Então, gostaram da mensagem de Natal espalhada
por este blog? Não, vocês não viram aqui alguma mensagem de Natal? Desculpem-me,
a expressão correta não é não viram; é não perceberam. Embora nenhuma das três
postagens anteriores seja intitulada Mensagem
de Natal, em conjunto elas compõem a mensagem de Natal deste blog, e eu
explico. Originalmente, o que significa o Natal? A comemoração do nascimento de
um ser que veio a este mundo para pregar - e vivenciar - a ideia de amar ao
próximo como a si mesmo e - com o seu exemplo - estimular as pessoas a fazerem
o mesmo, pois só assim será possível a construção de um mundo melhor. Mas, infelizmente,
até hoje, são poucas as pessoas que seguem o seu exemplo. O que muitos fazem é
frequentar igrejas, mas como diz o educador norte-americano Laurence J. Peter,
"Entrar numa igreja não o torna cristão, assim como entrar numa garagem
não o transforma num carro".
A esta altura, alguns
de vocês podem estar pensando: ele prometeu explicar por que as três postagens
anteriores devem ser percebidas como uma mensagem de Natal, mas parece que se
perdeu. Será que eu me perdi e não percebi? Não, eu não me perdi, e após o preâmbulo
acima segue a explicação prometida. Será que é difícil perceber que fazer pelos outros (atitude sugerida por
Albert Schweitzer) tem tudo a ver com amar
ao próximo como a si mesmo (atitude sugerida pelo aniversariante do Natal).
Parece que sim, pois um dos defeitos daquela que se autodenomina a espécie
inteligente do Universo é exatamente a deficiente capacidade de percepção. E é essa
deficiência que impede que o texto Nossa
Segunda Ocupação: fazer pelos outros seja percebido como uma autêntica
mensagem de Natal. Portanto, aos que dispuserem de algum tempo (algo cada vez
mais difícil) sugiro que releiam o texto de Albert Schweitzer e verifiquem se
faz sentido considerá-lo uma mensagem de Natal.
A ideia de postar o
belíssimo texto de Schweitzer como uma mensagem de Natal e sucedê-la com esta Mensagem Pós-natal tem a finalidade de
chamar atenção para o que considero o fato mais importante da vida de
Schweitzer: a manutenção durante todos os dias do ano daquele espírito de
solidariedade e de fraternidade que, na maioria, surge apenas no período
natalino e é tão efêmero quanto o espetáculo pirotécnico que tanto seduz as
pessoas no réveillon. Foi com tal espírito que Schweitzer viveu todos os dias
de sua vida a partir dos 30 anos. E foi vivendo assim que ele deu uma
contribuição extraordinária para a construção de um mundo melhor.
Parece-me óbvio que
nós não chegaremos a ser um novo Schweitzer, mas parece-me também óbvio que, em
um grau menor, nós também podemos contribuir para a construção de uma sociedade
melhor. Como? Esforçando-nos para manter após o Natal, e durante todo o ano
novo, o espírito de solidariedade e de fraternidade que se manifesta em nós
apenas no período natalino. E ao falar em ano novo, lembro-me daquele trecho do
texto de Carlos Drummond de Andrade intitulado Receita de Ano Novo que tem sido repetido, exaustivamente, na
televisão durante este mês e que apresento a seguir.
"Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre."
Drummond sabe que não
é fácil e, no meu entender, a dificuldade maior está expressa na palavra
consciente. A cada dia que passa a maioria (sempre ela) consegue superar o seu
grau de inconsciência da relação entre o que faz e o resultado de suas ações. E
inconsciente anseia por um feliz ano novo. É ou não é um problema de deficiência
de percepção?
E para terminar esta Mensagem Pós-natal que encerra as
postagens deste ano, desejo a vocês que encontrem algum tempo para refletir sobre
as palavras de Carlos Drummond de Andrade, e sobre o texto de Albert Schweitzer
e suas ações em prol dos menos favorecidos, pois, no meu entender, tais reflexões
podem contribuir para que consigamos despertar o Ano Novo que cochila em cada
um de nós e passemos a incorporar ao nosso modo de viver o espírito de
solidariedade e de fraternidade imprescindíveis para a construção de um ano
novo melhor e, consequentemente, de uma sociedade melhor. Como diz uma antiga
e belíssima música de Ivan Lins, construir um mundo melhor Depende de nós.
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