Continuação de terça-feira
Como ficarão as
próximas gerações em relação ao jovialismo?
Creio que serão gerações de alto risco,
porque, salvo algumas valiosas exceções, carecem de exemplos e referências que
ofereçam modelos de maturidade, que os ajudem a crescer. O maior perigo é se
pensarmos que essas gerações serão as que vão dominar os cargos políticos, a
economia, os negócios, a educação e os projetos sociais em geral. O jovialismo
não é um problema nem conjuntural, tampouco menor. Suas sequelas serão graves.
Como a geração mais
nova lida com os adultos que teimam em não crescer e adotam comportamentos
inadequados para a idade que têm?
Vive à deriva, obrigada a crescer por si
mesma, sem exemplos em matéria de valores, modelos vinculares, sem respostas
para os obstáculos que naturalmente surgem na vida, sem capacidade para
assimilar as frustrações e sem conhecimento dos limites. São filhos órfãos com
pais vivos.
Essa questão tem mais
relação com o culto ao corpo (aspecto físico) ou com os fatores sociais (recusa
em assumir responsabilidades e compromissos)?
Tem a ver com tudo o que representa o cuidado
com a aparência e a luta para tentar parar o tempo (culto ao corpo, necessidade
de adrenalina, riscos inúteis e estúpidos, cirurgias, superficialidade nas relações
etc.). Mas essas atitudes são sempre vãs, uma vez que o tempo vencerá e um dia
ele fará, novamente, todas as perguntas que as pessoas imaturas se negaram a
responder. E será dramático se encontrar sem respostas, quando o corpo ficar
envelhecido e a alma demonstrar que não foi cuidada do mesmo modo que o corpo.
Todos dizem que as
pessoas não devem envelhecer antes do tempo, ter uma cabeça jovem diante do
mundo. Como não confundir ter um espírito jovem com a recusa em amadurecer?
Corpo, mente e alma são uma unidade, não
evoluem por caminhos diferentes. Quando a totalidade do ser marcha de maneira
harmônica pelo caminho do tempo, as pessoas mantêm uma mente lúcida, de acordo
com sua idade. Uma mente e um espírito que, com o tempo, ganham em sabedoria e passam
pelo processo de envelhecimento do corpo. Espírito jovem não significa seguir
fazendo aos 60 anos, de maneira patética, o que se fazia com naturalidade aos
20. Há pessoas que no afã de manter um falso espírito jovem terminam se
transformando em caricaturas de si mesmas. Assim como existem pessoas mais
velhas, que têm uma beleza serena, reflexo de tudo o que aprenderam na vida e
da riqueza de seu espírito.
A negação à chegada
da idade tem a ver com o medo da morte?
Sim. Tem a ver com esse medo. É uma negação
disfuncional da morte. Na realidade, é a certeza da morte que dá valor à vida.
É justamente porque vamos morrer (porém, não sabemos como e nem quando) que
devemos fazer da vida uma experiência com sentido, que registre uma marca e
que, também, deixe o mundo um pouco melhor do que como o encontramos. Para isso
é necessário amadurecer, viver cada ciclo da vida com consciência.
O fenômeno depende de
gênero, ou seja, acontece mais na mulher ou no homem?
Ocorre de maneira diferente em cada um. Na
nossa cultura, a mulher é tratada como um objeto sexual (apesar das
manifestações progressistas) e, por isso, tem valor enquanto é desejada pelo
homem. Isso está no inconsciente social. Em consequência, ela vive angustiada
com o envelhecimento do corpo e luta, de maneira patética, contra essa
tendência, desperdiçando a oportunidade de viver de forma harmoniosa. O homem,
por sua vez, é valorizado por sua capacidade produtiva (na economia, no
esporte, na política, no sexo etc.) e sua principal ferramenta nesse aspecto é
o corpo. Por isso, ele também sofre a angústia de se sentir mais velho, porque
perde potência (sem se dar conta que, para quem sabe envelhecer, a sabedoria se
sobrepõe à potência e traz harmonia e tranquilidade). Então, o homem também usa
formas patéticas (e inúteis) de lutar contra o tempo.
Espírito jovem não significa seguir fazendo aos 60 anos o que se fazia aos 20. Há pessoas que no afã de manter um falso espírito jovem terminam se transformando em caricaturas de si mesmas. Assim como existem outras mais velhas, com uma beleza serena, reflexo de tudo o aprenderam na vida
O indivíduo que
insiste em não crescer é egocêntrico e tenta sempre se relacionar socialmente
com pessoas mais jovens?
Aquele que não quer crescer vive centrado em
si mesmo, atento a qualquer sinal da passagem do tempo, para eliminar esse
possível sinal. Acaba se desentendendo do mundo, se tornando uma espécie de
vampiro dos jovens. Procura se relacionar sempre com pessoas mais jovens, não
para orientá-las, para transmitir sabedoria e referências, mas, sim, para
tentar ser como elas. Esse tipo de adulto prejudica os jovens, pois não os
estimula a crescer. É um dever dos adultos maduros se conectar com os jovens
para abrir as portas do mundo, oferecer modelos de maturidade funcional,
transmitir memória e valores, para preservar a cadeia de gerações. Do contrário
se tornam somente difíceis obstáculos no caminho dos jovens.
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Mais uma entrevista que dá o que pensar!
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