quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Reflexões provocadas por "Mudar o amanhã"

Começo minhas reflexões a partir de afirmações com as quais Ferréz termina seu texto.
"(...) quando você é generoso, quando ajuda e não tem resposta, não tem sequer um sorriso, um aplauso, um abraço, como contrapartida, mesmo assim você ganhou, você foi certo, não é errado ser bom, nunca foi, o ingrato também pode ajudar outro.
Solidariedade não precisa ser paga, não precisa de recibo nem com valor, nem com gratidão."
As afirmações de Ferréz me fazem lembrar a postagem Não ficar na dependência de resultados (9 de janeiro de 2012), pois considero-as em sintonia com algumas passagens para ela selecionadas no livro Liderança para Tempos de Incerteza – A Descoberta de um Novo Caminho, de Margaret J. Wheatley, e transcritas a seguir.
"Em uma carta para um amigo, Thomas Merton, o famoso místico cristão, dá o seguinte conselho: 'Não fique na dependência de resultados... você pode ter que encarar o fato de que seu trabalho será aparentemente inútil e sem resultados, ou que os resultados serão contrários aos esperados. Acostumando-se a essa idéia, você começa a se concentrar não nos resultados, mas no valor, na retidão, na verdade do próprio trabalho...'"
'Escolhemos nossas ações porque parecem certas, mesmo que não consigam mudar as coisas.'"
Mesclando as afirmações acima, afirmo que mudar o amanhã requer não ficar na dependência de resultados e persistir na prática de ações que parecem certas, mesmo que não consigam mudar as coisas, pois a persistência em ajudar, mesmo que o ajudado não expresse gratidão, mantém viva a esperança de que algum dia ele repita o gesto de quem o ajudou. E embora a ausência de gratidão seja algo que nos desagrade bastante, se refletirmos um pouco, entenderemos que mais do que a gratidão é a repetição de gestos nobres que contribui para mudar o amanhã.
Não ficar na dependência de resultados não significa acreditar que eles jamais virão, e sim confiar que embora não ocorram imediatamente (como deseja a maioria dos ansiosos integrantes desta insana sociedade), se persistirmos com as ações que parecem certas, os resultados virão em seu devido tempo. Mudar o amanhã requer entender que o amanhã não significa o dia seguinte ao de hoje, e sim um período no qual se poderá viver melhor, dependendo das ações praticadas nos "hojes" que o antecederem.
Mudar o amanhã requer aceitar a seguinte proposição atribuída a Moshé Feldenkrais: "Pense nisso: O que fazemos conosco agora é o mais importante para o amanhã. Se não fizermos nada para mudar nossa atitude e o nosso modo de atuar, amanhã parecerá ontem, exceto pela data". Portanto, mudar o amanhã requer trocar o lema "os incomodados que se mudem" por "os incomodados é que mudam", pois sempre foram e sempre serão os verdadeiramente incomodados que mudaram e que mudarão o amanhã para algo melhor.
Mudar o amanhã depende de quantos integrantes desta sociedade estejam dispostos a participar do último grupo de pessoas citado na seguinte frase de Michael Jordan. "Algumas pessoas querem que aconteça, outras desejam que aconteça, outras fazem acontecer".
Será que as pessoas que fazem acontecer e os incomodados que provocam mudanças constituem um único grupo? No meu entender, sim. E no de vocês?
Mudar o amanhã requer que cada um de nós reflita sobre o que ocorre ao seu redor e, honestamente, verifique se é "in" ou "a": incomodado ou acomodado. E se for um acomodado, reflita sobre o texto de Ferréz. No meu entender, ele é um chamado para nos dispormos a contribuir para mudar o amanhã, e se iniciei minhas reflexões citando algo dito no final de seu texto, termino citando algo dito lá pelo meio.
"Ainda existe o que vê o fogo e corre para apagar, o que se importa com o caído na calçada sem lar, sem camisa, no frio, inclinado a morrer."
(...) No dia a dia, as pessoas têm na mente que a militância é uma coisa que não podem exercer, mas vejo pessoas carregando uma embalagem para jogar no lixo, passando por um asfalto completamente sujo, e mesmo assim tentando encontrar um lixo para jogar. No cotidiano se faz a ação revolucionária, vivemos sem artistas no clipe, sem milionários como vizinhos, mas ainda há caráter e respeito por perto, basta querer ver.
(...) O sonho não é muito, é só um dia em que ninguém se cale mais, em que o alimento que sobra é doado antes de apodrecer, em que o barraco não desmorona mais perto da mansão vazia de vida, em que as crianças não gerem medo, mas sim um olhar de carinho, um sorriso, talvez até voltemos a nos abraçar, algum dia.
Para mudar o amanhã precisamos enxergar algo que Ferréz vê. Ver que ainda existem pessoas dispostas a agir no sentido de mudar o amanhã; pessoas que ainda se importam com aqueles cuja vida é pior do que a delas, pois já compreenderam O Programa do Senhor. E ao reconhecer a existência de tais pessoas, juntarmo-nos a elas.
Sim, é no cotidiano que se faz a ação revolucionária e se caminha até o dia em que talvez até voltemos a nos abraçar. E quando esse dia chegar, onde quer que estejamos, cada um de nós será alcançado pelas vibrações amorosas irradiadas de um planeta cujos integrantes conseguiram, finalmente, passar a conviver em paz e harmonia. Como isso será possível? Pelo entendimento que a solidariedade não precisa ser paga, não precisa de recibo nem com valor, nem com gratidão.

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