quinta-feira, 27 de junho de 2013

Reflexões provocadas por "Os vampiros dos jovens"

Vivemos em tempos realmente muito estranhos! Tempos em que cada vez mais o comportamento do tal do ser inteligente do Universo tem menos relação com a faixa etária em que esteja situado. Tempos em que crianças comportam-se como adultos (fazendo escolhas que não estão aptas a fazer, vestindo-se e maquiando-se como adolescentes ou adultos etc.) e adultos comportam-se como adolescentes (desinteressados por projetos de vida, descuidados do que esteja a sua volta, ávidos por adrenalina e por correr riscos estúpidos e desnecessários, descompromissados em relação a vínculos, adeptos da superficialidade nas relações etc.). Ou seja, tempos de papéis trocados e de falta de seres capazes de desempenhar determinados papéis, entre eles o de os mais antigos serem uma referência para os mais novos. Tempos em que vigora o que Sergio Sinay denomina jovialismo, fenômeno pelo qual homens e mulheres que já passaram a linha divisória da maioridade, se recusam a aceitar esse acontecimento natural. A partir daí, assumem comportamentos infantis, superficiais e irresponsáveis. Diante da pergunta "Por que a sociedade é tão infantil?", Sinay responde assim:
"Por várias razões, entre as quais destaco duas, especialmente. Medo de enfrentar o fato de que não somos eternos, que vamos morrer e, portanto, temos de encontrar o sentido da própria vida, nos comprometendo a viver com consciência, aceitando as dores e as frustrações. O que acontece, na maioria dos casos, é que se buscam caminhos fáceis, acreditando que permanecer em uma eterna adolescência fará com que o tempo pare. A segunda razão é o desenvolvimento tecnológico e científico, que não tem referenciais e nem moral (quando digo moral, me refiro à religiosa), que promete, de maneira manipuladora e perversa, que, por meio da tecnologia, é possível eliminar a dor, o sofrimento e as impossibilidades da vida. Não sou contra a tecnologia, mas o seu desenvolvimento deve ser um meio e não um fim. Quando ficamos fascinados com a tecnologia, somos crianças com um brinquedo novo. Crianças não querem crescer."
Acreditando que permanecer em uma eterna adolescência fará com que o tempo pare! Será que isto faz sentido? Creio que não e Cazuza, em sua curta passagem por esta dimensão, chegou a dizer, em uma música, que o tempo não pára. No final da década de 1980, ele fazia sucesso cantando O tempo não pára. O tempo não parou, a doença de Cazuza evoluiu, ele partiu para outra dimensão e, no meu entender, a veracidade do título da canção foi confirmada. Sim, o tempo não pára e ilude-se quem acredite no contrário. Mas por que será que alguém prefere acreditar que o tempo pára?
Para, equivocadamente, fugir de um acontecimento natural. Aliás, o mais natural de todos depois que se nasce, embora cada vez mais ocorra de modo acidental e / ou provocado. Que acontecimento é esse? A morte. Muitas vezes provocada pelo fascínio com a tecnologia citado no final do segundo parágrafo acima deste. "O jornalista americano William Powers, autor do livro O BlackBerry de Hamlet, acostumou-se a ver notícias sobre a morte de jovens que teclavam enquanto dirigiam", é uma frase de uma reportagem intitulada Sacrificar a vida para ler uma mensagem? Acontece todo dia, publicada na edição de 8 de julho de 2012 do jornal O Estado de S.Paulo e reproduzida no blog Lendo e Opinando em 29 de agosto de 2012. Sim, quando ficamos fascinados com a tecnologia, somos crianças com um brinquedo novo. Brinquedo muitas vezes perigoso, e até mesmo mortal.
Diante da pergunta "A negação da chegada da idade tem a ver com o medo da morte?", Sergio Sinay responde assim:
"Sim. Tem a ver com esse medo. É uma negação disfuncional da morte. Na realidade, é a certeza da morte que dá valor à vida. É justamente porque vamos morrer (porém, não sabemos como e nem quando) que devemos fazer da vida uma experiência com sentido, que registre uma marca e que, também, deixe o mundo um pouco melhor do que como o encontramos. Para isso é necessário amadurecer, viver cada ciclo da vida com consciência."
Viver cada ciclo da vida com consciência! Que tarefa difícil para a maioria, pois esta é composta de seres inconscientes! E a primeira demonstração de inconsciência é constatada pelo desconhecimento de que corpo, mente e alma são uma unidade, não evoluem por caminhos diferentes. E, no meu entender, é, exatamente, esse desconhecimento que leva as pessoas a cuidar apenas da aparência e a lutar para tentar parar o tempo (culto ao corpo, necessidade de adrenalina, riscos inúteis e estúpidos, cirurgias etc.). Mas essas atitudes são sempre vãs, uma vez que o tempo vencerá e um dia ele fará, novamente, todas as perguntas que as pessoas imaturas se negaram a responder. E será dramático se encontrar sem respostas, quando o corpo ficar envelhecido e a alma demonstrar que não foi cuidada do mesmo modo que o corpo. (os trechos grifados são palavras de Sergio Sinay).
Viver cada ciclo da vida com consciência! Consciência de que quando a totalidade do ser marcha de maneira harmônica pelo caminho do tempo, as pessoas mantêm uma mente lúcida, de acordo com sua idade. Uma mente e um espírito que, com o tempo, ganham em sabedoria e passam pelo processo de envelhecimento do corpo.
A entrevista com Sergio Sinay impressiona-me do início ao fim e para encerrar estas reflexões provocadas por ela não encontrei modo melhor do que repetir a última pergunta / resposta. Faço isto em conformidade com a opinião de que vale a pena ler de novo.
"O indivíduo que insiste em não crescer é egocêntrico e tenta sempre se relacionar socialmente com pessoas mais jovens?
Aquele que não quer crescer vive centrado em si mesmo, atento a qualquer sinal da passagem do tempo, para eliminar esse possível sinal. Acaba se desentendendo do mundo, se tornando uma espécie de vampiro dos jovens. Procura se relacionar sempre com pessoas mais jovens, não para orientá-las, para transmitir sabedoria e referências, mas, sim, para tentar ser como elas. Esse tipo de adulto prejudica os jovens, pois não os estimula a crescer. É um dever dos adultos maduros se conectar com os jovens para abrir as portas do mundo, oferecer modelos de maturidade funcional, transmitir memória e valores, para preservar a cadeia de gerações. Do contrário se tornam somente difíceis obstáculos no caminho dos jovens."
Aqueles que devem servir de referência se tornam somente difíceis obstáculos no caminho dos jovens! Quanta inconsciência diante dos ciclos da vida! Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem. E haja perdão!

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