"Uma criança de 12 anos mata seu pai com um tiro de revólver; interrogada pelo motivo do crime, responde cinicamente: 'Matei porque quis'. Não tem o menor remorso do seu ato, diz, porque toda pessoa tem o direito de fazer aquilo que acha interessante."
O episódio acima é contado no livro "Daemon-Stadt"
(cidade-demônio) do Dr. Kurt Gauger e citado no livro Novos Rumos para a Educação de Huberto Rohden, publicado em 1960. O
episódio abaixo foi publicado no Yahoo
em 9 de fevereiro de 2012.
"A adolescente norte-americana Alyssa Bustamante, de 18 anos, confessou ter estrangulado, cortado a garganta e esfaqueado a vizinha de 9 anos porque 'queria saber como se sentiria matando alguém' (...) À época do crime, Bustamante tinha 15 anos e descreveu a experiência de matar Elizabeth Olten como 'muito agradável'. O crime aconteceu na cidade de Jefferson City, no estado do Missouri, em dezembro de 2009."
Entre os dois episódios citados, meio século
se passou, a evolução tecnológica disparou, a evolução humana se arrastou e a
cidade-demônio se ampliou. Cada vez mais a violência pode ser vista como uma
pandemia. Violência não só nas ruas, mas também nos lares que, aliás, nem
deveriam ter esse nome, pois foram transformados apenas em pontos de encontro
(ou seria de desencontro?) de pessoas que em comum só possuem o endereço. Lugares
onde cada um dos frequentadores vive sua própria vida sem interação com os
demais, pois neles tudo é individualizado. Diante de tal tipo de convivência (sic), não me causa estranheza a frequência
com que o noticiário divulga episódios semelhantes aos apresentados acima. E aqui eu repito uma frase da postagem Então, um dos juízes da cidade acercou-se e disse: "Fala-nos do crime e do castigo.": "Embora tais palavras pesem rudemente sobre vossos corações, se
conseguirdes ouvir a vossa consciência acabareis por concordar que sejam
verdadeiras."
"Não nos indicastes caminho algum que tivesse sentido, porque vós mesmos ignorais esse caminho e vos descuidastes de procurá-lo - porque sois fracos. Vosso vacilante 'não' assumia atitude incerta diante das coisas proibidas; nós demos uns gritos - e vós retirastes o vosso 'não' e dissestes 'sim', a fim de poupardes os vossos nervos fracos. E a isto chamastes 'amor'.""Porque sois fracos, por isto comprastes de nós o vosso sossego. - Quando nós éramos pequenos, nos dáveis dinheiro para irmos ao cinema ou comprarmos sorvete; com isto prestastes um serviço não a nós, mas sim à vossa comodidade - porque sois fracos. Fracos no amor, fracos na paciência, fracos na esperança, fracos na fé."
Os dois parágrafos acima (copiados da carta do jovem delinquente) mostram, para quem quiser ver, um grave problema para a evolução dos seres
humanos : o descuido em procurar caminho
algum que tenha sentido. O que eles querem é sossego; é comodidade. Porque
são fracos no amor, fracos na paciência, fracos na esperança, fracos na fé.
"A presente geração, produto de gerações anteriores e herdeira de ideologias funestas, perdeu a noção da responsabilidade ética, porque perdeu a noção de ser parte integrante do grande TODO, seja o TODO imediato da humanidade, seja o TODO longínquo do Universo como tal. É essa a conclusão a que chega o Dr. Kurt Gauger em seu livro ""Daemon-Stadt" (cidade-demônio)."
A conclusão a que chega o Dr. Kurt Gauger, (à
luz de abundantes fatos recentes há 52 anos, mas que perduram até hoje) talvez
seja o ponto nevrálgico do mundo em que vivemos: É a perda da noção de ser parte integrante de um TODO que faz com que a
maioria dos indivíduos enverede pelo caminho do individualismo e passe a ser um
colaborador na desintegração da sociedade em que sobrevivemos.
"Em última análise, quem perde a visão de um TODO maior de quem ele faz parte e que tem de respeitar, perde necessariamente a noção da ética, da obrigação, do dever moral, porque a noção de ética se baseia na consciência de que eu sou parte de um TODO, e que esta parte tem certas obrigações naturais e indeclináveis para com o TODO, que tem direitos reais sobre mim." (os grifos são meus)
Quem perde a visão de
um TODO maior de quem ele faz parte e que tem de
respeitar, perde necessariamente a noção da ética. Ou seja, é um
verdadeiro exemplo do efeito dominó. Efeito que, segundo o parágrafo abaixo
(copiado do livro Novos Rumos para a
Educação), produz mais algumas vítimas.
"Como se vê, o problema da criminalidade afeta o problema da ética, e este radica no problema da metafísica, a questão da íntima natureza humana. "Que é o homem? Donde vem? Para onde vai? Por que está aqui na Terra?" - não é possível dar base sólida a ética sem responder, satisfatoriamente, a essas perguntas fundamentais da vida."
Sim, enquanto não respondermos, satisfatoriamente, as perguntas fundamentais da vida
(o que é o homem; donde vem; para onde vai; por que está aqui na Terra),
jamais conseguiremos viver satisfatoriamente.
E por viver satisfatoriamente eu entendo viver em uma sociedade onde a violência
esteja erradicada; viver em cidades que não mereçam ser denominadas cidades-demônio. Será
que algum dia a tal da espécie inteligente do Universo conseguirá viver assim?
Voltando a falar sobre o efeito dominó digo o
seguinte: tal efeito afeta as coisas derrubando-as, mas existe outro efeito (inverso ao dominó e cujo nome eu não sei qual seja) que pode afetar as coisas construindo-as.
Ou seja, o entendimento de uma coisa constrói o entendimento de outra e assim
por diante. É desse efeito que a humanidade precisa e é para a sua ocorrência
que este blog procura contribuir. A intenção é espalhar ideias que levem quem
as lê a interessar-se cada vez mais por ideias que estimulem as pessoas a
procurar respostas para as perguntas fundamentais da vida: o que é o homem; donde vem; para onde vai; por que está aqui na Terra.
E encontradas tais respostas, creio que o efeito inverso ao dominó (citado no
início deste parágrafo) leve as pessoas a se ver como parte integrante do
grande TODO.
E quando uma certa quantidade de indivíduos (leiam, ou releiam, O Fenômeno do Centésimo Macaco) passar a agir como parte integrante do grande TODO, como diz John Lennon, em sua inspirada canção Imagine, "o mundo viverá como um só". Para finalizar, resta sugerir (a quem não leu) a leitura de A fábula do lobo-traficante na sociedade dos cordeiros. A existência de cidades-demônio deve-se não só a ação de delinquentes e de lobos-traficantes, mas também à omissão dos "homens honestos" e dos cordeiros. "Porque vós sois fracos no
bem, por isto nos destes o nome de fortes no mal", diz o jovem delinquente em uma afirmação que provoca reflexões. E outra coisa que provoca reflexões é o que diz o lobo-traficante no trecho final da fábula citada acima. Que postagem longa, hein! Quando se escreve sobre algo que se arrasta por longo tempo, nem sempre é possível fazê-lo em um texto curto.
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