segunda-feira, 7 de maio de 2012

Reflexões provocadas por "O que é vencer na vida?"

O texto de Fabio Hernandez dá o que pensar! Segundo ele, “a vida sempre afasta os amigos da juventude". Sim, ao transformar jovens em profissionais a vida faz com que a maioria deles afaste-se do grupo de amigos e aproxime-se da rede de contatos (networking), pois jovens têm amizades enquanto profissionais têm contatos que lhes possibilite ascender à altas posições. E “pessoas em alta posição nunca têm tempo para nada” que não seja manter a posição alcançada ou tentar conquistar posições mais altas. Afinal, é isto “o que comumente define um profissional de sucesso”. Sim, pessoas em altas posições nunca têm tempo para nada porque alcançá-las costuma requerer a venda de todo o seu tempo.
“Você não foi apanhado pela gaiola em que me meti. Você é dono de você. Há muito tempo eu deixei de ser dono de mim. É o preço que ambiciosos como eu pagam”. (...) “Não tive a coragem de recusar o que as pessoas chamam de sucesso”.
É interessante essa história de preço a pagar. Com a finalidade de subir na escala hierárquica, o profissional costuma vender não só o seu tempo, mas também sua opinião e sua consciência. Entretanto, o bem-sucedido amigo de Fabio Hernandez diz que pagou um preço para deixar de ser dono de si mesmo. Estranho, não? Afinal, quem é que paga o que e com o quê?
Dúvidas a parte, o certo é que profissionais em altas posições abdicam de seu tempo e de sua opinião e passam a defender as opiniões de quem esteja em posições mais altas. Deixam de ser donos de si próprios e poucos têm a coragem de Paulo para admitir isso. Para quem empenhou toda a sua vida na subida na escala (ou seria escada?) hierárquica torna-se muito difícil admitir que a escada por onde subiu estava encostada na parede errada.
“Ver meu amigo bem-sucedido na fila de A Mulher do Lado me levou imediatamente a uma constatação. Sim, ele vestia um blazer que me pareceu Armani, e imagino que fosse Rolex o relógio que tinha no pulso esquerdo. Mas, na alma, não mudara tanto assim.”
É muito difícil mudar na alma, pois as pessoas preferem mudar naquilo que é, facilmente, visível. E agindo assim. deixam de mudar, exatamente, o essencial, pois como diz Antoine de Saint-Exupéry, "o essencial é invisível aos olhos". Embora não sejam muitos os que vestem um blazer Armani ou tenham no braço um relógio Rolex, o fato é que conseguir tais coisas é muito mais fácil do que mudar na alma.
“Meu pai foi o maior homem que conheci. O maior jornalista. Fui bem mais longe na carreira que ele. Muitas vezes me perguntei por quê. Outro dia finalmente entendi. Fui adiante não porque fosse melhor que ele, mas porque sou pior. Eu paguei o preço que meu pai recusou pagar”.
Segundo o conceito vigente na sociedade em que vivemos, Paulo é um homem bem-sucedido e, comparado com ele, seu pai talvez tenha sido considerado um fracassado. E falar em fracassado me lembra as seguintes de Darcy Ribeiro:
“Fracassei em tudo que tentei na vida. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei alfabetizar as crianças, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria, não consegui. Mas meus fracassos são minhas vitórias. Detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
Para Darcy Ribeiro, seus fracassos o tornam um vencedor. Para Paulo, suas vitórias parecem tê-lo tornado um fracassado, conforme eu deduzo das seguintes palavras:
Era isso que eu queria ser. Um escritor barato e livre. Mas não tive a coragem de recusar o que as pessoas chamam de sucesso”.
Paulo queria ser livre, mas não teve coragem de recusar algo incompatível com a liberdade: o sucesso. A vida é feita de escolhas e estas são coisas do tipo “ou”. "Ou" escolhe-se isto "ou" aquilo. Ou se tem uma coisa ou outra. Quando se escolhe uma coisa abre-se mão de outras e a liberdade talvez seja a que requeira abrir mão de mais coisas.
“E então meu amigo foi em seu carro importado rumo a sua cobertura, a seu sucesso dolorido e a seu sentimento de orfandade e desamparo. Eu apanhei um táxi no ponto e no trajeto pensei que o sucesso é mesmo uma coisa muito engraçada”.
E então eu apanhei um ônibus no ponto, abri mão de receber anualmente uma PL (Participação nos Lucros) que para mim passou a significar Preço da Liberdade, me aposentei e fui para casa criar um blog para espalhar ideias como esta. E deixei na empresa uma legião de profissionais que vão em seus imponentes carros rumo aos seus "importantes" cargos, pois ainda não conseguiram perceber que alcançar sucesso na vida não se resume a ocupar altas posições na escala hierárquica. E ao espalhar esta ideia pensei que o sucesso é mesmo uma coisa muito estranha.

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