quinta-feira, 13 de junho de 2013

Os vampiros dos jovens (I)

As quatro postagens anteriores focalizam, digamos, o comportamento equivocado da juventude, mas será que a responsabilidade por tal comportamento deve ser atribuída exclusivamente a ela, ou compartilhada com gerações que a antecederam? Para ajudar àqueles que desejarem refletir sobre tal questão, resolvi espalhar (afinal o blog é Espalhando ideias) uma entrevista com Sergio Sinay publicada na edição de dezembro de 2012 / janeiro de 2013 da revista Sociologia. Devido ao tamanho do texto mais uma vez recorri à técnica da "trilogia". Mais uma "trilogia"! Mais um tema que tem muito a ver com as postagens anteriores.
Os vampiros dos jovens
O autor argentino Sergio Sinay lança livro que aborda o jovialismo, fenômeno pelo qual homens e mulheres, que já ultrapassaram a linha divisória da maioridade, se recusam terminantemente a aceitar esse acontecimento natural. A partir daí, assumem comportamentos infantis, superficiais e irresponsáveis
O argentino Sergio Sinay é jornalista, escritor, consultor, especialista em Sociologia e pesquisador dos vínculos humanos. Em sua trajetória profissional, já refletiu a respeito do casamento, da Psicologia masculina e os laços entre pais e filhos. Agora, resolveu se dedicar a análise de outro fenômeno comum no comportamento humano: o jovialismo, ou seja, homens e mulheres, que já ultrapassaram a linha divisória da maioridade, mas se negam a aceitar esse acontecimento natural da vida. Por isso, travam batalhas para ocultá-lo ou dissimulá-lo.
Essas pessoas, segundo Sinay, tomam atitudes infantilizadas, se apegam apenas à superficialidade e modismos e são irresponsáveis quando o assunto é relação humana. No livro A sociedade que não quer crescer – Quando os adultos se negam a ser adultos, lançado no Brasil pela editora Guarda-chuva, o autor aborda esse fenômeno social. "A imaturidade coletiva da sociedade e de seus indivíduos traz consequências desastrosas para a política, a cultura, a família, a sexualidade, a vida comunitária e até para a economia mundial", revela o argentino.
Além disso, Sinay é enfático ao avaliar que esses adultos imaturos se tornam pais incapazes de conduzir a educação de crianças e adolescentes, mesmo que tenham alcançado posições respeitáveis na sociedade. "A ilusão de uma vida afastada de dificuldades, limitações e dos pesadelos é a fantasia de uma vida sem evolução", ressalta.
Com sólida formação e conhecimento prático em Gestalt e autoajuda psicológica, é articulista de importantes veículos de mídia na Argentina e em outros países. É autor de diversos títulos traduzidos para o inglês, francês, italiano e português.
Sergio Sinay revela, com orgulho, suas paixões. "A leitura, a escrita e o futebol me acompanham desde cedo e nunca me abandonaram. Procuro estudar tudo que me interessa, pois estou convencido que, nesta vida, somos eternos aprendizes, que nunca se formam. Acredito que os questionamentos são ferramentas fundamentais da consciência".
Por que a sociedade é tão infantil?
Por várias razões, entre as quais destaco duas, especialmente. Medo de enfrentar o fato de que não somos eternos, que vamos morrer e, portanto, temos de encontrar o sentido da própria vida, nos comprometendo a viver com consciência, aceitando as dores e as frustrações. O que acontece, na maioria dos casos, é que se buscam caminhos fáceis, acreditando que permanecer em uma eterna adolescência fará com que o tempo pare. A segunda razão é o desenvolvimento tecnológico e científico, que não tem referenciais e nem moral (quando digo moral, me refiro à religiosa), que promete, de maneira manipuladora e perversa, que, por meio da tecnologia, é possível eliminar a dor, o sofrimento e as impossibilidades da vida. Não sou contra a tecnologia, mas o seu desenvolvimento deve ser um meio e não um fim. Quando ficamos fascinados com a tecnologia, somos crianças com um brinquedo novo. Crianças não querem crescer.
Alguns acreditam que com a tecnologia é possível eliminar a dor e o sofrimento. Não sou contra a tecnologia, mas o seu desenvolvimento deve ser um meio e não um fim. Quando ficamos fascinados com ela, viramos crianças com um brinquedo novo. Crianças não querem crescer
A chamada síndrome de Peter Pan pode ser considerada uma enfermidade social?
Sem dúvida. Trata-se de uma epidemia que ataca pessoas de todas as camadas sociais, econômicas e culturais, incluindo políticos, empresários, esportistas, cientistas etc.
Existem alguns números ou estatísticas a respeito da quantidade de pessoas que sofre desse fenômeno?
É impossível medir isso em números. Na nossa sociedade, temos o péssimo hábito de acreditar que tudo pode ser reduzido a números e estatísticas. Parece que se algo não pode ser medido ou pesado, não existe. Contudo, seus efeitos são claros no comportamento das pessoas que conduzem seus automóveis de forma irresponsável, em velocidades assassinas, nos pais que não se comprometem emocionalmente com seus filhos e não oferecem chances para que eles cresçam, acreditando que comprar tudo para eles é a melhor maneira de ser pai. O que observamos é uma falta de compromisso em relação aos vínculos; na ausência de projetos de vida que vão além do ter, comprar, consumir; no descuido pelo meio ambiente. Todos esses são comportamentos adolescentes, que quando ocorrem em adolescentes são normais, mas no momento em que acontecem em adultos são patológicos.
As pessoas que sofrem desse fenômeno tiveram uma criação que as levaram a ser dessa maneira ou se trata de uma opção individual?
Sim, a criação influencia. A verdadeira educação começa em casa, por meio de adultos que têm uma boa cabeça. Eles transmitem modelos de comportamento, de relação, além de valores. Adultos imaturos estão preocupados apenas com o aspecto exterior, em ter uma vida superficial e somente “divertida”. São incapazes de se comprometer. Ou seja, criaram filhos imaturos, que precisarão, certamente, lutar muito para descobrir um modelo diferente e assumir uma consciência adulta.
Continua na próxima terça-feira

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