quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sem bondade e amor não existe educação (final)

Continuação de sábado
"Felizmente, por ora muito pouco sabemos dessa luta", continuou o primeiro, "mas o que nos dizeis dela já se encontra potencialmente em nós. Eu desejo ser engenheiro famoso, superar todos os outros; assim, terei de trabalhar esforçadamente e tratar de conhecer as pessoas que me convêm; terei de planejar, calcular para o futuro. Tenho de abrir meu caminho pela vida."
Isso, exatamente. Cada um diz que tem de abrir caminho pela vida; cada um só quer cuidar de si, mas em nome dos negócios, da religião ou da pátria. Desejais tornar-vos famoso, e o mesmo deseja o vosso vizinho, e o vizinho dele; e a mesma coisa acontece com todo o mundo, do mais alto ao mais baixo. E assim se constrói uma sociedade baseada na ambição, na inveja, na aquisição, sociedade em que cada homem é inimigo dos demais; e estais sendo "educado" para vos ajustardes a essa sociedade de desintegração, para vos adaptardes à sua viciosa estrutura.
"Mas que podemos fazer?", perguntou o segundo. "Parece-me que temos de submeter-nos à sociedade, ou ser destruídos. Há alguma saída, senhor?"
Sois atualmente "educados" para vos ajustardes a esta sociedade; vossas capacidades são desenvolvidas para que sejais capazes de ganhar a vida dentro de seu padrão. Vossos pais, vossos educadores, vosso governo, dão toda a importância à vossa eficiência e segurança financeira, não é verdade?
"Nada sei quanto ao governo", atalhou o quarto, "mas nossos pais gastam seu dinheiro trabalhosamente ganho para que tenhamos um diploma e possamos ganhar a vida. Eles nos amam."
De fato? Vejamos. O governo vos quer eficientes burocratas, para administrar o Estado, eficientes trabalhadores industriais, para preservar a economia, eficientes soldados para matar "o inimigo", não é assim?
"Parece que é isso o que o Governo quer. Mas nossos pais são mais bondosos; só cuidam de nosso bem-estar e querem que sejamos bons cidadãos."
Exatamente; eles querem que sejais "bons cidadãos", que sejais respeitavelmente ambiciosos, insaciavelmente gananciosos, e prontos a exercer essa crueldade socialmente aprovada que se chama "concorrência", "competição", e isso para que vós e eles vos conserveis em segurança. Eis o que constitui um "bom cidadão"; mas isso é bom, ou é uma coisa muito má? Dizeis que vossos pais vos amam; mas isso é exato? Não tenho intenção de criticar. O amor é uma coisa extraordinária; sem ele, a vida é estéril. Podeis ter muitas posses e ocupar uma posição de mando, mas sem a beleza e a grandeza do amor, a vida depressa se torna desgraçada e confusa. O amor exige – não é verdade? – que os entes amados tenham plena liberdade para alcançarem sua plenitude, se tornarem algo maior do que meras máquinas sociais. O amor não compele, nem abertamente nem mediante sutis ameaças, relativas a deveres e responsabilidades. Onde há compulsão ou o exercício de autoridade, sob qualquer forma, não existe amor.
"Essa não parece a espécie de amor a que meu amigo se referia", disse o terceiro. "Nossos pais nos amam, mas não dessa maneira. Conheço um rapaz que deseja ser artista, mas o pai quer fazer dele negociante, e ameaça deserdá-lo se não cumprir seu dever filial."
O que os pais chamam "dever" não é amor, é compulsão; e a sociedade aprovará sempre os pais, pois estão procedendo de maneira muito respeitável. Têm os pais todo o empenho em que os filhos achem empregos seguros e ganhem seu próprio dinheiro; mas, com esta enorme população, há mais candidatos para cada emprego, e os pais acham que um rapaz não poderá ganhar a vida pintando; e, assim, procuram forçá-lo a abandonar o que consideram um capricho tolo. Consideram uma necessidade ele ajustar-se à sociedade, ser respeitável, alcançar uma situação de segurança. A isso chamam "amor". Mas é amor? Ou é medo, encoberto pela palavra "amor"?
"Assim expresso, não sei o que diga", respondeu o terceiro.
Há outra maneira de exprimi-lo? O que acabo de dizer poderá ser desagradável, mas é um fato. A suposta educação que evidentemente estais recebendo agora não vos ajudará a enfrentar o vasto complexo da vida; estais indo ao seu encontro despreparados, e sereis por ela tragado.
"Mas quem vai educar-nos para compreender a vida? Não temos tais instrutores, senhor."
O educador também tem de ser educado. Os mais velhos vos dizem que a vós – a nova geração – cabe criar um mundo diferente, mas a intenção deles não é esta, absolutamente. Pelo contrário, com muita reflexão e cuidado se põem a "educar-vos" para ajustar-vos ao velho padrão, com certas modificações. Embora usem palavras muito diferentes, mestres e pais, apoiados pelo governo e a sociedade, estão cuidando de treinar-vos para vos ajustardes à tradição, para aceitardes a ambição e a inveja como a norma natural da vida. Pouco lhes importa uma nova norma de vida, e por essa razão é que o próprio educador não está sendo corretamente educado. A velha geração criou este mundo belicoso, este mundo de antagonismos e divisão entre os homens; e a nova geração está lhe seguindo as pegadas muito diligentemente.
"Mas desejamos ser corretamente educados, senhor. Que devemos fazer?"
Em primeiro lugar, vede bem claramente um fato muito simples: que nem o governo, nem vossos atuais mestres, nem vossos pais, se importam com educar-vos corretamente; se se importassem, este mundo seria muito diferente e não haveria guerras. Portanto se desejais ser educados corretamente, vós mesmos tendes de cuidar disso; e, depois de crescerdes, cuidareis de que vossos filhos sejam corretamente educados.
"Mas, como nos educarmos corretamente? Precisamos que alguém nos oriente."
Vós tendes professores, que vos instruem na Matemática, na Literatura, etc.; mas a educação é coisa mais profunda e mais ampla do que o mero acumular de conhecimentos. Educação é cultivar a mente de maneira que a ação não seja egocêntrica; é aprender, através da vida, a quebrar as muralhas que a mente constrói para se conservar em segurança, do que resulta o medo com todas as suas complexidades. Para vos educardes corretamente, tendes de estudar aplicadamente, e não ser preguiçosos. Jogai bem, não para baterdes outros, mas, sim, para divertir-vos. Tomai alimentos adequados e conservai-vos em bom estado físico. Conservai a mente vigilante e capaz de atender aos problemas da vida, não como hinduístas, comunistas ou cristãos, porém como entes humanos. Para vos educardes corretamente, deveis compreender a vós mesmos; deveis continuar sempre aprendendo alguma coisa a vosso respeito. Se pararmos de aprender, a vida se torna feia e aflitiva. "Sem bondade e amor não há educação correta."

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