segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Legado de Obama é oposto ao de Martin Luther King

"Não deixe a vida impedir seus sonhos. Lembre-se de que são seus sonhos que inspiram sua vida." Onde encontrei essas palavras? Em um livro intitulado Seja o ator principal da sua vida, de Arnaud Riou. Onde pode ser encontrada a pratica de tais palavras? Na extraordinária vida de Martin Luther King, estupidamente interrompida, por assassinato, aos 39 anos. Vida que fez com que, por ocasião do dia em que seriam completados 50 anos de seu mais famoso discurso, a mídia lhe dedicasse inúmeras reportagens, das quais escolhi uma para apresentar nesta postagem. Ela foi publicada na edição de 24 de agosto de 2013 do jornal Folha de S.Paulo, e o tema é uma comparação entre os legados de Martin Luther King e Barack Obama. Há entre eles várias semelhanças: ambos são americanos, negros, figuras públicas e ganhadores do prêmio Nobel da Paz. Mas o que a reportagem destaca não são as semelhanças, e sim a enorme diferença que existe entre eles, pois, segundo a reportagem, seus legados são simplesmente opostos.
Legado de Obama é oposto ao de Martin Luther King
Intelectual diz que ícone do movimento negro, cujo discurso 'Eu tenho um sonho' faz 50 anos, 'derramaria lágrimas' hoje
O legado do primeiro presidente negro dos EUA será "o oposto do de Martin Luther King, que verteria lágrimas ao ver Barack Obama pender para o lado da hegemonia", diz à Folha o intelectual americano Cornel West, 60. Uma das vozes negras mais influentes do país, o professor da Universidade Princeton apoiou a primeira campanha de Obama, mas, anos depois, o acusou de se tornar um fantoche de Wall Street. Se Luther King estivesse vivo, não seria convidado para a homenagem aos 50 anos do discurso "Eu tenho um sonho", afirma West, que também ficou de fora do evento na quarta-feira.
Folha – "Eu tenho um sonho" completa 50 anos no dia 28. O que ficou do discurso?
Cornel West – Se Martin Luther King estivesse vivo hoje, derramaria lágrimas ao observar a pobreza, os salários estagnados e Wall Street no comando.
Folha – Mas muitos elogiaram o primeiro discurso de Obama sobre raça, quando a absolvição do branco George Zimmerman, que matou o negro Trayvon Martin, gerou protestos.
West – Muitos têm uma atitude protetora com relação a Obama por causa da [emissora] Fox News e da direita, mas há uma comunidade profundamente desapontada. Eles esperavam tão pouco dele que, quando fez um discurso, muitos se entusiasmaram. Mas sabem que o foco não está nas questões de classe trabalhadora e dos negros. O presidente, finalmente, disse alguma coisa sobre Jim Crow [conjunto de leis segregacionistas vigentes nos EUA de 1876 a 1965]. As pesquisas mostram que ele está caindo na opinião dos negros. Pioraram o emprego, a educação e o salário. Há uma face negra simbólica na Casa Branca.
Folha – Que símbolo é este?
West – Obama ficará na história como o 'presidente dos drones' [aviões não tripulados]. E os negros sempre fomos mais desconfiados de atitudes como matar inocentes dentro e fora do país. Obama pendeu mais para o lado da hegemonia americana do que para aquilo pelo que Luther King morreu. Não vamos nos esquecer do irmão David Miranda [namorado do jornalista Glenn Greenwald], detido no aeroporto em Londres, pois também sabemos o que é ter nossos direitos violados. Os legados de Luther King e Obama são o oposto. Um é sigilo, falsidade e drones. O outro, sonhos, verdade e justiça. Luther King disse 'I have a dream' [Eu tenho um sonho], enquanto Obama diz 'Eu tenho um drone'.
Folha – Obama disse que Ray Kelly [chefe da polícia de Nova Yokr] teria qualidade para chefiar a Segurança Interna. Mas não é Kelly quem defende o "stop and frisk", a prática de revistar pessoas tão criticada por ter como alvos negros e latinos?
West – É o que o presidente negro diz sobre um chefe de polícia envolvido em um programa de discriminação racial, com 5 milhões de jovens negros e latinos sendo parados e revistados. A Justiça agora chega à verdade, considerando a operação inconstitucional e coloca alguma pressão. Mas essa discriminação é uma forma de criminalizar os negros, especialmente os pobres, pois raça e classe são inseparáveis.
Folha – O senhor foi convidado para a homenagem aos 50 anos do discurso?
West – Ninguém me convidaria. Sou um negro livre. Lá, você não vai ouvir ninguém falando de "drones", nem de criminalidade em Wall Street e vigilância de cidadãos. Eles dizem coisa que som parecem progressistas. Mas não serão críticos ao governo americano. O que importa sobre Edward Snowden e Glenn Greenwald é que estão revelando não só mentiras, mas crimes do governo americano.
Folha – Luther King seria convidado?
West – Sem chances. Se fosse, seria tirado do palco, pois diria muitas verdades.
Folha – Como o sr. avalia a posição da Suprema Corte de ter derrubado uma parte da Lei do Direito ao Voto, de 1965, que era vista como uma proteção ao eleitorado negro?
West – É uma visão triste dos conservadores da corte. Temos de continuar lutando, não só pelo direito ao voto, mas também por ter alguém em quem votar, pois os dois partidos, democratas e republicanos, estão ligados ao 1% dos bancos e grandes empresas.
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Martin Luther King tinha um sonho. Um sonho que o fazia acreditar que algum dia seria possível vivenciar em sua nação, coisas como: descendentes de classes sociais, que até aquele momento eram inimigas, sentarem junto à mesa da fraternidade e crianças negras e brancas caminharem de mãos dadas, como irmãs e irmãos. Sonho que hoje, 50 anos após ter sido revelado, permanece não concretizado. Por que sonhos como esse não conseguem tornar-se realidade? Para responder tal pergunta, recorro a alguém que tendo deixado este planeta há quase 400 anos, até hoje, ainda não foi entendido. São de Miguel de Cervantes, romancista, dramaturgo e poeta castelhano, as seguintes palavras: "Quando se sonha sozinho, é apenas um sonho.... Quando sonhamos juntos, é o começo da realidade".
Sonhar juntos! Eis a eterna falta que impede esta estúpida sociedade, a cada dia mais individualista, de construir uma civilização que faça jus a esta denominação. Sociedade na qual, entre sonhar junto com quem declara "I have a dream" e contentar-se com as ações de um governo presidido por alguém que, embora tenha recebido um prêmio Nobel da Paz, por algum motivo, tornou-se adepto do "I have a drone", a imensa maioria, consciente ou inconscientemente, opta pela segunda opção.
"Não, não deixe a vida impedir seus sonhos. Lembre-se de que são seus sonhos que inspiram sua vida." Portanto, abandonar a ideia de aderir ao "I have a dream" é algo que nunca deverá ser cogitado, pois imaginar um mundo melhor é algo do qual jamais se deve desistir. "Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único. Espero que um dia você junte-se a nós e o mundo será como um só." Sabem de quem são e / ou lembram quem é o autor destas palavras? Embora eu creia que não seja algo difícil de saber, quem não souber terá oportunidade de saber na próxima postagem.

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