segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Reflexões provocadas por "A conquista da quietude"

Reflexões provocadas por... É possível fazer reflexões sem ter conquistado a quietude? Creio que não. É possível melhorar alguma coisa sem refletir sobre as ações e as condições que propiciem a melhora? Creio que não. É conveniente compartilhar reflexões provocadas por "A conquista da quietude"? Creio que sim.
"'Não é de hoje que profissionais de áreas criativas tentam conciliar a sedutora tirania da era digital com pelo menos um nanossegundo de tempo, espaço e silêncio para pensar'. (...) 'Os alunos não aprendem mais a lidar com momentos de dúvida, eles se habituaram a produzir algo o tempo todo. Somos uma nação grudada em smartphones e telas de computador, checando e-mails e alimentando tweets.'"
Sim, não é de hoje que profissionais, tentando conciliar o inconciliável, não conseguem pelo menos um nanossegundo de tempo, espaço e silêncio para pensar. E, consequentemente, desperdiçam uma imensa quantidade de terassegundos com a estúpida prática do retrabalho, pois o que é feito sem pensar, dificilmente deixará de precisar ser refeito. (...) Os alunos não aprendem mais a lidar com momentos de dúvida, eles se habituaram a produzir algo o tempo todo, o que os impede de ter tempo para pensar e os livra de uma dúvida, pois não há a menor dúvida de que, pelo mesmo motivo dos profissionais, eles também precisam refazer muitas coisas.
"Em apenas uma geração, o estado de exaltação diante do inebriante ganho de tempo e expansão do conhecimento proporcionado pela era digital começa a ser mitigado por quem se sente sufocado ou distraído pelas demandas ininterruptas da conectividade."
Até porque, ao contrário do que prometera, a era digital não trouxe qualquer ganho de tempo. O ganho trazido por ela foi de distração; ganho que na verdade é uma perda. Pico Iyer, escritor e ensaísta britânico, recorre a Blaise Pascal, pensador francês que no século 17 já dizia o seguinte: "Distração é a única coisa que nos consola de nossas misérias, embora seja ela a maior de nossas misérias."
Minha interpretação das palavras de Pascal leva-me a dizer o seguinte: Por viverem vidas vazias e realizarem tarefas profissionais desprovidas de sentido (na maioria das vezes apenas em troca do salário) a maioria vive à cata de distrações. E, justamente, por viver assim é que ela não consegue colocar sentido nem em sua vida, nem em suas tarefas profissionais. Ao ansiar por distrações, ela foge da luta para modificar as condições insatisfatórias em que vive, mas que são, exatamente, a origem de sua avidez por distrações. Gosto muito da seguinte afirmação de James Baldwin, escritor e ativista americano: "Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado". Foi enfrentando que 1.154 funcionários da Volkswagen de Wolfsburg, Alemanha, maior montadora de automóveis da Europa, conseguiram algo inédito.
"Pressionada pelo über sindicato IG Metall, a empresa aceitou permitir que 1.154 de seus funcionários munidos de Blackberry corporativos os desliguem 30 minutos após o final do expediente e só voltem a atender a chamadas 30 minutos antes da retomada do trabalho, no dia seguinte. Assim, pela primeira vez desde a introdução da conectibilidade móvel na empresa, funcionários que se sentiam poderosos a bordo de seus smartphones (até se darem conta de que responder a e-mails de chefes à meia-noite era um atraso de vida) puderam cair na folia no fim de ano sem ficar de olho no aparelhinho."
(...) funcionários que se sentiam poderosos a bordo de seus smartphones (até se darem conta de que responder a e-mails de chefes à meia-noite era um atraso de vida). A tal da espécie inteligente do Universo é, realmente, muito estúpida! Seus integrantes conseguem se sentir poderosos pelo simples fato de usar algo que os mantêm presos ao trabalho em tempo integral. Ao receber algo que, no meu entender, pode ser interpretado como uma espécie de guizo tecnológico, pois possibilita que sejam facilmente localizados por quem neles mandam, saem por aí, estranhamente felizes, "curtindo" os barulhinhos produzidos por tal guizo.
"Em um estudo recente, "A república do ruído", Diana Senechal, membro do Conselho de Ensino Público de Nova York, fala da perda de quietude por parte dos estudantes - a perda da capacidade de pensar e refletir de forma independente sobre um tema, em meio a tantos aparelhinhos que piscam, vibram, chamam, cujas minitelas se alternam ininterruptamente e geram um vazio semelhante à saciedade. (...) Senechal não advoga jogar IPads e IPhones no lixo nem prega o isolamento sem rumo; apenas reivindica uma vida tecnológica que contemple a formação de ideias e a prática da quietude."
É isso. Não, não é uma pregação por um isolamento sem rumo, e sim a reivindicação por uma vida tecnológica que contemple a formação de ideias e a prática da quietude.

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