Sendo apologista do
raciocínio sistêmico (segundo o qual qualquer coisa apresenta ligações com
outras) tenho o hábito de publicar postagens consecutivas sobre determinado
tema. Foi o que ocorreu com as três anteriores e que prosseguirá com esta,
pois, no meu entender, uma postagem homenageando o Dia Internacional da Mulher tem tudo a ver com Mudar o amanhã.
Desculpando-me pela
falta de inspiração, mas não querendo deixar de homenagear as mulheres em seu Dia
Internacional optei por recorrer a um texto intitulado Ideal Feminino
que eu gostaria de ter escrito. Ele foi publicado na edição de janeiro de 2009
do jornal Oxigênio, uma publicação distribuída gratuitamente que eu
costumo encontrar em lojas de produtos naturais e restaurantes vegetarianos, e é
atribuído a José Luiz, apresentado como estudante de teosofia, Ramana Mahashi e
Krishnamurti.
Ideal Feminino
No século XIX, Helena Petrovna Blavatsky, ou
simplesmente Blavatsky, como gostava de ser chamada, percebeu – ou foi
orientada pelos Mahatmas que, por seu intermédio nos legaram, entre outros
ensinamentos, a Doutrina Secreta – que o mundo ocidental deveria se voltar para
o ideal feminino, perdido por ocasião da passagem do matriarcalismo, para o
patriarcalismo, fato que assinalou a vitória do Cristianismo Teológico, a
reboque do Império Romano, e, consequentemente da herança judaica.
Um Deus masculino emergia em substituição à
visão de Deus que se apresentava também na forma feminina e das deidades
femininas dos ditos povos pagãos, principalmente os orientais. Blavatsky sabia
que ou o ocidente se voltava para os aspectos abandonados do matriarcalismo –
tolerância, fraternidade, paz, sensibilidade, intuição, compreensão – ou
estaríamos fadados ao malogro.
Na época de Blavatsky, bem como da sua
sucessora, Annie Besant, a Sociedade Teosófica apoiou vários movimentos de
cunho feminista, buscando a libertação da mulher do jugo patriarcal.
A mulher, ao longo do tempo, foi conseguindo
finalmente se libertar de várias formas de opressão e, já no século passado e
em nosso atual século, ocupou e ocupa cargos de poder. É certo que as funções
mais importantes, aquelas que decidem os destinos do mundo, continuam nas mãos
dos homens, mas, cada vez mais, a mulher ascende nessa escalada e,
lamentavelmente, tudo indica também que formou-se uma nova onda de marketing
político, principalmente na nossa América Latina.
A mulher no poder, na grande maioria dos
casos, sucumbiu, tentou fazer a imitação do homem, tornando-se caricata nessa
atitude. Ficaram ainda mais opressoras que os próprios opressores, mais
masculinas (no sentido dos valores masculinos, de dominação: guerra,
competição, controle, agressividade), do que o próprio homem. Hoje como disse, são
objeto da mídia, que mais uma vez assimilou a mudança em nome do sistema.
Diante desse
quadro, já não se trata de ter a mulher no poder, mas de buscar incorporar o
“ideal feminino”; isso quer dizer que o sexo não importa, o importante são os
ideais. Os ideais masculinos, certamente, em medida equilibrada, não são ruins,
mas, exacerbados como estão, geram o que estamos vendo: uma civilização à beira
do colapso total.
Se os ideais masculinos estão exageradamente
exaltados, temos que fazer uma contrapartida urgente, promovendo a supremacia
dos ideais femininos, para, numa etapa seguinte, corrigida a grave distorção,
buscarmos o equilíbrio entre os aspectos masculinos e femininos.
No momento, pessoas, independentemente do
sexo, alinhadas com a paz, a fraternidade, a sensibilidade, a intuição,
compreensão, tolerância, compaixão, em resumo, com o aspecto feminino do ser,
deveriam ser indicadas para essa mudança de paradigma.
Nosso erro fundamental, ao longo de todos
esses séculos de domínio patriarcal, foi esperar que, formadas em uma cultura
tão egocêntrica e competitiva, as pessoas pudessem ser sinceramente
interessadas pelo bem comum, pelo próximo. Aconteceu e acontece que o discurso
na prática é outro, pois das entranhas do egocentrismo não pode nascer o
altruísmo.
A revolução interior de cada um se faz hoje
mais do que necessária, a fim de que uma nova consciência, uma nova humanidade,
possa renascer dos escombros da atual, e o autoconhecimento, é uma das
principais (se não a principal) ferramenta dessa revolução silenciosa. Mudança
de paradigma.
Então não se trata mais de termos a mulher no
poder, mas sim de termos o ideal feminino no poder.
Quem sabe dessa forma ainda temos alguma
chance?
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“O mundo que criamos hoje, como resultado de nosso pensamento, tem agora
problemas que não podem ser resolvidos se pensarmos da mesma forma que os
criamos.” Fazendo uma adaptação das sábias palavras de Albert Einstein, digo o
seguinte: O mundo que criamos hoje, como resultado de ideais masculinos, tem
agora problemas que não podem ser resolvidos se usarmos os mesmos ideais que os
criaram. Ou seja, se desejarmos um amanhã melhor do que o hoje é imprescindível
que haja espaço para o que José Luiz chama de aspecto feminino do ser: paz, fraternidade, sensibilidade, intuição, compreensão, tolerância e compaixão.
O problema é que nesta sociedade deficiente quanto à interpretação do que
nela ocorre, o fato de a mulher passar a ocupar cargos e funções antes ocupados
exclusivamente por homens proporciona a errônea impressão de que a sociedade está
concedendo espaço para os ideais femininos. Fala-se em igualdade de direitos (o
que envolveria o direito de exercer os ideais femininos), mas a igualdade
concedida à mulher é apenas a de exercer as mesmas funções que os homens, o que
a coloca inclusive em condições de igualdade para morrer em frentes de
batalha nas guerras.
O sinistro, no meu entender, é que a mulher parece estar satisfeita com a
igualdade recebida e sendo assim o que faz ela? Em vez de mostrar a
superioridade dos ideais femininos para a construção de um amanhã onde todos
(homens e mulheres) possam viver em harmonia, a mulher parte uma competição (um
ideal masculino) cada vez mais feroz com a qual pretende mostrar que é superior
ao homem em qualquer coisa que seja permitido que ambos façam. Ou seja, em vez
de lutar para fazer com que o aspecto feminino seja incorporado à sociedade,
ela parece ter capitulado e incorporado o aspecto masculino que moldou a
insana sociedade na qual sobrevivemos. O que se vê hoje é a mulher
perfeitamente adaptada aos ideais masculinos: competição, controle,
agressividade, guerra. Conforme dito no parágrafo acima, hoje a mulher já aceita
até morrer em frentes de batalha. Definitivamente, isto não é uma conquista;
talvez seja até uma punição pelas tentativas de conquista.
A intenção desta postagem é homenagear as mulheres, principalmente as que
sem abrir mão dos ideais femininos prosseguem atuando no sentido de mudar o
amanhã, e conscientizar os homens de que construir um mundo onde homens e
mulheres possam conviver harmoniosamente é tarefa a ser compartilhada pelos
dois gêneros. Às mulheres cabe colocar em prática, em toda e qualquer atividade por
elas desempenhadas, os ideais femininos (paz, fraternidade, sensibilidade,
intuição, compreensão, tolerância e compaixão). Aos homens cabe abandonar os ideais
masculinos (guerra, competição, controle, agressividade) e criar condições
propícias para o desenvolvimento do aspecto feminino.
Reconhecer que sem as mulheres o mundo criado
por eles tem agora problemas que não podem
ser resolvidos se usarmos os mesmos ideais com os quais os criamos é um
excelente começo. Aceitar a cooperação (um ideal feminino) das mulheres na
construção um amanhã melhor do que o hoje é um ótimo segundo passo. Está
completamente equivocado quem acha que homens e mulheres são sexos opostos. Eles
são complementares, e é com a cooperação dos dois que chegaremos a um
amanhã que preste. Quem sabe dessa forma
ainda temos alguma chance? É com esta frase que José Luiz encerra o seu excelente
texto, e é também com ela que encerro esta postagem.
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