"Coincidentemente, acabei de ver no Facebook uma reportagem publicada em 2007 na revista Época que me parece ter muito a ver com a postagem: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG79639-6014-492,00.html"
Quem costuma ler os
raros comentários feitos neste blog reconhece no parágrafo acima o comentário
feito sobre a postagem anterior ("Ducentésima postagem" ou "Quanto pior melhor"). Concordando com a opinião externada no comentário e imaginando
que sejam poucos os que lerão a citada reportagem (que empresta título a esta postagem), resolvi apresentar aqui uma
compilação de algumas de suas passagens entremeando-as com alguns comentários
meus. Os trechos em itálico são da
reportagem.
"Por
que o brasileiro não reclama? Porque ele acredita que, se ninguém reage, é
melhor ele também não reagir. (...) Por que isso acontece? A resposta a tanta
passividade pode estar em um estudo de Fábio Iglesias, doutor em Psicologia e
pesquisador da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, o brasileiro é
protagonista do fenômeno "ignorância
pluralística", termo cunhado
pela primeira vez em 1924 pelo americano Floyd Alport, pioneiro da psicologia
social moderna."
"'Esse
comportamento ocorre quando um cidadão age de acordo com aquilo que os outros
pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer. Essas pessoas pensam
assim: se o outro não faz, por que eu vou fazer?', diz Iglesias. O problema é que, se ninguém diz nada e
conseqüentemente nada é feito, o desejo coletivo é sufocado. O brasileiro, de
acordo com Iglesias, tem necessidade de pertencer a um grupo. 'Ele não fala sobre si mesmo sem falar do
grupo a que pertence.'"
Estranho, não? Ter necessidade de pertencer a
um grupo, mas não sentir a menor necessidade de atuar em prol do grupo no qual
se insere. Ou seja, por nada entender de necessidades, o brasileiro negligencia
a mais premente delas: ter a consciência do que lhe seja, verdadeiramente, necessário.
Será que existe comportamento mais deplorável do
que agir de acordo com o que os outros
pensam, e não por aquilo que se acha correto fazer? No meu entender, não. Será que existe algum modo de agir que
seja mais praticado do que esse? Creio que não. Será que existe alguma probabilidade de melhora coletiva em uma
sociedade onde pertencer a um grupo não implique no dever de atuar em prol de
tal grupo? Esta é para vocês responderem, ok?
"'Fico
esperando que alguém faça alguma coisa. Ninguém quer bancar o chato', diz o aeroviário carioca Sandro Leal, de
29 anos, quando alguém fura a fila. (...) 'Ninguém quer se destacar, ocorrendo o que se chama 'difusão da responsabilidade', o que leva à inércia'", diz Iglesias. Difusão que pode ser
ilustrada por uma antiga história cujos personagens (TODO MUNDO, ALGUÉM, QUALQUER
UM e NINGUÉM) podem ser
considerados como legítimos representantes do povo citado no título desta
postagem.
"Havia um importante trabalho a ser feito e TODO MUNDO tinha certeza que ALGUÉM o faria, pois QUALQUER UM poderia fazê-lo. Mas como NINGUÉM o fez ALGUÉM zangou-se porque era um trabalho de TODO MUNDO. Ou seja, por TODO MUNDO ter pensado que QUALQUER UM poderia fazer o trabalho, NINGUÉM imaginou que TODO MUNDO deixasse de fazê-lo. Ao final, TODO MUNDO culpou ALGUÉM quando NINGUÉM fez o que QUALQUER UM poderia ter feito."
Vocês concordam que a história ilustra a
maneira como o brasileiro lida com qualquer inconveniente que afete mais alguém
além dele próprio?
"O
antropólogo Roberto da Matta diz que não se pode dissociar o comportamento omisso
dos brasileiros da prática do 'jeitinho'. Para ele, o fato de o povo não lutar por
seus direitos, em maior ou menor grau, também pode ser explicado pelas pequenas
infrações que a maioria comete no dia-a-dia. 'Molhar a mão' do guarda para
fugir da multa, estacionar nas vagas para deficientes ou driblar o
engarrafamento ao usar o acostamento das estradas são práticas comuns e fazem o
brasileiro achar que não tem moral para reclamar do político corrupto. 'Existe um elo entre todos esses
comportamentos. Uma sociedade de rabo preso não pode ser uma sociedade de
protesto', diz o antropólogo."
Sim, o comportamento omisso tem tudo a ver com
a prática do jeitinho, pois este não passa de um paliativo particular para um
problema coletivo. Concordo com Roberto da Matta quando diz que a maioria dos brasileiros não tem moral para reclamar do político corrupto, pois
ambos possuem o mesmo germe: vivem em função apenas de si mesmos e não dão a
mínima importância ao fato de o seu modo de vida individualista ser nocivo para
os demais integrantes da sociedade. Em vez de protestar em prol do todo, o que a
maioria dos brasileiros faz é buscar alguma vantagem pessoal através de algum
meio escuso.
"Para
o sociólogo Pedro Demo, autor do livro Cidadania Pequena (ed. Autores Associados),
além de toda a conjuntura atual, há o fator histórico: a colonização portuguesa
voltada para a exploração e a independência declarada de cima para baixo, por
dom Pedro I, príncipe regente da metrópole. 'Historicamente aprendemos a esperar que a decisão venha de fora. Ainda
nos falta a noção do bem comum. Acredito que, ao longo do tempo, não tivemos
lutas suficientes para formá-la', diz
Demo."
Segundo o sociólogo Pedro Demo, além de toda conjuntura atual, há o fator
histórico: a colonização portuguesa. Concordar com Pedro Demo é extremamente
cômodo, pois atribuir apenas a quem nos colonizou a culpa pelos nossos defeitos
possibilita fugir da responsabilidade de agir no sentido de eliminá-los. Que
belo convite a omissão, não? Tenho opinião diferente e é sobre ela que falarei
na próxima postagem: Por que somos como
somos? Mas antes disso, vejamos as conclusões tiradas desta. A conclusão da
reportagem de Martha Mendonça e Ronald Freitas é a seguinte:
"Apesar
das explicações diversas sobre o comportamento passivo dos brasileiros, os
estudiosos concordam num ponto: é preciso agir individualmente e de acordo com
a própria consciência. 'Isso evita a
chamada espiral do silêncio', diz o
pesquisador Iglesias. O primeiro passo para a mudança é abrir a boca."
A reportagem indica
apenas o primeiro passo, então resolvi indicar mais alguns. O segundo é passar
a reclamar de forma adequada. Ou seja, entender reclamação como "reclamar
ação", pois sem partir para alguma ação o abrir a boca (primeiro passo) resume-se a uma simples queixa, e
apenas queixar-se jamais mudará alguma coisa. O terceiro passo é parar de lavar
as mãos (por julgar-se inocente em relação aos males que afligem a sociedade) e
passar a colocá-las na massa para que possam ajudar a produzir algo capaz de matar a fome de
paz, de harmonia e de justiça que grassa nesta insana sociedade.
O quarto e o quinto passos são inspirados em dois
trechos de um de nossos símbolos: o Hino Nacional. O quarto passo é abandonar o
deitado eternamente em berço esplêndido.
Até porque ele está cada vez menos esplêndido. O quinto é tornar verdade o verás que um filho teu não foge à luta.
Fico por aqui, pois
creio que após esses cinco passos, QUALQUER UM seja capaz de descobrir quais serão os
próximos. Portanto, a necessidade primordial é que TODO MUNDO se
disponha a dar os cinco passos propostos. ALGUÉM se habilita a ser o primeiro? Encerro esta postagem solicitando que reflitam
sobre o que é dito cima e, caso estejam de acordo, espalhem esta postagem o
mais que puderem, para que NINGUÉM deixe de refletir sobre os passos necessários
para que esta sociedade, finalmente, acerte o passo e caminhe na direção de um
país melhor para TODO MUNDO.
ALGUÉM discorda ou TODO MUNDO está de acordo? É óbvio que QUALQUER UM pode discordar do que foi dito acima, mas o que espero é que NINGUÉM o faça na condição de protagonista
do fenômeno "ignorância pluralística". Ou seja, agindo de acordo com aquilo que os outros
pensam, e não por aquilo que ache correto fazer.
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