Em 29 de julho de 2011, apresentei uma
postagem intitulada Hipocrisias corporativas – Desafio, baseada em um capítulo do livro Descomporte-se, de Marcelo Mello, mas há nesse livro outro texto que julguei interessante publicar neste
blog. Por conter afirmações que, no meu entender, podem ser associadas a coisas
ditas em As lentilhas e o caminho de Diógenes, minha intenção era apresentá-lo na postagem seguinte a esta, porém
uma resposta a um e-mail no qual enviei As
lentilhas e o caminho de Diógenes mudou meus planos e fez com que A necessidade de aprovação dos outros
fosse publicada entre as duas. Dito isto, segue o texto de Marcelo Mello que
usei para focalizar mais uma hipocrisia corporativa: liderança.
Liderança"Todo mundo se acha líder. Pergunte aos seus amigos e vai ver que a resposta será mais ou menos assim: "Eu, de uma certa forma, me vejo liderando algumas coisas na minha vida".Bom, respostinha óbvia. Se uma pessoa não liderar nada em sua própria vida, é melhor se matar. Mas tem um detalhe: tem gente por aí que não lidera nem a sua vida. Fala a verdade, você conhece gente assim, não? Muitos acham que comandam, mas eles mentem para si mesmos.As empresas, hoje em dia, não procuram líderes verdadeiros. Preferem "fabricar" um líder. No modelo atual de administração, um líder de verdade não tem espaço em nenhuma empresa. Eles pensam e as corporações não querem isso. Preferem alguém que se encaixe à diretriz da empresa e não com idéias próprias. Tanto é assim que um líder de uma empresa raramente é líder em outra.Você pode até falar que um diretor ou presidente exerce uma liderança onde você trabalha. Claro que sim, mas de que forma isso é feito? Será que essa liderança não significa que esse diretor ou presidente apenas se encaixou ao cargo?Existem, sim, líderes de verdade, mas esses não se tornaram, nasceram líderes. Esse é o ponto. Temos milhares de exemplos, mas infelizmente nessa geração que está aí existem muito poucos. A preocupação em inventar alguém que comande está presente em todas as empresas. E como nós, seres humanos, somos vaidosos, caímos nessa armadilha e muitas vezes temos certeza de poder nos tornar líderes de verdade.Ganhar um cartão de visita com um título do tipo Vice-Presidente Executivo de Marketing e Vendas para a América Latina não quer dizer nada. Esse tipo de liderança é a mais comum. Líderes de cartão de visitas. As pessoas lêem o título e se impressionam. Na verdade, um título assim impressiona mais quem o tem do que os outros. Vaidade pura.E como, hoje em dia, a palavra de ordem dentro do mundo corporativo é equipe, torna-se necessário ter um comandante. Se as empresas deixassem os líderes se destacarem por si sós, teriam melhores resultados. Mas não fazem isso, preferem engessar a cabeça dos "seres pensantes". Dá menos trabalho. E, fazendo isso, elevam aos cargos de comando os que antigamente eram chamados de puxa-sacos. Hoje eles têm outra nomenclatura. São considerados os que pensam de acordo com a política da companhia. Ou seja, os chatos e insuportáveis prudentes politicamente corretos que nunca questionam nada em sua vida profissional. Odeio os prudentes!"
Eis uma palavra cujo uso é cada vez mais banalizado no teatro corporativo: líder. É líder pra lá, líder pra cá,
em uma verdadeira "enxurrada" de líderes e uma autêntica carência de
liderança. Será que é possível existirem líderes em um ambiente onde vigore o
lema manda quem pode e obedece quem tem
juízo? Creio que não, pois ao contrário do que a maioria pensa
(sic), mandar e liderar são coisas bastante diferentes. Aliás, no meu entender, elas são mutuamente excludentes. Vejam o que diz Carlos Salles (presidente da
subsidiária da Xerox do Brasil, de 1989 a 1999) no prefácio do livro Mandar é
Fácil...Difícil é Liderar, de Jorge Lessa: "Parece inacreditável, mas em plena soleira do terceiro milênio ainda
existe muita confusão entre o real significado dos verbos 'mandar' e 'liderar'". Diante do que foi dito, vocês concordam que liderança seja
uma das hipocrisias do teatro corporativo?
Mas o uso equivocado do significado de líder não se restringe a
carreira gerencial, pois na área técnica existem funções com títulos assim: líder de projeto, líder de produto, líder de
upgrade... Ficaram chocados com o último? Eu fiquei, quando recebi um e-mail de trabalho assinado por alguém que usava esse título. E como nós, seres humanos, somos vaidosos,
caímos nessa armadilha e muitas vezes temos certeza de poder nos tornar líderes
de verdade, diz Marcelo Mello em seu texto. Caímos na armadilha de inventar
líderes e acabamos por cair também no ridículo, conforme demonstra o fato que
acabei de citar. Líder de upgrade foi
o título dado ao coordenador da adaptação das interfaces que seriam afetadas
pela implantação de uma versão do sistema integrado de gestão. O título era tão
ridículo que alguém deve ter sugerido trocá-lo por ponto focal.
Que coisa, hein! Para fugir de um título como coordenador
(que definiria perfeitamente a função) inventou-se um que com a simples troca de
uma letra espalharia pelo ambiente de trabalho um odor insuportável.
Mas como nós, seres humanos, somos
vaidosos, inventamos títulos pomposos e infelizes para funções para as
quais já existem títulos que definem perfeitamente o que elas significam.
Passei a maior parte da minha vida profissional sendo chamado de líder de projeto, em vez de coordenador
de projeto que, no meu entender, é o título mais adequado. Mas como nós, seres humanos, somos vaidosos, a maioria fica envaidecida ao ser chamada de líder. Pertenço a minoria dos que acreditam que uma certa dose de vaidade seja imprescindível
à vida em sociedade, mas não a vaidade exagerada que a maioria se acostumou a cultuar.
Marcelo Mello termina
seu texto dizendo que hoje em dia a palavra de
ordem dentro do mundo corporativo é equipe. E eu termino esta postagem dizendo
que o alardeado desenvolvimento do espírito de equipe é mais uma hipocrisia que viceja no
teatro corporativo. E sendo assim, em um momento que eu julgue propício, merecerá
uma postagem neste blog. E o tema liderança ainda voltará a ser focalizado neste blog, mas não de imediato. Quem viver - e continuar visitando este blog - verá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário