quinta-feira, 25 de abril de 2013

Por que o brasileiro não reclama?

"Coincidentemente, acabei de ver no Facebook uma reportagem publicada em 2007 na revista Época que me parece ter muito a ver com a postagem: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG79639-6014-492,00.html"
Quem costuma ler os raros comentários feitos neste blog reconhece no parágrafo acima o comentário feito sobre a postagem anterior ("Ducentésima postagem" ou "Quanto pior melhor"). Concordando com a opinião externada no comentário e imaginando que sejam poucos os que lerão a citada reportagem (que empresta título a esta postagem), resolvi apresentar aqui uma compilação de algumas de suas passagens entremeando-as com alguns comentários meus. Os trechos em itálico são da reportagem.
"Por que o brasileiro não reclama? Porque ele acredita que, se ninguém reage, é melhor ele também não reagir. (...) Por que isso acontece? A resposta a tanta passividade pode estar em um estudo de Fábio Iglesias, doutor em Psicologia e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, o brasileiro é protagonista do fenômeno "ignorância pluralística", termo cunhado pela primeira vez em 1924 pelo americano Floyd Alport, pioneiro da psicologia social moderna."
"'Esse comportamento ocorre quando um cidadão age de acordo com aquilo que os outros pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer. Essas pessoas pensam assim: se o outro não faz, por que eu vou fazer?', diz Iglesias. O problema é que, se ninguém diz nada e conseqüentemente nada é feito, o desejo coletivo é sufocado. O brasileiro, de acordo com Iglesias, tem necessidade de pertencer a um grupo. 'Ele não fala sobre si mesmo sem falar do grupo a que pertence.'"
Estranho, não? Ter necessidade de pertencer a um grupo, mas não sentir a menor necessidade de atuar em prol do grupo no qual se insere. Ou seja, por nada entender de necessidades, o brasileiro negligencia a mais premente delas: ter a consciência do que lhe seja, verdadeiramente, necessário.
Será que existe comportamento mais deplorável do que agir de acordo com o que os outros pensam, e não por aquilo que se acha correto fazer? No meu entender, não. Será que existe algum modo de agir que seja mais praticado do que esse? Creio que não. Será que existe alguma probabilidade de melhora coletiva em uma sociedade onde pertencer a um grupo não implique no dever de atuar em prol de tal grupo? Esta é para vocês responderem, ok?
"'Fico esperando que alguém faça alguma coisa. Ninguém quer bancar o chato', diz o aeroviário carioca Sandro Leal, de 29 anos, quando alguém fura a fila. (...) 'Ninguém quer se destacar, ocorrendo o que se chama 'difusão da responsabilidade', o que leva à inércia'", diz Iglesias. Difusão que pode ser ilustrada por uma antiga história cujos personagens (TODO MUNDO, ALGUÉM, QUALQUER UM e NINGUÉM) podem ser considerados como legítimos representantes do povo citado no título desta postagem.
"Havia um importante trabalho a ser feito e TODO MUNDO tinha certeza que ALGUÉM o faria, pois QUALQUER UM poderia fazê-lo. Mas como NINGUÉM o fez ALGUÉM zangou-se porque era um trabalho de TODO MUNDO. Ou seja, por TODO MUNDO ter pensado que QUALQUER UM poderia fazer o trabalho, NINGUÉM imaginou que TODO MUNDO deixasse de fazê-lo. Ao final, TODO MUNDO culpou ALGUÉM quando NINGUÉM fez o que QUALQUER UM poderia ter feito."
Vocês concordam que a história ilustra a maneira como o brasileiro lida com qualquer inconveniente que afete mais alguém além dele próprio?
"O antropólogo Roberto da Matta diz que não se pode dissociar o comportamento omisso dos brasileiros da prática do 'jeitinho'. Para ele, o fato de o povo não lutar por seus direitos, em maior ou menor grau, também pode ser explicado pelas pequenas infrações que a maioria comete no dia-a-dia. 'Molhar a mão' do guarda para fugir da multa, estacionar nas vagas para deficientes ou driblar o engarrafamento ao usar o acostamento das estradas são práticas comuns e fazem o brasileiro achar que não tem moral para reclamar do político corrupto. 'Existe um elo entre todos esses comportamentos. Uma sociedade de rabo preso não pode ser uma sociedade de protesto', diz o antropólogo."
Sim, o comportamento omisso tem tudo a ver com a prática do jeitinho, pois este não passa de um paliativo particular para um problema coletivo. Concordo com Roberto da Matta quando diz que a maioria dos brasileiros não tem moral para reclamar do político corrupto, pois ambos possuem o mesmo germe: vivem em função apenas de si mesmos e não dão a mínima importância ao fato de o seu modo de vida individualista ser nocivo para os demais integrantes da sociedade. Em vez de protestar em prol do todo, o que a maioria dos brasileiros faz é buscar alguma vantagem pessoal através de algum meio escuso.
"Para o sociólogo Pedro Demo, autor do livro Cidadania Pequena (ed. Autores Associados), além de toda a conjuntura atual, há o fator histórico: a colonização portuguesa voltada para a exploração e a independência declarada de cima para baixo, por dom Pedro I, príncipe regente da metrópole. 'Historicamente aprendemos a esperar que a decisão venha de fora. Ainda nos falta a noção do bem comum. Acredito que, ao longo do tempo, não tivemos lutas suficientes para formá-la', diz Demo."
Segundo o sociólogo Pedro Demo, além de toda conjuntura atual, há o fator histórico: a colonização portuguesa. Concordar com Pedro Demo é extremamente cômodo, pois atribuir apenas a quem nos colonizou a culpa pelos nossos defeitos possibilita fugir da responsabilidade de agir no sentido de eliminá-los. Que belo convite a omissão, não? Tenho opinião diferente e é sobre ela que falarei na próxima postagem: Por que somos como somos? Mas antes disso, vejamos as conclusões tiradas desta. A conclusão da reportagem de Martha Mendonça e Ronald Freitas é a seguinte:
"Apesar das explicações diversas sobre o comportamento passivo dos brasileiros, os estudiosos concordam num ponto: é preciso agir individualmente e de acordo com a própria consciência. 'Isso evita a chamada espiral do silêncio', diz o pesquisador Iglesias. O primeiro passo para a mudança é abrir a boca."
A reportagem indica apenas o primeiro passo, então resolvi indicar mais alguns. O segundo é passar a reclamar de forma adequada. Ou seja, entender reclamação como "reclamar ação", pois sem partir para alguma ação o abrir a boca (primeiro passo) resume-se a uma simples queixa, e apenas queixar-se jamais mudará alguma coisa. O terceiro passo é parar de lavar as mãos (por julgar-se inocente em relação aos males que afligem a sociedade) e passar a colocá-las na massa para que possam ajudar a produzir algo capaz de matar a fome de paz, de harmonia e de justiça que grassa nesta insana sociedade.
O quarto e o quinto passos são inspirados em dois trechos de um de nossos símbolos: o Hino Nacional. O quarto passo é abandonar o deitado eternamente em berço esplêndido. Até porque ele está cada vez menos esplêndido. O quinto é tornar verdade o verás que um filho teu não foge à luta.
Fico por aqui, pois creio que após esses cinco passos, QUALQUER UM seja capaz de descobrir quais serão os próximos. Portanto, a necessidade primordial é que TODO MUNDO se disponha a dar os cinco passos propostos. ALGUÉM se habilita a ser o primeiro? Encerro esta postagem solicitando que reflitam sobre o que é dito cima e, caso estejam de acordo, espalhem esta postagem o mais que puderem, para que NINGUÉM deixe de refletir sobre os passos necessários para que esta sociedade, finalmente, acerte o passo e caminhe na direção de um país melhor para TODO MUNDO.
ALGUÉM discorda ou TODO MUNDO está de acordo? É óbvio que QUALQUER UM pode discordar do que foi dito acima, mas o que espero é que NINGUÉM o faça na condição de protagonista do fenômeno "ignorância pluralística". Ou seja, agindo de acordo com aquilo que os outros pensam, e não por aquilo que ache correto fazer.

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