Que título é esse! Não,
não é de minha autoria, e sim o título da entrevista com o professor americano
Frank Partnoy, publicada na edição de 23.01.2013 da revista Isto é, em
uma reportagem assinada por Juliana Tiraboschi. A entrevista é rica em ideias
interessantes, portanto eu não poderia deixar de espalhá-la neste blog. E para
não desestimular leitores de pouco fôlego, mais uma vez recorro à técnica de
dividir o texto em duas postagens. Leiam, reflitam sobre o que é dito por
Partnoy, questionem a validade de suas ideias e até verifiquem se o título adéqua-se
ao que é dito na entrevista.
A tecnologia está nos transformando em animais
Professor americano defende que as pessoas se livrem do ritmo ditado pela internet e aproveitem o tempo para pensar antes de agir
Em 2005, o jornalista americano Malcolm
Gladwell lançou o livro "Blink, a Decisão num Piscar de Olhos". Na
obra, ele defende a ideia de que agir por impulso não é sinônimo de
inconsequência, mas uma forma de usar a intuição para tomar decisões acertadas.
O sucesso foi tão grande que 500 mil exemplares foram comercializados nos EUA
apenas no primeiro mês de vendas e Gladwell foi eleito uma das 100 pessoas mais
influentes do mundo pela revista "Time", naquele ano.
Agora, sete anos depois, finalmente aparece um
livro com consistência suficiente para ser um "anti-Blink". Frank
Partnoy, professor de direito e finanças da Universidade de San Diego (EUA), é
autor de "Como Fazer a Escolha Certa na Hora Certa" (Elsevier),
recém-lançado no Brasil e que já vendeu mais de 700 mil cópias apenas na
Amazon. Na obra, ele vai na contramão de Gladwell e prega que as pessoas deem
um passo para trás e "abracem a lentidão", aproveitando melhor o
tempo para pensar antes de agir. Em entrevista à Isto é, ele explica por que é à favor da procrastinação
responsável.
Isto é - O sr. diz em seu livro que esperar até o
último minuto para tomar uma decisão é a melhor saída na maioria dos casos.
Pessoalmente, o senhor é um procrastinador?
Partnoy - Sim, sempre fui, durante a minha vida
inteira. Desde pequeno, eu discutia com a minha mãe quando ela me mandava fazer
a cama. Nunca entendi isso. Se alguma visita fosse entrar no meu quarto, eu o
arrumava. Por que eu me daria ao trabalho de fazer isso antes? Como estudante,
sempre procrastinei para estudar ou escrever algum trabalho. E detestava quando
me diziam que aquilo era ruim, porque me parecia certo. Se eu levava uma hora
para estudar, eu esperava até o momento mais próximo da prova para me preparar.
As informações ficariam mais frescas na memória. Sempre esperei até o último
minuto para realizar as tarefas. Acho que era meu cérebro tentando me dizer
alguma coisa.
Isto é - A procrastinação já foi vista como positiva
ao longo da história?
Partnoy - Sim, no Egito e na Roma antigos, esse
comportamento era visto como sinal de sabedoria. Os líderes e anciões eram
pessoas que não reagiam imediatamente. Eles refletiam sobre os problemas. Essa
é a diferença entre humanos e animais. A coisa mais humana que podemos fazer é
pensar.
Para Partnoy, desde Roma e Egito antigos, os homens mais talentosos refletiam, e esse é o talento que nos separa dos animais
Isto é - E quando essa percepção começou a mudar?
Partnoy - Talvez como uma reação à libertação dos
anos 1960, isso começou a mudar principalmente a partir dos anos 1970. Nessa
época, especialistas em produtividade como David Allen e Peter Drucker
escreviam sobre como resolver os problemas imediatamente, aumentar a eficiência
e agilidade nos processos e nos faziam sentir mal em relação à procrastinação.
Sempre achei que isso não é receita para a felicidade ou o sucesso. As
faculdades de administração começaram a pesquisar como reduzir custos, agir com
mais precisão e "limpar as mesas". Esse tipo de pensamento se
espalhou e surgiram muitos livros antiprocrastinação, o comportamento de adiar
foi rotulado como maligno. E a tecnologia "bombou" essas mudanças
culturais.
Isto é - Como?
Partnoy - A tecnologia piorou o nosso senso de
pressa. Hoje as pessoas esperam uma resposta imediata para tudo com a internet,
redes sociais como o Twitter, etc. Essas ferramentas são fantásticas, mas
também perigosas. Geralmente as nossas primeiras reações são erradas ou
tendenciosas. Elas não nos dão tempo para refletir. Daí voltamos para a questão
da diferença entre humanos e animais. Nós somos capazes de pensar, de
contemplar o futuro. A tecnologia está nos desumanizando, nos transformando em
animais que apenas reagem instantaneamente. Acabamos perdendo muito com isso.
Por exemplo, houve esse caso terrível do massacre na escola em Newtown,
recentemente. Começou uma pressão incrível e imediata na mídia por informações.
E ela foi tanta que, inicialmente, uma pessoa errada foi apontada como o
atirador. Esse tipo de coisa está acontecendo com cada vez mais frequência.
Isto é - Mas deixar as tarefas para serem resolvidas depois não pode causar ansiedade?
Partnoy - Pode. Tem gente que sente dificuldade em
esperar, em lidar com a ansiedade. A diferença entre um profissional mais
talentoso e um menos é a capacidade de lidar com esse sentimento. É como um
tenista habilidoso que calcula o momento exato de atingir a bola, um advogado
que espera até o último minuto para entregar um documento, alguém que sabe
aguardar o timing perfeito para contar a parte mais importante de uma piada ou
fazer uma pausa estratégica em um discurso.
“Um tenista habilidoso (como Roger Federer) domina a ansiedade e calcula o momento exato de atingir a bola”
Continua na próxima terça-feira
Nenhum comentário:
Postar um comentário