Continuação de sábado
Isto é - Há uma dica para quem fica desconfortável
com a ansiedade?
Partnoy - Nesses casos é preciso praticar a redução
de velocidade. Talvez seja o momento de iniciarmos outra mudança cultural, de
dar um passo atrás e abraçar a lentidão. Eu conversei com muitos empresários e
políticos para escrever meu livro, e descobri que os profissionais mais talentosos
sentem-se confortáveis em esperar o tempo certo para tomar a melhor decisão.
Nem tudo precisa ser feito instantaneamente. Se nós resolvermos responder
imediatamente a cada e-mail que recebemos, nosso dia será todo tomado por essa
tarefa.
Isto é - E quais as vantagens de tomar decisões de
maneira mais lenta?
Partnoy - Você tem mais tempo para analisar, para
reunir informações e para esperar mais desdobramentos da situação. Se você
souber aguardar, o problema pode se transformar, ou mesmo desaparecer. Se você
se adiantar, não dá a oportunidade para isso acontecer. Além disso, nos
momentos que antecedem o prazo final para uma ação, você fica mais focado, mais
concentrado.
Isto é - O sr. pode fornecer exemplos práticos disso?
Partnoy – Minha filha faz teatro, e o grupo dela
gosta de se preparar e fazer alterações no texto no último instante antes de
entrar no palco. Sob essa pressão, a performance é melhor. Outra situação: um
repórter que vai entregar uma matéria daqui a dois meses tem muito tempo para
fazer entrevistas e reunir dados. Mas, se ele começasse a escrever o texto
amanhã, muita informação ficaria de fora.
Isto é – A procrastinação pode ser benéfica para
jornalistas?
Partnoy – Sim. Eu entrevistei Steve Kroft,
apresentador do programa "60 Minutes", e fiquei impressionado como
ele e os produtores esperam até o último minuto para elaborar as perguntas aos
entrevistados. Até para mim pareceu uma situação tensa e cheia de ansiedade,
mas ele parece muito confortável. Ele pensa sobre o assunto, conversa com a
equipe e apenas momentos antes da gravação escreve as perguntas.
Isto é - E esse é um método que poderia ser adotado
pelos seus leitores?
Partnoy – O que eu espero é que o livro ensine aos
leitores um sistema em duas etapas. A primeira é identificar o último momento
possível ao qual elas podem aguardar para iniciar uma tarefa qualquer. A
segunda é controlar a ansiedade até a chegada desse instante. Eu conversei com
um correspondente do "New York Times". Todos os dias ele tinha que
enviar uma matéria. Ele me disse que levava cerca de uma hora para escrever.
Então ele passava todo o tempo disponível até 60 minutos antes do prazo final
ao telefone, conversando com fontes. Ele acabou se tornando muito bom em
contornar a ansiedade. Isso é uma arte, e é por isso que o subtítulo do livro é
"a arte e a ciência do adiamento". Cada um tem de calcular o tempo
disponível para diferentes tarefas.
Isto é – Hoje, com toda essa necessidade de urgência,
as pessoas mais analíticas e que demoram mais para reagir não são vistas como
preguiçosas?
Partnoy – Depende da quantidade de poder que elas
detêm. Tem uma frase muito comum no mundo empresarial que é a seguinte: "Se
você pedir alguma coisa para o chefe e quiser uma resposta imediata, a resposta
será sempre 'não'". Ou seja, os líderes, como os diretores-executivos de
empresas, podem se dar ao luxo de levar mais tempo para pensar antes de tomar
uma decisão. Já os funcionários da base mais lentos são vistos sim como
ineficientes. O desafio é descobrir como ser mais devagar sem ser visto como "mole".
Conforme você sobe na carreira, adquire a habilidade de adiar. Algumas pessoas
têm dificuldade em fazer isso, estão sempre correndo. Para essas é difícil
ascender na empresa, porque não conseguem desenvolver estratégia e
planejamento.
Isto é – Então a lentidão pode ser benéfica para a
carreira?
Partnoy – A verdade é que a procrastinação é uma
condição humana universal. Nós sempre temos muitas coisas para fazer e sempre
estamos adiando alguma tarefa. Temos que aprender a lidar com essa realidade, e
não combatê-la. É por isso que é bom convencer as pessoas a trocar o termo
procrastinação por "gestão do adiamento". Eu participei de reuniões
no Google e propus a criação de uma ferramenta para incentivar a "cultura
da demora" e restringir as demandas por respostas imediatas. Seria uma
espécie de "créditos de e-mail". Por exemplo, usando esse aplicativo,
um chefe teria direito de exigir um retorno urgente para um número limitado de
mensagens por dia. A percepção geral é a de que os e-mails têm de ser
respondidos instantaneamente. Geralmente isso é um desastre. Quantas vezes você
já escreveu com raiva ou apressadamente?
Isto é – Mas, em algumas situações, as reações
imediatas são necessárias...
Partnoy – Sim, mas mesmo as respostas rápidas podem
ser um pouco atrasadas. Se os médicos em um pronto-socorro puderem tirar alguns
segundos ou minutos extras para fazer uma pergunta a mais ao paciente ou
examiná-lo melhor, isso é positivo. Os bombeiros se saem melhor se levarem
alguns segundos a mais para analisar a situação. Quanto mais especializados nos
tornamos em um assunto, maior é o nosso excesso de confiança, e daí é mais
fácil cometermos erros. Não é sempre que precisamos ser lentos. O ponto é
identificar qual é o seu "universo de tempo" e maximizá-lo coletando
informações e refletindo sobre elas.
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"Pregar que as
pessoas deem um passo para trás e 'abracem a lentidão', aproveitando melhor o
tempo para pensar antes de agir" (conforme defende o professor Frank
Partnoy) parece algo deveras fantasioso em um mundo que a tecnologia torna cada
vez mais frenético, não é mesmo? Falar em fantasioso leva-me a encerrar esta
postagem desejando que todos (de acordo com suas preferências) consigam tirar o
melhor proveito do período carnavalesco e retornem a este blog após o Carnaval para
ler mais uma postagem do tipo Reflexões
provocadas por "...". Até depois do Carnaval!
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