sexta-feira, 21 de junho de 2013

Os vampiros dos jovens (final)

Continuação de terça-feira
Como ficarão as próximas gerações em relação ao jovialismo?
Creio que serão gerações de alto risco, porque, salvo algumas valiosas exceções, carecem de exemplos e referências que ofereçam modelos de maturidade, que os ajudem a crescer. O maior perigo é se pensarmos que essas gerações serão as que vão dominar os cargos políticos, a economia, os negócios, a educação e os projetos sociais em geral. O jovialismo não é um problema nem conjuntural, tampouco menor. Suas sequelas serão graves.
Como a geração mais nova lida com os adultos que teimam em não crescer e adotam comportamentos inadequados para a idade que têm?
Vive à deriva, obrigada a crescer por si mesma, sem exemplos em matéria de valores, modelos vinculares, sem respostas para os obstáculos que naturalmente surgem na vida, sem capacidade para assimilar as frustrações e sem conhecimento dos limites. São filhos órfãos com pais vivos.
Essa questão tem mais relação com o culto ao corpo (aspecto físico) ou com os fatores sociais (recusa em assumir responsabilidades e compromissos)?
Tem a ver com tudo o que representa o cuidado com a aparência e a luta para tentar parar o tempo (culto ao corpo, necessidade de adrenalina, riscos inúteis e estúpidos, cirurgias, superficialidade nas relações etc.). Mas essas atitudes são sempre vãs, uma vez que o tempo vencerá e um dia ele fará, novamente, todas as perguntas que as pessoas imaturas se negaram a responder. E será dramático se encontrar sem respostas, quando o corpo ficar envelhecido e a alma demonstrar que não foi cuidada do mesmo modo que o corpo.
Todos dizem que as pessoas não devem envelhecer antes do tempo, ter uma cabeça jovem diante do mundo. Como não confundir ter um espírito jovem com a recusa em amadurecer?
Corpo, mente e alma são uma unidade, não evoluem por caminhos diferentes. Quando a totalidade do ser marcha de maneira harmônica pelo caminho do tempo, as pessoas mantêm uma mente lúcida, de acordo com sua idade. Uma mente e um espírito que, com o tempo, ganham em sabedoria e passam pelo processo de envelhecimento do corpo. Espírito jovem não significa seguir fazendo aos 60 anos, de maneira patética, o que se fazia com naturalidade aos 20. Há pessoas que no afã de manter um falso espírito jovem terminam se transformando em caricaturas de si mesmas. Assim como existem pessoas mais velhas, que têm uma beleza serena, reflexo de tudo o que aprenderam na vida e da riqueza de seu espírito.
A negação à chegada da idade tem a ver com o medo da morte?
Sim. Tem a ver com esse medo. É uma negação disfuncional da morte. Na realidade, é a certeza da morte que dá valor à vida. É justamente porque vamos morrer (porém, não sabemos como e nem quando) que devemos fazer da vida uma experiência com sentido, que registre uma marca e que, também, deixe o mundo um pouco melhor do que como o encontramos. Para isso é necessário amadurecer, viver cada ciclo da vida com consciência.
O fenômeno depende de gênero, ou seja, acontece mais na mulher ou no homem?
Ocorre de maneira diferente em cada um. Na nossa cultura, a mulher é tratada como um objeto sexual (apesar das manifestações progressistas) e, por isso, tem valor enquanto é desejada pelo homem. Isso está no inconsciente social. Em consequência, ela vive angustiada com o envelhecimento do corpo e luta, de maneira patética, contra essa tendência, desperdiçando a oportunidade de viver de forma harmoniosa. O homem, por sua vez, é valorizado por sua capacidade produtiva (na economia, no esporte, na política, no sexo etc.) e sua principal ferramenta nesse aspecto é o corpo. Por isso, ele também sofre a angústia de se sentir mais velho, porque perde potência (sem se dar conta que, para quem sabe envelhecer, a sabedoria se sobrepõe à potência e traz harmonia e tranquilidade). Então, o homem também usa formas patéticas (e inúteis) de lutar contra o tempo.
   Espírito jovem não significa seguir fazendo aos 60 anos o que se fazia aos 20. Há pessoas que no afã de manter um falso espírito jovem terminam se transformando em caricaturas de si mesmas. Assim como existem outras mais velhas, com uma beleza serena, reflexo de tudo o aprenderam na vida
O indivíduo que insiste em não crescer é egocêntrico e tenta sempre se relacionar socialmente com pessoas mais jovens?
Aquele que não quer crescer vive centrado em si mesmo, atento a qualquer sinal da passagem do tempo, para eliminar esse possível sinal. Acaba se desentendendo do mundo, se tornando uma espécie de vampiro dos jovens. Procura se relacionar sempre com pessoas mais jovens, não para orientá-las, para transmitir sabedoria e referências, mas, sim, para tentar ser como elas. Esse tipo de adulto prejudica os jovens, pois não os estimula a crescer. É um dever dos adultos maduros se conectar com os jovens para abrir as portas do mundo, oferecer modelos de maturidade funcional, transmitir memória e valores, para preservar a cadeia de gerações. Do contrário se tornam somente difíceis obstáculos no caminho dos jovens.
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Mais uma entrevista que dá o que pensar!

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