenas por meio de ações capazes de proporcionar tal felicidade. É para
identificar ações que possuem tal capacidade que lhes sugiro a prática do
raciocínio sistêmico. Afinal, se tudo está ligado por relações de
interdependência, conseguir os resultados que se deseje passa, necessariamente,
por duas etapas: a descoberta de quais sejam as ações que possam contribuir para
obtê-los e a sua colocação em prática.
"O raciocínio sistêmico é uma estrutura
conceitual, um conjunto de conhecimentos e instrumentos que tem por objetivo
tornar mais claro o conjunto e nos mostrar as modificações a serem feitas a fim
de melhorá-lo.", diz Peter Senge.
Ao tornar mais claro o conjunto o raciocínio
sistêmico nos mostra que todos nós somos
parte do conjunto e, portanto, que cabe a todos
nós atuarmos como agentes das modificações
a serem feitas a fim de melhorá-lo. Encontrei no livro Pensando como Jesus pensou, de autoria de
Padre Zezinho scj, uma frase que, no meu entender, também tem muito a ver com o
raciocínio sistêmico: "Em cada ladrãozinho prepotente que inferniza nossas
vidas está um pouco de nossa indiferença, que nada fez pelas crianças que eles
um dia foram...". Realmente, tudo está ligado! O ignorado de ontem é o
ladrãozinho prepotente que hoje inferniza nossas vidas.
Portanto, será que faz sentido pretender ter um feliz ano novo sobrevivendo em um mundo onde é a cada dia
maior a quantidade de ladrões prepotentes? Não, não dá para acreditar que seja
possível ser feliz vivendo com medo da crescente quantidade de infelizes que
nos cercam. E aqui o "nos cercam" parece-me uma expressão perfeita.
Considerando-me parte
de um todo maior (muito maior!), creio que seja meu dever compartilhar com os
demais toda e qualquer coisa que eu tenha encontrado e que julgue importante
propagar. Tudo a ver com um blog intitulado Espalhando ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem
ações para torná-la cada vez melhor, não é mesmo? Portanto, por ter a
felicidade de ter encontrado o raciocínio sistêmico, eu não poderia deixar de
espalhá-lo, e voltar a fazê-lo na primeira postagem de um novo ano parece-me um
momento bastante propício.
Escrever o que as
pessoas querem ler é fácil; difícil é escrever o que elas precisam ler. Eis o
porquê desta primeira postagem do ano ter demorado tanto a ser publicada.
Escrever algo capaz de tocá-los (sem machucá-los) para a importância de
incorporar ao seu modo de vida a prática do raciocínio sistêmico foi bastante difícil
para mim e o texto ficou com um tamanho maior do que eu pretendia. Se bem que o
longo intervalo entre esta postagem e a anterior deve ter lhes proporcionado um
descanso das minhas mensagens, não é mesmo?
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