Pais ensinam que pessoas estão à venda é o titulo do texto de Rosely
Sayão apresentado na postagem anterior. E com tal ensinamento propiciam as
condições para a proliferação do germe de um dos mais terríveis males que
assolam não só este país, mas também uma infinidade de outros. Que mal é esse? A
corrupção. "Os
pais usam muito esse recurso de propor presentes ou dinheiro em troca de um
comportamento desejado, de um esforço necessário ou do controle de uma vontade
imperiosa.". É com essa frase que Rosely Sayão inicia o segundo parágrafo
de seu excelente texto. E é a partir dela que começo a defender a ideia de que
corrupção é algo que se aprende em casa.
Vocês concordam que uma interpretação
plausível para corrupção seja o oferecimento de "presentes ou dinheiro em troca de um comportamento desejado"? Se
concordarem, creio que seja fácil perceber que a atitude dos pais citada por
Rosely Sayão configura um exemplo de corrupção. Se não concordarem, creio que
poderão fazê-lo após a leitura dos parágrafos seguintes. Parágrafos que, a prática
do raciocínio sistêmico (segundo o qual tudo está ligado, mesmo que distante no
tempo e no espaço) e a memória, até hoje, digamos, privilegiada, me possibilitaram
ir buscar em uma reportagem que li oito antes da leitura do texto de Rosely
Sayão, na edição de 10 de novembro de 1995 do Jornal do Brasil.
Foi em tal reportagem, assinada por Bráulio
Neto e intitulada Corrupção é o tema da vez, que, pela primeira vez, tive a atenção chamada para a
associação entre corrupção e relacionamento familiar. A reportagem apresenta uma chamada para o
próximo debate de um ciclo intitulado Debates Civis. Ciclo que era realizado pelo Jornal
do Brasil e pelo Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro, e foi daquela reportagem que copiei as
seguintes palavras do então presidente do Círculo Psicanalítico do Rio de
Janeiro, José Carlos Guedes. "No Brasil, nestes últimos 30 anos,
desenvolveu-se a cultura do econômico. A economia foi imposta como a solução
para todos os nossos males, contrapondo-se a outros valores,
despotencializando-os. Como se qualquer valor perdesse o sentido em função do
fator econômico".
Mas o trecho da reportagem cuja lembrança
foi provocada pelo texto de Rosely Sayão é o seguinte. "De uma forma menos
explícita, para Guedes (o psicanalista e não eu, embora eu concorde com o
que ele diz), as relações de interesse e compra de favores são
detectadas na essência familiar. "Se você passar de ano, ganha um
skate", ilustra. "A grosso modo, estabelece-se uma troca que banaliza
valores mínimos", completa.
Será que depois de ler a opinião do Guedes
psicanalista ainda faz sentido discordar da afirmação do Guedes analista de
sistemas de que a atitude dos pais citada por Rosely Sayão configura um exemplo de corrupção?
"Pais ensinam que pessoas estão à venda e
usam muito esse recurso de propor presentes ou dinheiro em troca de um
comportamento desejado", diz Rosely Sayão, em 15 de maio de 2003. "As
relações de interesse e compra de favores são detectadas na essência
familiar", diz o psicanalista José Carlos Guedes em 10 de novembro de
1995. "Com o ensinamento que pessoas estão à venda, os pais propiciam as condições para a proliferação do germe da corrupção",
diz outro Guedes (o analista de sistemas que mantém este blog), em 19 de agosto
de 2013. E vocês o que dizem?
Aproveitando as palavras de José Carlos Guedes apresentadas quatro parágrafos acima, abro aqui um parêntese no assunto principal do texto de Rosely Sayão para sugerir que atentem
para o fato de que, em novembro de 1995, corrupção
foi o tema da vez em um ciclo intitulado Debates Civis. E em uma
reportagem sobre tal ciclo, José Carlos Guedes disse que, no Brasil, nos últimos 30 anos, qualquer
valor perdera o sentido em função do fator econômico. Será que
possível discordar da afirmação de que a partir do momento em que qualquer
valor perde o sentido em função do fator econômico a corrupção passa a
dispor de condições perfeitas para propagar-se de forma devastadora?
Portanto, se quisermos, realmente,
combater a corrupção neste país, é imprescindível enxergar que embora ela tenha
sido praticada nos três últimos mandatos presidenciais ela já existia antes deles. Sendo
assim, se, realmente, desejarmos combatê-la, torna-se imprescindível que a
punição aos corruptos não fique restrita aos participantes dos três últimos
mandatos, mas atinja também os corruptos dos anteriores. E que sejam punidos
não só os corruptos, mas também os corruptores. Parêntese fechado.
Assim como toda e qualquer função, a de pais também
possui um papel a ser desempenhado. E nesse papel jamais estará incluída a
deplorável prática citada na última frase do texto de Rosely Sayão: tentar transformar comportamentos do filho
em objetos de compra e venda. E ao falar em papel a ser desempenhado me vem
à cabeça que o nosso maior problema na condição de pais talvez seja o fato de
até hoje não termos nos interessado, com o devido afinco, na descoberta de qual
seja o nosso papel.
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