sábado, 25 de janeiro de 2014

Que país é esse?

Com a intenção de reforçar a ideia espalhada na postagem anterior de que "toda e qualquer coisa que nos acontece - como indivíduos e / ou como coletividade – tem alguma relação com as ações, e até mesmo as inações, praticadas pelos integrantes da coletividade", esta apresenta um texto onde é dito que "Quem faz o país é quem mora dentro dele, somos nós os culpados pelo que há de bom e de ruim aqui.". O texto é de Rodrigo Bittencourt e foi publicado na edição de 5 de junho de 2011 da Revista O Globo, na seção Colunista convidado, e nela Rodrigo é identificado como diretor de cinema e músico da banda Les Pops. Decorridos dois anos e quase oito meses, devido à afinidade com a postagem anterior, resolvi publicá-lo neste blog e, dessa forma, lhes oferecer mais uma oportunidade para refletirem sobre a ideia de que tudo está interligado, e que sendo assim a prática do raciocínio sistêmico torna-se algo, simplesmente, imprescindível.
Que país é esse?
Pindorama, Ilha de Vera Cruz, Terra Nova, Terra dos Papagaios, Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Terra de Santa Cruz do Brasil, Terra do Brasil... Só em 1527 começamos a chamar o amálgama colorido e cheio de possibilidades em que vivemos de uma maneira mais Caymmica de ser: Brasil. Simplesmente Brasil. Apenas Brasil. Adoro! Acho bonito, orgânico, forte, sonoro, intrigante. O que nasceu apenas para ser um substantivo próprio, uma espécie de carimbo para significar um pedaço gigante de terra, acabou virando uma maneira pejorativa de falarmos sobre nós mesmos como se não fôssemos responsáveis por nada, como se Brasil fosse uma espécie de simulacro onde jogamos toda nossa culpa, nossa preguiça, nosso "jeitinho", nossa falta de respeito com o próximo, nossa corrupção generalizada para debaixo de um tapete enorme onde varremos a sujeira.
Explico: uma das origens da palavra Brasil, existem muitas, vem do celta bress, que acabou depois indo dar no inglês to bless (abençoar). Como um nome tão abençoado se tornou uma espécie de Judas em nossas bocas? Nunca antes na História desse país uma palavra foi tão malhada, crucificada e atacada por nós mesmos quanto Brasil. O que esquecemos sempre é que palavra é apenas um símbolo do que ela representa ou pode representar. É um nome, mais nada. Quem faz o país é quem mora dentro dele, somos nós os culpados pelo que há de bom e de ruim aqui. Não importa se chamamos de Brasil, de Vera Cruz, de Bulgária ou de Ugnab do Norte. Essa fórmula escapista nos trouxe e ainda nos trará muitos problemas, porque é muito mais fácil jogar a culpa num símbolo do que resolver de fato as coisas. Não adianta fugir disso. Se as ruas do Rio estão sujas é porque nós sujamos. Se o trânsito de São Paulo é insuportável é porque nós compramos carros demais e colocamos nas ruas, deveríamos andar mais de bicicleta, morar mais próximos dos nossos trabalhos etc. Por outro lado, se o Brasil está crescendo é porque estamos crescendo, estamos melhorando, estamos ficando mais educados, menos corruptos, mais conscientes. Acredito que estamos. O Brasil depende de nós, estou falando de todos nós, é comigo que estou falando também, não com "o povo brasileiro".
Sempre me intrigou a mitologia autodepreciativa que temos. Isso vem de onde? Do complexo colonialista? Não sei. Acho que independentemente do nome de um país, o que faz a diferença são as pessoas agindo dentro dele, sejam elas do lugar que for. Paris ou Nova York, Londres ou Berlim, o modo como nos organizamos e nos responsabilizamos por nossas atitudes é que leva qualquer lugar para frente. Sempre achei engraçada essa nossa visão de que morando fora do Brasil tudo se resolverá. Não. Isso é um pensamento tacanho e cafona. Morar fora é ótimo, nada contra, essa não é de longe a questão aqui. Não é a Suíça que é um lugar incrível, os suíços é que fizeram a Suíça se tornar incrível.
Se assumirmos, podemos transformar o Brasil numa Suíça melhorada. Mas ainda preferimos jogar a culpa em símbolos, dizendo que "o povo brasileiro" é burro e despreparado e que o Brasil não presta. Mas o povo em questão somos nós! Quando vamos para fora do País, representamos este mesmo povo e olham para nós como brasileiros, não como suíços ou franceses. Fico reparando sempre nisso quando vejo amigos inteligentes comentando: "Ai, não gosto de ir em tal lugar porque tem muito brasileiro. Ô, raça!" Mas a pessoa em questão não é brasileira também? Não estaria falando de si? Vai entender... Para completar, não me sinto brasileiro, americano ou francês, ou seja lá o que esses nomes queiram dizer. O que quero é fazer andar o lugar em que vivo, seja ele qual for, que tenha o nome que for. E por acaso eu moro no Brasil, por acaso ele se chama Brasil e não por acaso estou com ele e não abro.
Sempre achei engraçada a visão de que morando fora tudo se resolverá. Isso é tacanho e cafona. Não é a Suíça que é incrível, os suíços é que fizeram a Suíça se tornar incrível
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Será que o texto de Rodrigo Bittencourt merece algumas reflexões? No meu entender, sim.

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