quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Reflexões provocadas por "O petróleo não será mais nosso"

"É assustador como neste país nossos recursos naturais são rapidamente loteados." É assim que Stephen Kanitz inicia seu excelente artigo. E de que forma são feitos tais loteamentos? Cooptados por governantes descumpridores de sua atribuição de zelar pelos recursos naturais com os quais o país foi aquinhoado, intelectuais mal-intencionados recebem da mídia amplo espaço para propagar argumentos falaciosos cuja finalidade é propiciar as condições necessárias para realizar a entrega de tais recursos para o capital estrangeiro. E um ótimo exemplo do que acabo de dizer está no texto de Kanitz: "(...) nossos acadêmicos preparam a venda do nosso petróleo para os americanos dizendo que isso beneficiaria a saúde e a educação." Em um país onde a maioria é adepta do lema "me engana que eu gosto", é muito fácil para os nossos acadêmicos prepararem a venda do que quer que seja.
Que história é essa de entregar energia e, consequentemente, soberania em troca de recursos para gastar em saúde e educação? É óbvio que saúde e educação são coisas importantíssimas, mas com as quais de nada adiantará nos preocuparmos, a partir do momento em que deixarmos de ter soberania. Aliás, algum de vocês sabe qual foi o pretexto outrora usado para entregar ao setor privado a responsabilidade sobre essas duas coisas que hoje assumem uma importância tão grande que chega a "justificar" a entrega da soberania em troca de recursos para gastar com elas. E quanto ao dinheiro "economizado" desde o momento em que os governantes as entregaram ao setor privado, algum de vocês sabe em que foi aplicado?
Quanta balela! Balelas usadas até para entregar soberania. Stephen Kanitz toca no assunto entreguismo (entrega de recursos naturais de uma nação ao capital estrangeiro) em seu excelente artigo. Segundo ele, exportar o pré-sal para outras nações, antigamente, seria chamado de entreguismo. Segundo Guedes, hoje continua sendo. Mas quando o recurso entregue é petróleo a coisa fica pior ainda, pois considerando que petróleo é energia e energia é soberania, entregar petróleo significa entregar soberania.
No caso do pré-sal, segundo Kanitz, para defender seus malignos propósitos, os mal-intencionados daqui trouxeram até um professor de Harvard, com o seguinte discurso encomendado: "Há apenas dois destinos para as receitas de petróleo: usá-las ou poupá-las, num fundo no exterior." Sim, um mal-intencionado e, provavelmente, bem-pago professor estrangeiro que, ainda segundo Kanitz, "escondeu habilmente um terceiro e óbvio destino possível: não gerar receitas já, retirando o petróleo somente à medida que necessitarmos dele de fato." Destino possível que é, exatamente, o usado pelos Estados Unidos para o petróleo ainda existente em seu país, conforme as seguintes palavras de Kanitz.
"Enquanto os Estados Unidos mantêm seu petróleo debaixo do solo como estoque estratégico, comprando o que precisam do México e da Venezuela, (...). O México vendeu quase todas as suas reservas aos Estados Unidos por 2 dólares o barril, em vez de deixá-lo como uma reserva estratégica nacional, como estou sugerindo. Hoje, suas reservas estão no fim e o país não terá petróleo para manter sua própria economia durante os próximos cinquenta anos."
Será que é difícil perceber que o papel do funesto professor de Harvard é receitar para o Brasil o procedimento que arruinou o México, e não o praticado pelos Estados Unidos? "Se já sabemos que consumiremos esse petróleo nos próximos cinquenta anos, por que então vendê-lo a nações estrangeiras, como sugere o professor de Harvard?", é a pergunta feita por Kanitz em seu excelente artigo. Como é que se entrega um recurso natural não renovável que se sabe que o país consumirá nos próximos cinquenta anos? "Os povos inteligentes aprendem da experiência alheia; os medíocres aprendem por sua própria experiência; os ineptos simplesmente não aprendem." Concordo plenamente com essas palavras de Otto von Bismarck, o estadista mais importante da Alemanha no século XIX, que ficou conhecido como o Chanceler de Ferro. Em qual dos três grupos vocês classificam o povo brasileiro?
"A questão do pré-sal é outra, que nada tem a ver com um fundo soberano, gastar em saúde ou em educação. A questão é se deveríamos exportar o nosso pré-sal para outros países ou não, se deveríamos poupar dólares ou poupar petróleo. Se eu fosse mais jovem, diria que a CIA está por trás dessa orquestração, mas hoje sei que são intelectuais brasileiros e seus admiradores de sempre que estão tramando vender nosso petróleo."
Sim, a questão do pré-sal é outra. Aliás, identificar quais são as verdadeiras questões talvez seja o principal problema da maioria dos seres da pretensa espécie inteligente do Universo. Espécie que se deixa enganar facilmente por pretextos falaciosos apresentados por aqueles que a governam e cujo comportamento me faz lembrar uma antiga piada de humor negro que é mais ou menos assim. Tendo despencado de um altíssimo andar de um edifício, ao passar pelos andares que o separam do solo contra o qual se espatifará, o protagonista da piada faz o seguinte comentário: "Até aqui, tudo bem." Vejo em tal comentário a expressão que define, perfeitamente, a reação, ou pior, a não reação da maioria dos integrantes deste país, antes da entrega definitiva de seu riquíssimo subsolo.
"Se eu fosse mais jovem, diria que a CIA está por trás dessa orquestração, mas hoje sei que são intelectuais brasileiros e seus admiradores de sempre que estão tramando vender nosso petróleo.", diz Kanitz. Eu, que também não sou mais jovem, hoje sei que o bando dos que estão sempre tramando vender, não só nosso petróleo como qualquer outra riqueza deste país, inclui, além dos citados por Kanitz, os nossos impróprios governantes. Sei também que, devido à quantidade de indivíduos que embora tenham nascido neste país têm a alma possuída pela mentalidade estrangeira, hoje torna-se desnecessária qualquer orquestração externa. Sendo assim, parafraseando um antigo slogan usado pelo Flamengo – Craque a gente faz em casa -, ouso dizer que hoje é, perfeitamente, válido afirmar o seguinte: Orquestrador a gente faz em casa.
Do artigo de Stephen Kanitz, concordo com tudo o que nele é dito e questiono apenas a frase final. Será que, realmente, não há nada que nós, brasilianos, silenciados, sem espaço e em franca minoria, possamos fazer?

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