As quatro postagens
anteriores focalizam, digamos, o comportamento equivocado da juventude, mas
será que a responsabilidade por tal comportamento deve ser atribuída
exclusivamente a ela, ou compartilhada com gerações que a antecederam? Para
ajudar àqueles que desejarem refletir sobre tal questão, resolvi espalhar (afinal
o blog é Espalhando ideias) uma
entrevista com Sergio Sinay publicada na edição de dezembro de 2012 / janeiro
de 2013 da revista Sociologia. Devido
ao tamanho do texto mais uma vez recorri à técnica da "trilogia".
Mais uma "trilogia"! Mais um tema que tem muito a ver com as postagens anteriores.
Os vampiros dos jovens
O autor
argentino Sergio Sinay lança livro que aborda o jovialismo, fenômeno pelo qual
homens e mulheres, que já ultrapassaram a linha divisória da maioridade, se
recusam terminantemente a aceitar esse acontecimento natural. A partir daí,
assumem comportamentos infantis, superficiais e irresponsáveis
O argentino Sergio Sinay é jornalista,
escritor, consultor, especialista em Sociologia e pesquisador dos vínculos
humanos. Em sua trajetória profissional, já refletiu a respeito do casamento,
da Psicologia masculina e os laços entre pais e filhos. Agora, resolveu se
dedicar a análise de outro fenômeno comum no comportamento humano: o
jovialismo, ou seja, homens e mulheres, que já ultrapassaram a linha divisória
da maioridade, mas se negam a aceitar esse acontecimento natural da vida. Por
isso, travam batalhas para ocultá-lo ou dissimulá-lo.
Essas pessoas, segundo Sinay, tomam atitudes
infantilizadas, se apegam apenas à superficialidade e modismos e são
irresponsáveis quando o assunto é relação humana. No livro A sociedade que não quer crescer – Quando os adultos se negam a ser
adultos, lançado no Brasil pela editora Guarda-chuva, o autor aborda esse
fenômeno social. "A imaturidade coletiva da sociedade e de seus indivíduos
traz consequências desastrosas para a política, a cultura, a família, a
sexualidade, a vida comunitária e até para a economia mundial", revela o
argentino.
Além disso, Sinay é enfático ao avaliar que
esses adultos imaturos se tornam pais incapazes de conduzir a educação de
crianças e adolescentes, mesmo que tenham alcançado posições respeitáveis na
sociedade. "A ilusão de uma vida afastada de dificuldades, limitações e
dos pesadelos é a fantasia de uma vida sem evolução", ressalta.
Com sólida formação e conhecimento prático em
Gestalt e autoajuda psicológica, é articulista de importantes veículos de mídia
na Argentina e em outros países. É autor de diversos títulos traduzidos para o
inglês, francês, italiano e português.
Sergio Sinay revela, com orgulho, suas
paixões. "A leitura, a escrita e o futebol me acompanham desde cedo e nunca me abandonaram. Procuro estudar tudo que me interessa, pois estou convencido que,
nesta vida, somos eternos aprendizes, que nunca se formam. Acredito que os questionamentos
são ferramentas fundamentais da consciência".
Por que a sociedade é
tão infantil?
Por várias razões, entre as quais destaco
duas, especialmente. Medo de enfrentar o fato de que não somos eternos, que
vamos morrer e, portanto, temos de encontrar o sentido da própria vida, nos
comprometendo a viver com consciência, aceitando as dores e as frustrações. O
que acontece, na maioria dos casos, é que se buscam caminhos fáceis,
acreditando que permanecer em uma eterna adolescência fará com que o tempo pare.
A segunda razão é o desenvolvimento tecnológico e científico, que não tem
referenciais e nem moral (quando digo moral, me refiro à religiosa), que
promete, de maneira manipuladora e perversa, que, por meio da tecnologia, é
possível eliminar a dor, o sofrimento e as impossibilidades da vida. Não sou
contra a tecnologia, mas o seu desenvolvimento deve ser um meio e não um fim.
Quando ficamos fascinados com a tecnologia, somos crianças com um brinquedo
novo. Crianças não querem crescer.
Alguns
acreditam que com a tecnologia é possível eliminar a dor e o sofrimento. Não
sou contra a tecnologia, mas o seu desenvolvimento deve ser um meio e não um
fim. Quando ficamos fascinados com ela, viramos crianças com um brinquedo novo.
Crianças não querem crescer
A chamada síndrome de
Peter Pan pode ser considerada uma enfermidade social?
Sem dúvida. Trata-se de uma epidemia que ataca
pessoas de todas as camadas sociais, econômicas e culturais, incluindo
políticos, empresários, esportistas, cientistas etc.
Existem alguns
números ou estatísticas a respeito da quantidade de pessoas que sofre desse
fenômeno?
É impossível medir isso em números. Na nossa
sociedade, temos o péssimo hábito de acreditar que tudo pode ser reduzido a
números e estatísticas. Parece que se algo não pode ser medido ou pesado, não
existe. Contudo, seus efeitos são claros no comportamento das pessoas que
conduzem seus automóveis de forma irresponsável, em velocidades assassinas, nos
pais que não se comprometem emocionalmente com seus filhos e não oferecem
chances para que eles cresçam, acreditando que comprar tudo para eles é a
melhor maneira de ser pai. O que observamos é uma falta de compromisso em
relação aos vínculos; na ausência de projetos de vida que vão além do ter,
comprar, consumir; no descuido pelo meio ambiente. Todos esses são
comportamentos adolescentes, que quando ocorrem em adolescentes são normais,
mas no momento em que acontecem em adultos são patológicos.
As pessoas que sofrem
desse fenômeno tiveram uma criação que as levaram a ser dessa maneira ou se
trata de uma opção individual?
Sim, a criação influencia. A verdadeira
educação começa em casa, por meio de adultos que têm uma boa cabeça. Eles
transmitem modelos de comportamento, de relação, além de valores. Adultos
imaturos estão preocupados apenas com o aspecto exterior, em ter uma vida
superficial e somente “divertida”. São incapazes de se comprometer. Ou seja,
criaram filhos imaturos, que precisarão, certamente, lutar muito para descobrir
um modelo diferente e assumir uma consciência adulta.
Continua na próxima terça-feira
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