Continuação de terça-feira
Na área da
educação, dúvidas também se amontoam. Poucos meses atrás, Diana
Senechal, membro do Conselho de Ensino Público de Nova York, soou o
alarme ao analisar o desempenho dos alunos de primeiro ano das
faculdades públicas da cidade: 75% precisavam de aulas de reforço. Em um
estudo recente, "A república do ruído", Senechal fala da perda de
quietude por parte dos estudantes - a perda da capacidade de pensar e
refletir de forma independente sobre um tema, em meio a tantos
aparelhinhos que piscam, vibram, chamam, cujas minitelas se alternam
ininterruptamente e geram um vazio semelhante à saciedade.
"Os alunos não aprendem mais a lidar com momentos de dúvida, eles se habituaram a produzir algo o tempo todo. Somos uma nação grudada em smartphones e telas de computador, checando e-mails e alimentando tweets."
Senechal não advoga jogar IPads e IPhones no lixo nem prega o isolamento sem rumo; apenas reivindica uma vida tecnológica que contemple a formação de ideias e a prática da quietude.
O americano Nicholas Carr, talvez o mais arguto observador da era digital, já havia tumultuado o coreto com seu provocativo ensaio "Is Google Makink Us Stupid?", publicado em meados de 2008. Sua obra mais recente, "A geração superficial - o que a internet está fazendo com nossos cérebros" (Editora Agir), que lhe valeu ser finalista do prêmio Pulitzer de 2011, aprofunda ainda mais as mudanças relacionadas à era digital.
Até aí pode-se dizer que são análises teóricas, experimentações e preocupações de intelectuais com nossa existência digital ainda em construção.
Coube à Volkswagen de Wolfsburg, Alemanha, maior montadora de automóveis da Europa, colocar algo concreto na mesa de negociações trabalhistas que começam a se formar em torno dessa equação. Pressionada pelo über sindicato IG Metall, a empresa aceitou permitir que 1.154 de seus funcionários munidos de Blackberry corporativos os desliguem 30 minutos após o final do expediente e só voltem a atender a chamadas 30 minutos antes da retomada do trabalho, no dia seguinte.
Assim, pela primeira vez desde a introdução da conectibilidade móvel na empresa, funcionários que se sentiam poderosos a bordo de seus smartphones (até se darem conta de que responder a e-mails de chefes à meia-noite era um atraso de vida) puderam cair na folia no fim de ano sem ficar de olho no aparelhinho. A alforria não se aplica aos executivos sênior nem ao grosso dos quase 190 mil funcionários da VW na Alemanha.
Outras corporações também buscam caminhos semelhantes, prevenindo-se contra o que por enquanto é apenas uma sigla - a ITSO, ou "incapacidade de desligar", em inglês. Para as quatro letras adquirirem status de mais uma síndrome do mundo moderno, sujeita a tratamento médico e processos trabalhistas, é um pulo.
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