segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Mudar o amanhã

Para suceder a Mensagem de início de ano - 2013, escolhi um instigante texto intitulado Mudar o amanhã. Ele foi publicado na edição de janeiro de 2013 da revista Fórum, em uma seção denominada litera-rua, e é assinado por Ferréz. Agora é com vocês. Leiam-no e verifiquem se a escolha foi acertada.
Mudar o amanhã
O indulto, a liberdade provisória só dura enquanto o cartão de crédito cantar.
Porque cultuamos até santos estrangeiros, mas em casa eles não fazem milagres.
Esquadrão da reforma é necessário hoje em dia; mostrar a luta de Rosa Parks, Gandhi, Donald Woods, Marcos Garvey, Hurley, Scott Heron, Zumbi, Malcolm, Biko, dos Panteras.
Nunca foi tão necessário recorrer à história deles para nos mantermos reais.
Obedeça a tudo que eles mandam, reze, mas não distribua o pão; torça, mas não levante para a ação.
Compre, beba, mije, dirija, ande, se vista, beije, vomite, engula, regurgite, chore, ria, se emocione.
Você precisa fazer o que eles querem, precisa ser sua imagem e semelhança.
Mas, desde o início dos tempos, a mudança acontece, nem que sejam frases, como nada pode parar a juventude ou o sopro do inconformismo que não se ilude.
Ainda existe o que vê o fogo e corre para apagar, o que se importa com o caído na calçada sem lar, sem camisa, no frio, inclinado a morrer.
Apesar do esforço da sua massiva propaganda elitista, no fundo sabemos que carros são feitos para transportar amigos, não para provocar dor e martírio, causar inveja, preconceito, diferença, mutilar pedestre, aumentar a sentença.
Quando inventaram o avião, inventaram o desastre aéreo, a pane, a arma que derruba prédio.
Rico tem pânico de maldição; hoje, pastor quer alma e amaldiçoa, e a classe média alta enche templos, embranquecem os pais de santo.
O pastor evangélico vira pólo de proteção, pois emana dele a salvação.
A missão não precisa ser religiosa, ela pode ser social.
No dia a dia, as pessoas têm na mente que a militância é uma coisa que não podem exercer, mas vejo pessoas carregando uma embalagem para jogar no lixo, passando por um asfalto completamente sujo, e mesmo assim tentando encontrar um lixo para jogar. No cotidiano se faz a ação revolucionária, vivemos sem artistas no clipe, sem milionários como vizinhos, mas ainda há caráter e respeito por perto, basta querer ver.
A mente zen tenta ser individual, mas no caos vira coletiva, e não tem paz que resista à matança que no gueto é uma realidade.
Saber que existem corporações com orçamentos maiores que países, e ver que o que tinha de usar a camisa de Zumbi usa Duda Lina, Holister e outras marcas de elite que meu povo adora.
Ainda sonho com o dia que todos serão iguais, não temerão mais, terão leite e mel nesta terra, nesta terra não terão de morrer, morrer para alcançar um céu fictício que a elite já curte aqui.
O sonho não é muito, é só um dia em que ninguém se cale mais, em que o alimento que sobra é doado antes de apodrecer, em que o barraco não desmorona mais perto da mansão vazia de vida, em que as crianças não gerem medo, mas sim um olhar de carinho, um sorriso, talvez até voltemos a nos abraçar, algum dia.
Agora é a hora de olhar para a sua mão impura e ver se ela está limpa.
Dois lados, várias pontes, nossos irmãos, e nossos filhos vão herdar uma favela onde um carro ocupa um lugar melhor na casa, onde o que você tem, irmão, é mais importante do que você é.
A cada pessoa que tem mais posses do que precisa, a cada um que se esconde atrás de muros, aos pastores que se escondem atrás da fé, aos padres que se escondem atrás de igrejas fechadas, empoeiradas, enquanto tantos se escondem, um menino senta na calçada, olha para os lados e não vê esperança, não vê futuro, não tem sequer uma pequena palavra, ânimo. Não vou, não quero e não vou mais jogar esse chamado jogo sujo, o qual não ajudo porque fui traído, quando dizem: ajude e se arrependerá. Não creio nisso, não vivo isso, porque, quando você é generoso, quando ajuda e não tem resposta, não tem sequer um sorriso, um aplauso, um abraço, como contrapartida, mesmo assim você ganhou, você foi certo, não é errado ser bom, nunca foi, o ingrato também pode ajudar outro.
Solidariedade não precisa ser paga, não precisa de recibo nem com valor, nem com gratidão.
Será que vale a pena refletir sobre Mudar o amanhã? Para quem mantém um blog cuja intenção é espalhar ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem ações para torná-la cada vez melhor, a resposta é sim.

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