quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Sugestão para ter anos mais felizes

Passada a frenética e ilusória "semana" situada entre o dia de Natal e o réveillon, com exceção daqueles que iniciaram o ano gozando férias, a imensa maioria composta pelos demais já está de volta à dura realidade daquele período de 51,14 semanas compreendido entre o réveillon e o Natal. Foi pensando em ajudar essa maioria a tornar melhores as referidas semanas que resolvi redigir esta postagem.
Na penúltima postagem foi dito que neste blog há sempre o risco da publicação de postagens focalizando o raciocínio sistêmico, mas o que eu não imaginei, naquele momento, é que a "ameaça" fosse cumprida tão rapidamente. Porém, considerando que a maioria das postagens deste blog é elaborada em conformidade com as anteriores, creio que após A Grande Ilusão e O Verdadeiro Natal, falar sobre o raciocínio sistêmico seja algo bastante natural. Afinal, ilusões, verdadeiro Natal, expectativas alimentadas pela simples chegada de um novo ano e raciocínio sistêmico têm tudo a ver, conforme poderá ser visto no decorrer da postagem.
Em seu livro A Quinta Disciplina – Arte, teoria e prática da organização de aprendizagem, Peter Senge chega à seguinte definição: "O raciocínio sistêmico é uma estrutura conceitual, um conjunto de conhecimentos e instrumentos desenvolvidos nos últimos cinquenta anos (o livro é de 1990), que tem por objetivo tornar mais claro o conjunto e nos mostrar as modificações a serem feitas a fim de melhorá-lo." E ainda nesse livro ele diz também: "Embora os instrumentos sejam novos, a ideologia subjacente é extremamente intuitiva, experiências com crianças de pouca idade demonstram que elas aprendem o raciocínio sistêmico com muita rapidez."
Sim, a ideologia subjacente é extremamente intuitiva, e também bastante antiga. Oriundo do conceito de sistema, algo cuja definição que pode ser "um conjunto de partes interligadas e interdependentes", a prática do raciocínio sistêmico pode ser identificada em tempos remotos. Sem despender muito esforço, lembro de duas antigas afirmações que evidenciam sua prática. A primeira é atribuída ao imperador Marco Aurélio: "O que não convém ao enxame não convém tampouco à abelha". A segunda, ao cacique que proferiu um discurso que ficou famoso após ter sido publicado com o título A Carta do Cacique Seattle: "O que seria dos homens sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma imensa solidão de espírito. O que quer que aconteça com os animais, logo acontece com os homens. Todas as coisas estão ligadas."
É difícil enxergar nas duas afirmações os conceitos de sistema e de raciocínio sistêmico? Sim, embora os instrumentos que sustentam a estrutura conceitual denominada raciocínio sistêmico tenham sido desenvolvidos nos últimos setenta e três anos (os cinquenta decorridos até a publicação do livro de Senge mais os vinte e três de lá para cá), a prática do raciocínio sistêmico é algo bastante antigo. O lamentável é que a quantidade dos que se dispõem a praticá-lo é relativamente pequena.
Lido isto, alguém poderá estar pensando: Onde está a argumentação de que o raciocínio sistêmico tem a ver com as postagens A Grande Ilusão e O Verdadeiro Natal, e com as expectativas alimentadas simplesmente pela chegada de um novo ano que foi prometida no segundo parágrafo da postagem? Então, vamos ao cumprimento da promessa feita naquele parágrafo.
Ao considerar que tudo está interligado por relações de interdependência o raciocínio sistêmico sugere que toda e qualquer coisa que nos acontece - como indivíduos e / ou como coletividade – tem alguma relação com as ações, e até mesmo as inações, praticadas pelos integrantes da coletividade. Sendo assim, creio que aqueles que dispuserem de sã consciência e tiverem coragem suficiente para buscar a relação entre o que lhes acontece e as ações que praticam, facilmente constatarão que nada de bom que tenha lhes acontecido jamais foi originado por alguma das inúmeras ilusões que adoramos cultivar. Ilusões dentre as quais cito três exemplos característicos da última semana do ano.
1. Acreditar na inverossímil existência de um bom velhinho que, num determinado dia, sai pelo mundo afora presenteando materialmente toda e qualquer criança que lhe peça algum presente. 2. Crer que assistir, ao vivo e a cores, a um fugaz e efêmero espetáculo pirotécnico realizado na "virada do ano" seja capaz de lhe proporcionar uma felicidade duradoura no ano que esteja prestes a iniciar. 3. Acreditar que "virar o ano" em um determinado lugar, participando de alguma festa colossal e trajando roupas e / ou peças íntimas de determinada cor possa tornar o novo ano uma eterna festa.
Não, ter um feliz ano novo é algo que jamais será possível com base em ilusões e simpatias, e sim apenas por meio de ações capazes de proporcionar tal felicidade. É para identificar ações que possuem tal capacidade que lhes sugiro a prática do raciocínio sistêmico. Afinal, se tudo está ligado por relações de interdependência, conseguir os resultados que se deseje passa, necessariamente, por duas etapas: a descoberta de quais sejam as ações que possam contribuir para obtê-los e a sua colocação em prática.
"O raciocínio sistêmico é uma estrutura conceitual, um conjunto de conhecimentos e instrumentos que tem por objetivo tornar mais claro o conjunto e nos mostrar as modificações a serem feitas a fim de melhorá-lo.", diz Peter Senge.
Ao tornar mais claro o conjunto o raciocínio sistêmico nos mostra que todos nós somos parte do conjunto e, portanto, que cabe a todos nós atuarmos como agentes das modificações a serem feitas a fim de melhorá-lo. Encontrei no livro Pensando como Jesus pensou, de autoria de Padre Zezinho scj, uma frase que, no meu entender, também tem muito a ver com o raciocínio sistêmico: "Em cada ladrãozinho prepotente que inferniza nossas vidas está um pouco de nossa indiferença, que nada fez pelas crianças que eles um dia foram...". Realmente, tudo está ligado! O ignorado de ontem é o ladrãozinho prepotente que hoje inferniza nossas vidas.
Portanto, será que faz sentido pretender ter um feliz ano novo sobrevivendo em um mundo onde é a cada dia maior a quantidade de ladrões prepotentes? Não, não dá para acreditar que seja possível ser feliz vivendo com medo da crescente quantidade de infelizes que nos cercam. E aqui o "nos cercam" parece-me uma expressão perfeita.
Considerando-me parte de um todo maior (muito maior!), creio que seja meu dever compartilhar com os demais toda e qualquer coisa que eu tenha encontrado e que julgue importante propagar. Tudo a ver com um blog intitulado Espalhando ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem ações para torná-la cada vez melhor, não é mesmo? Portanto, por ter a felicidade de ter encontrado o raciocínio sistêmico, eu não poderia deixar de espalhá-lo, e voltar a fazê-lo na primeira postagem de um novo ano parece-me um momento bastante propício.
Escrever o que as pessoas querem ler é fácil; difícil é escrever o que elas precisam ler. Eis o porquê desta primeira postagem do ano ter demorado tanto a ser publicada. Escrever algo capaz de tocá-los (sem machucá-los) para a importância de incorporar ao seu modo de vida a prática do raciocínio sistêmico foi bastante difícil para mim e o texto ficou com um tamanho maior do que eu pretendia. Se bem que o longo intervalo entre esta postagem e a anterior deve ter lhes proporcionado um descanso das minhas mensagens, não é mesmo?
Conforme é dito no título, esta postagem contém uma sugestão. Agora, cabe, a cada um que a ler, aceitar ou não o que é sugerido. E a mim, cabe torcer para que ela seja aceita por uma quantidade significativa de leitores. Mas algo que não faço é iludir-me quanto à expectativa de ter a sugestão aceita por todos que lerem a postagem, pois iludir-me é uma prática que há algum tempo retirei da minha vida. Afinal, em conformidade com tudo o que foi dito acima, raciocínio sistêmico e ilusões são coisas, simplesmente, incompatíveis.

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