Para encerrar a
sequência iniciada com Mudar o amanhã,
segue um texto que encontrei em um livro intitulado Carta aos CONCURSANDOS,
de autoria de Francisco Dirceu Barros e William Douglas. Para quem desejar
contribuir para a construção de um mundo melhor considero o texto imperdível.
São do livro as seguintes palavras: “O bem que você faz torna o lugar onde você
vive melhor, repercutindo para você mesmo. Um bom exemplo disso é retratado
pela parábola que segue”.
O Milho Bom
Existia um fazendeiro que por diversas vezes
venceu o concurso do “melhor milho".
Todo ano ele entrava com seu milho na feira e
ganhava o maior prêmio. Uma vez um repórter de jornal o entrevistou e aprendeu
algo interessante sobre como ele cultivava o milho. Descobriu que o fazendeiro
compartilhava a sua semente de milho com os vizinhos.
“Como pode você se dispor a compartilhar sua
melhor semente de milho com seus vizinhos, quando eles estão competindo com o
seu a cada ano?”, perguntou o repórter.
“Por quê?”, replicou o fazendeiro, “Você não
sabe? O vento apanha pólen do milho maduro e o leva de campo para campo. Se
meus vizinhos cultivam milho inferior, a polinização degradará continuamente a
qualidade de meu milho. Se eu for cultivar milho bom, eu tenho que ajudar meus
vizinhos a cultivarem milho bom”.
Ele era atento as conexões da vida. O milho
dele não pode melhorar, a menos que o milho do vizinho também melhore. Assim
também acontece em outras dimensões. Aqueles que escolhem estar em paz devem
fazer com que seus vizinhos estejam em paz. Aqueles que querem viver bem, têm que
ajudar os outros para que vivam bem. E aqueles que querem ser felizes, têm que
ajudar os outros a acharem a felicidade. O bem-estar de cada um está ligado ao
bem-estar de todos. A lição, para cada um de nós, é que, se quisermos cultivar
algo de bom, temos que ajudar o próximo também a fazê-lo.
*************
Enxergo na parábola duas aplicações: explicar
como esta insana sociedade chegou à degradação atual e ensinar como construir
uma sociedade que possibilite bem-estar àqueles que a compõem. Construir tal
sociedade passa pela atitude de cada um compartilhar o que tem de bom. Afinal,
a vida é feita de conexões (ela é sistêmica) e, se quisermos cultivar algo de
bom, temos que ajudar o próximo também a fazê-lo, pois o bem-estar de
cada um está ligado ao bem-estar de todos. Deixar a sociedade chegar à
degradação atual passa pelo estímulo a competição sem limites que provoca o
aniquilamento dos concorrentes.
O vento leva pólen de campo para campo. Portanto, se o milho
dos vizinhos for ruim o vento trará para o nosso campo pólen de milho ruim. Se
compartilharmos o nosso milho bom com os vizinhos, o vento trará (de volta)
pólen do milho bom que compartilhamos. Isto se chama lei do retorno.
Segundo esta lei, a vida atua como um bumerangue que traz de volta tudo que
cada um faz de bom ou de mal. Portanto, por uma questão de inteligência, só
deveríamos fazer coisas boas. A degradada sociedade em que sobrevivemos é
conseqüência do desrespeito à lei de retorno.
Falar em cultivar milho me lembra um episódio
ocorrido nos primeiros dias de 2010. Uma sobrinha – que na época tinha
dezesseis anos de idade - estava em minha casa e uma pergunta que lhe fiz
provocou um diálogo que, por analogia com a parábola acima, chamei de “A Lichia
Ruim”.
*************
A Lichia Ruim
- Você conhece esta fruta, sobrinha?
- Não, tio. Que fruta
é essa?
- É lichia.
- Ah! Eu planto essa
fruta na minha fazenda!
- Você tem uma
fazenda?!
- Tenho.
- Onde ela fica?
- No ORKUT.
- No ORKUT!!!
- Sim, quer ver?
Aí, ela foi até o computador e me mostrou a
fazenda. “Clicou” em uma figura que representava uns canteiros e surgiram
desenhos representando umas frutas. Ao vê-las, falei que eram pêssegos e não
lichias. Ela concordou, “clicou” em outra área dos canteiros e apareceram as
lichias. Ela prosseguiu mostrando a “sua” fazenda e explicou sua atuação como
fazendeira. Dentre as coisas que disse destaco as seguintes:
- A gente rouba coisas nas fazendas dos
vizinhos e vende para ganhar dinheiro.
- A gente coloca pragas nas plantações dos
vizinhos.
Fiquei espantado com o que ouvi, comentei que
era um jogo bastante educativo (!) e fiz algumas perguntas que me parecem
bastante óbvias. Faz sentido colocar pragas na plantação de alguém a quem se
pretende roubar? Se as pragas destruírem a plantação do vizinho o que restará
para ser roubado? Independentemente do ato ilícito de roubar, me pareceu estar
diante de uma demonstração de estupidez, pois pragas inseridas na vizinhança propagam-se
para a própria plantação. Minha sobrinha ficou sem respostas, mas o meu espanto
não terminou aqui. No dia seguinte minha esposa tinha adquirido uma fazenda. Dá
para acreditar na melhoria da humanidade?
Sim, se nos dispusermos a cultivar milho bom e
a compartilhar com nossos vizinhos as nossas sementes. Não, se optarmos
por colocar pragas sem suas plantações, pois a lei do retorno é
infalível. Portanto, a lição, para cada um de nós, é que, se quisermos
cultivar algo de bom, temos que ajudar o próximo também a fazê-lo.
Em uma fundamentada em uma competitividade
a cada dia mais feroz, a parábola do Milho
Bom é uma verdadeira lição de anti-competitividade e de cooperação na
tarefa de Mudar o amanhã. Para
encerrar, deixo-lhes uma afirmação de Paul Scherrer (1890 - 1969) que tem tudo a ver com as
ideias passadas por esta postagem: “O ser humano tem que perceber que ‘o único
meio de multiplicar a felicidade é dividindo-a’”.
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