Após uma postagem
apresentando um texto publicado há dez anos, seguida por uma contendo trechos
de uma reportagem publicada há dezoito, este blog traz um texto publicado
há....... um mês (na edição de julho) em um jornal intitulado Pôr do Sol
que é distribuído gratuitamente em lojas de produtos naturais, restaurantes
vegetarianos, farmácias homeopáticas etc. A autora é Ilka de Araujo Dantas,
taróloga, escritora, professora e uma das fundadoras do referido jornal, e a
ideia de apresentá-lo nesta postagem foi provocada pelo último
parágrafo da anterior.
Qual é o nosso papel?
Quando formamos uma família, nosso desejo
maior é que nossos filhos tenham um futuro de sucesso, e como pais zelosos,
queremos dar a eles tudo aquilo que não tivemos e, na maioria das vezes, com o
sacrifício de trabalhar o dia inteiro, investimos, a palavra certa é esta,
investimos nos estudos matriculando nossos filhos no melhor colégio, cursos de
inglês, mandarim, alemão, computador de última geração, iphone, tablets, roupas
e tênis caros, onde os filhos com o pouco tempo que lhes sobra vão ficando
enfiados dentro de casa, sozinhos e os pais no pouco tempo que se reúnem em
família, cobram as boas notas, pois estão investindo muito, tudo é muito caro,
educação, saúde etc. Na maioria das vezes, os pais não conversam, não têm mais
tempo para os filhos nem paciência para ouvi-los ou perguntar simplesmente:
como foi o seu dia? Não têm carinho, afeto, não têm amor, só cobranças.
Em 12 de maio de 2012 foi notícia em algum
jornal que uma menina de apenas quinze anos pulou do 8º andar. Ela acabara de
almoçar, estava com o uniforme do colégio, o que indicava que iria para a aula.
Um choque, uma tragédia na vida de toda essa família e todos os seus colegas.
Aí nos perguntamos: Por quê? Ela tinha apenas
quinze anos. Que problemas uma menina de quinze anos pode ter? O que faltou?
Hoje ouvimos médicos falarem de crianças com depressão, crianças que precisam
de terapias com psicólogos, para ter com quem conversar, pois quando chegam
às suas casas depois de um dia inteiro envolvidas em várias tarefas e cursos,
não encontram o velho e bom colinho de seus pais lhes dizendo: que bom que você
chegou em casa, como foi na escola hoje? Você me parece preocupado, aconteceu
alguma coisa?
Quando acontece alguma coisa ruim, a quem eles
podem contar? Os pais estão cansados, mal olham para seus filhos e quando isso
acontece é para saber se estão tirando boas notas, pois o investimento é alto,
o colégio é muito caro. Há também aquele jovem que se torna um revoltado, dando
só dor de cabeça aos seus pais, com indisciplina, com demonstrações de
violência na rua, na escola, com os professores. Porque temos em nossa
sociedade tantos jovens revoltados?
Talvez, na maioria das vezes, eles queiram
apenas chamar a atenção, serem notados, só que de forma errada, com violência e
desrespeito.
Hoje a sociedade moderna exige que todos nós
sejamos bem sucedidos, formados nisso ou naquilo, que falemos mais de um
idioma, que ter um trabalho importante vai te garantir a felicidade, amigos,
carro, viagens ao exterior e por aí vai. Mas será que todos desejam e querem as
mesmas coisas? Será que todas as crianças e adolescentes querem ser grandes
executivos de grandes multinacionais?
Precisamos repensar, ouvir nossas crianças,
perguntar aos nossos filhos quais são os sonhos deles, porque talvez não sejam
os mesmos nossos. Nem todo mundo quer ser o primeiro da turma e nem falar
várias línguas. Porque, na maioria das vezes, esses são os nossos sonhos, não
os deles.
O que parece é que esquecemos de dar aos
nossos filhos, as nossas crianças, o principal, o mais fundamental que é amor,
carinho a atenção. Esquecemos de dizer aos nossos filhos que se hoje não deu certo,
amanhã será um novo dia e que novas possibilidades surgirão de afeto, diálogo, compreensão. Que o que realmente importa é que eles sejam felizes, e que
cresçam seres humanos melhores, com valores, com respeito a si mesmos e ao
próximo.
E por fim, associando tudo isso aos últimos acontecimentos com o povo brasiliano, e também de países ao redor do mundo inteiro, os governos são os pais, e o povo os filhos, o recado está sendo dado, os pais não compreendem seus filhos, e também já não mais defendem seus interesses.
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Em uma civilização composta por seres
imperfeitos como nós, parece-me óbvio que jamais chegaremos a ler algum texto
perfeito e / ou conclusivo sobre o que seja o papel dos pais. Mas, no meu
entender, o de Ilka Dantas serve como um ótimo provocador de reflexões sobre
esse papel que deve merecer de nós uma atenção extrema por se tratar de algo de inestimável
importância para o desenvolvimento de uma civilização que faça jus a essa
denominação.
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