quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Mensagem Pós-natal

Então, gostaram da mensagem de Natal espalhada por este blog? Não, vocês não viram aqui alguma mensagem de Natal? Desculpem-me, a expressão correta não é não viram; é não perceberam. Embora nenhuma das três postagens anteriores seja intitulada Mensagem de Natal, em conjunto elas compõem a mensagem de Natal deste blog, e eu explico. Originalmente, o que significa o Natal? A comemoração do nascimento de um ser que veio a este mundo para pregar - e vivenciar - a ideia de amar ao próximo como a si mesmo e - com o seu exemplo - estimular as pessoas a fazerem o mesmo, pois só assim será possível a construção de um mundo melhor. Mas, infelizmente, até hoje, são poucas as pessoas que seguem o seu exemplo. O que muitos fazem é frequentar igrejas, mas como diz o educador norte-americano Laurence J. Peter, "Entrar numa igreja não o torna cristão, assim como entrar numa garagem não o transforma num carro".
A esta altura, alguns de vocês podem estar pensando: ele prometeu explicar por que as três postagens anteriores devem ser percebidas como uma mensagem de Natal, mas parece que se perdeu. Será que eu me perdi e não percebi? Não, eu não me perdi, e após o preâmbulo acima segue a explicação prometida. Será que é difícil perceber que fazer pelos outros (atitude sugerida por Albert Schweitzer) tem tudo a ver com amar ao próximo como a si mesmo (atitude sugerida pelo aniversariante do Natal). Parece que sim, pois um dos defeitos daquela que se autodenomina a espécie inteligente do Universo é exatamente a deficiente capacidade de percepção. E é essa deficiência que impede que o texto Nossa Segunda Ocupação: fazer pelos outros seja percebido como uma autêntica mensagem de Natal. Portanto, aos que dispuserem de algum tempo (algo cada vez mais difícil) sugiro que releiam o texto de Albert Schweitzer e verifiquem se faz sentido considerá-lo uma mensagem de Natal.
A ideia de postar o belíssimo texto de Schweitzer como uma mensagem de Natal e sucedê-la com esta Mensagem Pós-natal tem a finalidade de chamar atenção para o que considero o fato mais importante da vida de Schweitzer: a manutenção durante todos os dias do ano daquele espírito de solidariedade e de fraternidade que, na maioria, surge apenas no período natalino e é tão efêmero quanto o espetáculo pirotécnico que tanto seduz as pessoas no réveillon. Foi com tal espírito que Schweitzer viveu todos os dias de sua vida a partir dos 30 anos. E foi vivendo assim que ele deu uma contribuição extraordinária para a construção de um mundo melhor.
Parece-me óbvio que nós não chegaremos a ser um novo Schweitzer, mas parece-me também óbvio que, em um grau menor, nós também podemos contribuir para a construção de uma sociedade melhor. Como? Esforçando-nos para manter após o Natal, e durante todo o ano novo, o espírito de solidariedade e de fraternidade que se manifesta em nós apenas no período natalino. E ao falar em ano novo, lembro-me daquele trecho do texto de Carlos Drummond de Andrade intitulado Receita de Ano Novo que tem sido repetido, exaustivamente, na televisão durante este mês e que apresento a seguir.
"Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre."
Drummond sabe que não é fácil e, no meu entender, a dificuldade maior está expressa na palavra consciente. A cada dia que passa a maioria (sempre ela) consegue superar o seu grau de inconsciência da relação entre o que faz e o resultado de suas ações. E inconsciente anseia por um feliz ano novo. É ou não é um problema de deficiência de percepção?
E para terminar esta Mensagem Pós-natal que encerra as postagens deste ano, desejo a vocês que encontrem algum tempo para refletir sobre as palavras de Carlos Drummond de Andrade, e sobre o texto de Albert Schweitzer e suas ações em prol dos menos favorecidos, pois, no meu entender, tais reflexões podem contribuir para que consigamos despertar o Ano Novo que cochila em cada um de nós e passemos a incorporar ao nosso modo de viver o espírito de solidariedade e de fraternidade imprescindíveis para a construção de um ano novo melhor e, consequentemente, de uma sociedade melhor. Como diz uma antiga e belíssima música de Ivan Lins, construir um mundo melhor Depende de nós.

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