A chegada daquele
curto período do ano em que as pessoas ficam mais propensas ao espírito de
fraternidade e de solidariedade, torna esta época propícia para espalhar um belíssimo
texto de Albert Schweitzer. É de outro Albert, o Einstein, a
seguinte afirmação: "As gerações futuras terão dificuldade
em acreditar que um homem como Gandhi realmente existiu e caminhou sobre a
Terra." Substituam Gandhi por Albert Schweitzer e a afirmação continuará
perfeita. E para que vocês verifiquem se tal substituição é válida, o texto
prometido é antecedido por alguns episódios da vida de seu autor. Com a
finalidade de não desestimular os leitores cujo fôlego não resiste a leituras
mais longas, mais uma vez faço uso do método Jack – vamos por partes. Lembro
que, em seu trecho final, a postagem Uma espécie de exame de consciência para os “homens honestos” do mundo contém
uma alusão a Albert Schweitzer (Os que são fortes no bem vão para a mata-virgem e curam os negros da
África).
Alguns episódios da vida de Albert Schweitzer
Filho de um pároco evangélico, Albert Schweitzer nasceu em 14 de
janeiro de 1875, em Kaysersberg, na Alsácia, então
parte do Império Alemão e atualmente uma região administrativa francesa.
Estudou teologia e filosofia na Universidade de Estrasburgo,
obtendo o grau de Doutor em Filosofia, e onde, em 1901, foi nomeado docente. Fez
cursos de órgão com Charles Marie Widor, o célebre organista da igreja de Notre
Dame de Paris. Tornou-se um dos melhores intérpretes
da Bach e uma autoridade na
construção de órgãos.
Em 1905, aos trinta anos, gozava de
uma posição invejável: trabalhava numa das mais notáveis universidades
européias; tinha uma grande reputação como músico e prestígio como pastor de
sua Igreja. Porém, isto não era suficiente para uma alma sempre pronta ao
serviço. Dirigiu sua atenção para os africanos das colônias francesas que, numa
total orfandade de cuidados e assistência médica, debatiam-se na dura vida da
selva.
Então, ainda em 1905, iniciou o curso de medicina, e seis anos mais
tarde, já formado, casou-se e decidiu partir para Lambaréné, no Gabão, onde uma
missão necessitava de médicos. Ao deparar-se com a falta de recursos iniciais,
improvisou um consultório num antigo galinheiro e atendia seus pacientes
enfrentando obstáculos como o clima hostil, a falta de higiene, o idioma que
não entendia, a carência de remédios e instrumental insuficiente. Tratava de
mais de 40 doentes por dia e paralelamente ao serviço médico, ensinava o Evangelho com uma
linguagem apropriada, dando exemplos tirados da natureza sobre a necessidade de
agir em beneficio do próximo.
Com o início da 1ª Grande Guerra, os
Schweitzer foram levados para a França, como prisioneiros de guerra. Passaram
praticamente todo o período da guerra confinados num campo de concentração. Nesse
período, Albert escreve sobre a decadência das civilizações.
Com o final da guerra, retoma seus
trabalhos e, ante a visão de um mundo desmoronado, declara: "Começaremos novamente. Devemos dirigir nosso olhar para a
humanidade". Realiza então uma série de conferências, com o único intuito de
colher fundos para reconstruir sua obra na África. Torna-se muito conhecido em
todos os círculos intelectuais do continente, porém, a fama não o afasta dos
seus projetos e sonhos.
Após sete anos de permanência na Europa,
parte novamente para Lambaréné. Dessa vez acompanhado de médicos e enfermeiras
dispostos a ajudá-lo. O hospital é levantado numa área mais propícia, e com o
auxílio de uma equipe de profissionais, Schweitzer pode dedicar algumas horas
de seu dia a escrever livros, cuja renda contribuía para manter os pavilhões
hospitalares.
Extasiou o mundo
com sua vida e sua obra, e em 1952, recebe o Prêmio Nobel da Paz, como humilde homenagem a um "Grande Homem". Um místico em ação, eis o retrato perfeito de Schweitzer, exemplo
para os homens de nossos dias que se sintam rebelados contra a injusta ordem
social imperante, aniquiladora dos valores espirituais.
Escreveu ele, em um de seus livros, com
palavras de fogo, para todas as gerações: “A Reverência pela Vida
não me permite considerar minha felicidade como propriedade pessoal. Em
momentos em que gostaria de alegrar-me sem preocupações, ela desperta em mim a
lembrança de misérias vistas ou sabidas. Assim como a onda não existe por si
mesma, mas é sempre parte da movediça superfície do mar, assim também eu não
posso viver minha vida por si mesma, mas sempre como parte da experiência que
se desenrola ao meu redor”.
"Abri vossos
olhos e procurai alguém ou algum trabalho devotado ao bem estar humano, que
necessite um pouco do vosso tempo, ou da vossa amizade, um pouco de compaixão,
ou de companhia, ou serviço; alguma boa obra que careça de voluntários que lhe
dediquem uma noite livre, ou que lhe prestem outros serviços. Buscai, pois,
audaciosamente, alguma situação em que vossa humanidade possa ser utilizada."
Albert Schweitzer deixou este mundo físico em
1965, com 90 anos, em Lambaréné, no Gabão, país independente da África
Equatorial.
Feita esta breve (!) introdução, convido-os a
retornar a este blog na próxima quinta-feira para ler a primeira parte do belíssimo
texto Nossa Segunda Ocupação: fazer pelos
outros. Até lá fica a sugestão para refletir sobre a obra de tão elevado
espírito e responder a seguinte pergunta: faz sentido estender a Albert
Schweitzer a afirmação feita por Einstein sobre Mahatma Gandhi, citada no
início desta postagem? No meu entender, sim. Até porque Mahatma significa “A Grande Alma“, e é exatamente isto que Albert Schweitzer é.
Então, até quinta-feira
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