A produtividade vai aumentar, diz um estudo"Um dos equívocos mais frequentes nas empresas é confundir número de horas no escritório com produtividade. Ser o primeiro a chegar e o último a sair, além de ficar permanentemente disponível graças às modernas tecnologias, é um comportamento louvado. Mas pode ser muito improdutivo, alerta Leslie Perlow, professora da Escola de Negócios de Harvard e autora de Sleeping with Your Smartphone ('Dormindo com seu celular'). Após muita relutância, Leslie conseguiu realizar um experimento com uma equipe do Boston Consulting Group (BCG). Metade dos executivos participantes trabalhava 65 horas/semana, além de passar 20 horas semanais monitorando seus smartphones. O grande desafio: reduzir essa jornada. Para surpresa geral, a produtividade aumentou. Com menos tempo disponível, as equipes tiveram de se coordenar de maneira mais eficiente. Hoje o BCG adota o método em 32 escritórios de 14 países.O comportamento workaholic mina a produtividade e a criatividade, diz Leslie. E a chegada dos smartphones agravou a noção distorcida de que devemos estar sempre disponíveis e acessíveis ao trabalho. Porém, 'desligar-se' por algum tempo pode causar incrível ansiedade em quem não está acostumado a isso."
O texto acima é a íntegra de uma reportagem publicada na edição de março de 2013 da revista Época Negócios em uma seção intitulada Inteligência.
Lembrando que alguns leitores declararam apreciar postagens que
focalizem o teatro corporativo, este blog traz mais uma ao palco.
Equívocos e confusões! Duas coisas cada vez
mais abundantes no estranho mundo corporativo. E dentre os equívocos, creio que
um dos mais lamentáveis seja repassar - para consultores e elementos externos - a
responsabilidade por funções que competem aos que as desempenhem na empresa. E um
bom (ou seria mau?) exemplo de tal prática pode ser visto na reportagem que
provocou esta postagem. Será que compete a uma professora da Escola de Negócios de
Harvard alertar para o fato de que trabalhar demais pode ser improdutivo? No
meu entender, não, pois creio que qualquer profissional consciente seja capaz
de associar as duas coisas: trabalho excessivo e improdutividade. E para
defender esta opinião digo o seguinte.
Trabalhar demais leva ao cansaço e este leva à
deficiência de atenção e de raciocínio que são condições necessárias para entender, corretamente, o problema.
Mal entendido o problema, parece-me óbvio que a “solução” aplicada jamais o
resolve, o que leva a uma das piores práticas do teatro corporativo: o
retrabalho. Será que existe algo mais improdutivo do que refazer inúmeras vezes
o mesmo trabalho? No meu entender, não. Será que é difícil para qualquer
profissional consciente perceber a relação entre trabalho excessivo e
improdutividade? Creio que não. Será que é difícil encontrar profissionais
conscientes? Creio que sim. É impressionante a quantidade de profissionais atuantes naquele que eu considero o maior movimento deste planeta: o MSN (Movimento dos Sem Noção).
Falei em falta de noção e Leslie Perlow em
noção distorcida. Noção distorcida de que
devemos estar sempre disponíveis e acessíveis ao trabalho. Sempre disponíveis
e acessíveis principalmente para refazer inúmeras vezes trabalhos
malfeitos devido à aceitação de trabalhar durante intervalos de tempo maiores
do que o limite para seres humanos conseguirem realizar algo que preste.
Ultrapassar tal limite é, praticamente, garantir a produção de algo que gatos
cobrem com terra ou areia (o que eles tiverem disponível) após tê-lo feito.
Sim, "'desligar-se'
por algum tempo pode causar incrível ansiedade em quem não está acostumado a
isso.", diz Leslie Perlow. O problema é que superar essa incrível ansiedade é condição sine qua non para trabalharmos menos,
sermos mais produtivos e, consequentemente, obtermos algo sobre o qual tanto se
fala, mas para o qual pouco se faz, nesta insana sociedade na qual
sobrevivemos: qualidade de vida. Trabalhar menos é algo, simplesmente,
imprescindível para quem quiser ter qualidade de vida. Difícil? Muito, pois
trabalhar menos é andar na contramão em uma sociedade onde as pessoas de tão
ocupadas (sabe Deus com quê) nem sequer têm tempo para perceber que suas
frenéticas atividades acabam voltando-se contra elas mesmas. E mais uma vez cabe encerrar a postagem com a célebre intercessão feita
por um mestre que deixou este planeta há 1980 anos: Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem.
A quem quiser ler mais sobre o tema trabalhar menos, recomendo a leitura de Não é dedicação, é ineficiência (20.03.2012), Não é preguiça, é eficiência (16.03.2012), Contrate preguiçosos! (23.03.2012).
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