sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Qual é o nosso papel?

Após uma postagem apresentando um texto publicado há dez anos, seguida por uma contendo trechos de uma reportagem publicada há dezoito, este blog traz um texto publicado há....... um mês (na edição de julho) em um jornal intitulado Pôr do Sol que é distribuído gratuitamente em lojas de produtos naturais, restaurantes vegetarianos, farmácias homeopáticas etc. A autora é Ilka de Araujo Dantas, taróloga, escritora, professora e uma das fundadoras do referido jornal, e a ideia de apresentá-lo nesta postagem foi provocada pelo último parágrafo da anterior.
Qual é o nosso papel?
Quando formamos uma família, nosso desejo maior é que nossos filhos tenham um futuro de sucesso, e como pais zelosos, queremos dar a eles tudo aquilo que não tivemos e, na maioria das vezes, com o sacrifício de trabalhar o dia inteiro, investimos, a palavra certa é esta, investimos nos estudos matriculando nossos filhos no melhor colégio, cursos de inglês, mandarim, alemão, computador de última geração, iphone, tablets, roupas e tênis caros, onde os filhos com o pouco tempo que lhes sobra vão ficando enfiados dentro de casa, sozinhos e os pais no pouco tempo que se reúnem em família, cobram as boas notas, pois estão investindo muito, tudo é muito caro, educação, saúde etc. Na maioria das vezes, os pais não conversam, não têm mais tempo para os filhos nem paciência para ouvi-los ou perguntar simplesmente: como foi o seu dia? Não têm carinho, afeto, não têm amor, só cobranças.
Em 12 de maio de 2012 foi notícia em algum jornal que uma menina de apenas quinze anos pulou do 8º andar. Ela acabara de almoçar, estava com o uniforme do colégio, o que indicava que iria para a aula. Um choque, uma tragédia na vida de toda essa família e todos os seus colegas.
Aí nos perguntamos: Por quê? Ela tinha apenas quinze anos. Que problemas uma menina de quinze anos pode ter? O que faltou? Hoje ouvimos médicos falarem de crianças com depressão, crianças que precisam de terapias com psicólogos, para ter com quem conversar, pois quando chegam às suas casas depois de um dia inteiro envolvidas em várias tarefas e cursos, não encontram o velho e bom colinho de seus pais lhes dizendo: que bom que você chegou em casa, como foi na escola hoje? Você me parece preocupado, aconteceu alguma coisa?
Quando acontece alguma coisa ruim, a quem eles podem contar? Os pais estão cansados, mal olham para seus filhos e quando isso acontece é para saber se estão tirando boas notas, pois o investimento é alto, o colégio é muito caro. Há também aquele jovem que se torna um revoltado, dando só dor de cabeça aos seus pais, com indisciplina, com demonstrações de violência na rua, na escola, com os professores. Porque temos em nossa sociedade tantos jovens revoltados?
Talvez, na maioria das vezes, eles queiram apenas chamar a atenção, serem notados, só que de forma errada, com violência e desrespeito.
Hoje a sociedade moderna exige que todos nós sejamos bem sucedidos, formados nisso ou naquilo, que falemos mais de um idioma, que ter um trabalho importante vai te garantir a felicidade, amigos, carro, viagens ao exterior e por aí vai. Mas será que todos desejam e querem as mesmas coisas? Será que todas as crianças e adolescentes querem ser grandes executivos de grandes multinacionais?
Precisamos repensar, ouvir nossas crianças, perguntar aos nossos filhos quais são os sonhos deles, porque talvez não sejam os mesmos nossos. Nem todo mundo quer ser o primeiro da turma e nem falar várias línguas. Porque, na maioria das vezes, esses são os nossos sonhos, não os deles.
O que parece é que esquecemos de dar aos nossos filhos, as nossas crianças, o principal, o mais fundamental que é amor, carinho a atenção. Esquecemos de dizer aos nossos filhos que se hoje não deu certo, amanhã será um novo dia e que novas possibilidades surgirão de afeto, diálogo, compreensão. Que o que realmente importa é que eles sejam felizes, e que cresçam seres humanos melhores, com valores, com respeito a si mesmos e ao próximo.
E por fim, associando tudo isso aos últimos acontecimentos com o povo brasiliano, e também de países ao redor do mundo inteiro, os governos são os pais, e o povo os filhos, o recado está sendo dado, os pais não compreendem seus filhos, e também já não mais defendem seus interesses.
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Em uma civilização composta por seres imperfeitos como nós, parece-me óbvio que jamais chegaremos a ler algum texto perfeito e / ou conclusivo sobre o que seja o papel dos pais. Mas, no meu entender, o de Ilka Dantas serve como um ótimo provocador de reflexões sobre esse papel que deve merecer de nós uma atenção extrema por se tratar de algo de inestimável importância para o desenvolvimento de uma civilização que faça jus a essa denominação.

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