Considerando que muitos não devem tê-lo lido
quando de sua publicação, e ainda sob o efeito do clima provocado por mais um
ato da "progressiva" entrega do nosso (?) petróleo, esta postagem apresenta um excelente
artigo de Stephen Kanitz publicado na edição de 10 de setembro de 2008 da
(pasmem!) revista Veja. O texto foi
publicado na época do penúltimo dos leilões já ocorridos, mas cinco anos e dois
meses após sua publicação (por ser rico em afirmações atemporais) ele permanece
extremamente atual e, portanto, merecedor de uma leitura bastante atenta. Como
disse Moshe Feldenkrais, "Se nada fizermos para mudar nossa atitude e o nosso
modo de atuar, amanhã parecerá ontem, exceto pela data.".
O petróleo não será mais nosso
É assustador como
neste país nossos recursos naturais são rapidamente loteados. O caso do pré-sal
é ilustrativo de como pensam os brasileiros, e de como nós, brasilianos,
faríamos diferente. Nós, brasilianos, acreditamos que o petróleo é nosso, que
deveria ser usado em benefício dos brasilianos desta nação, que ele é
estratégico para o desenvolvimento. Os brasileiros que se manifestaram até
agora acham que o pré-sal deve ser exportado para outras nações, que o lucro
deve ser investido num fundo soberano off-shore, para não pressionar o câmbio e
não prejudicar os brasileiros que exportam outros produtos para essas mesmas
nações.
Antigamente, isso
seria chamado de entreguismo. Exportar petróleo para conseguir uma receita
extra em dólares é um erro monumental. Daqui a dez anos o petróleo poderá
custar em torno de 290 dólares o barril, e os dólares colocados no fundo
soberano não nos permitirão sequer recomprar o mesmo petróleo exportado. Esses brasileiros
acham que somos uma Arábia Saudita, uma Noruega ou uma Venezuela, onde o
petróleo é a única fonte de receita externa. Esquecem que temos uma economia
bastante diversificada, que já exporta o suficiente. Querem repetir 500 anos de
história econômica, quando brasileiro era a profissão daqueles que exportavam
matérias-primas e não uma cidadania daqueles que, como eu, querem criar
empresas para processar essas matérias-primas no Brasil.
"Mais
uma vez vão prejudicar os jovens do Brasil, vendendo a 'preço de mercado' o que
seria deles"
Enquanto o governo dos Estados Unidos
fortalece as empresas de petróleo, fazendo até guerras por elas, nós estamos
deliberadamente enfraquecendo a Petrobras, dividindo-a em duas. Seus
engenheiros serão conhecidos como os que se esforçam e pesquisam, mas não
levam. Enquanto os Estados Unidos mantêm seu petróleo debaixo do solo como
estoque estratégico, comprando o que precisam do México e da Venezuela, nossos
acadêmicos preparam a venda do nosso petróleo para os americanos dizendo que
isso beneficiaria a saúde e a educação. Trouxeram até um professor de Harvard,
Ricardo Hausmann, que deixou bem claro o que ele quer que façamos.
"Há apenas dois destinos para as receitas de
petróleo: usá-las ou poupá-las, num fundo no exterior. É o modelo usado na
Noruega." Ele escondeu habilmente um terceiro e óbvio destino possível: não
gerar receitas já, retirando o petróleo somente à medida que necessitarmos dele
de fato. Não precisamos de lucro rápido que estão propondo, como precisam a Venezuela
e o Equador. Não precisamos vender petróleo para o professor Ricardo Hausmann
encher o tanque de seu carrão. Se já sabemos que consumiremos esse petróleo nos
próximos cinqüenta anos, por que então vendê-lo a nações estrangeiras, como
sugere o professor de Harvard? Uma vez exaurido o nosso recurso estratégico e
não renovável, será que os Estados Unidos nos venderão petróleo? E a que preço?
O México vendeu quase todas as suas reservas
aos Estados Unidos por 2 dólares o barril, em vez de deixá-lo como uma reserva
estratégica nacional, como estou sugerindo. Hoje, suas reservas estão no fim e
o país não terá petróleo para manter sua própria economia durante os próximos
cinqüenta anos. A questão do pré-sal é outra, que nada tem a ver com um fundo
soberano, gastar em saúde ou em educação. A questão é se deveríamos exportar o
nosso pré-sal para outros países ou não, se deveríamos poupar dólares ou poupar
petróleo. Se eu fosse mais jovem, diria que a CIA está por trás dessa
orquestração, mas hoje sei que são intelectuais brasileiros e seus admiradores
de sempre que estão tramando vender nosso petróleo, já que somos
"autossuficientes". Mas por quanto tempo?
Corremos o risco de esse petróleo não ser mais
nosso, de não ser mais do povo brasiliano, de ver esses investimentos em
dólares num fundo soberano serem mal aplicados, como sempre, e de ver nossas
futuras gerações sem petróleo, sem saúde e sem educação. Mais uma vez vão
prejudicar os jovens do Brasil, vendendo a "preço de mercado" o que seria
deles. O pior é que não há nada que nós, brasilianos, silenciados, sem espaço e
em franca minoria, possamos fazer.
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Dentro da era pré na qual estamos sobrevivendo (pré-datado,
pré-pago, pré-compra, pré-venda, pré-gasto, pré-estreia, pré-lançamento, pré-agendamento [esse extrapolou!],
pré-etc), para os mais conscientes, o pré-sal tornou-se algo bastante preocupante! Mais um texto que dá o que
pensar!
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