Continuação de sexta-feira
A
civilização atual divide a vida em tantos compartimentos que a educação
- excetuando-se o ensino de uma profissão ou técnica determinada - tem
muito pouco valor. Em vez de despertar a inteligência integral do
indivíduo, a educação o induz a adaptar-se a um padrão, vedando-lhe
assim a compreensão de si mesmo como um processo total. Procurar
resolver os numerosos problemas da existência nos seus níveis
respectivos - classificados como estão (os problemas) em diferentes
categorias - denota uma total ausência de compreensão.
O indivíduo é constituído de várias entidades, mas o realçar as diferenças e ao mesmo tempo favorecer a produção de um tipo definido leva a resultados complexos e a contradições. À educação compete promover a integração dessas entidades separadas - visto como, sem integração, a vida se transforma numa série de conflitos e tribulações. Para que formar advogados se perpetuamos os litígios? Que valor tem o saber, se continuamos em nossa confusão? Qual o significado da capacidade técnica e industrial, se a utilizamos para nos destruirmos mutuamente? Qual a finalidade da existência, se ela leva à violência e à desdita extrema? Conquanto tenhamos dinheiro ou sejamos capazes de ganhá-lo, apesar de termos prazeres e religiões organizadas, vivemos num conflito interminável.
Cumpre distinguir entre "pessoal" e "individual". O pessoal é acidental; por acidental entendo as circunstâncias de origem, o ambiente em que fomos criados, com seu nacionalismo, suas superstições, distinções e preconceitos de classe. O pessoal ou acidental é só momentâneo, ainda que esse momento dure a vida inteira; e como o atual sistema de educação se baseia no pessoal, no acidental, no momentâneo, só conduz à perversão do pensamento e à implantação de temores defensivos.
Fomos
todos preparados pela educação e o ambiente para a busca de proventos e
segurança pessoal, para lutarmos em nosso próprio interesse. Embora
costumemos dissimulá-lo com frases amenas, fomos educados para várias
profissões dentro de um sistema que se funda na exploração e no temor
com sua concomitante avidez. Tal educação acarretará, inevitavelmente,
confusão e tribulações para nós e para o mundo, pois cria em cada
indivíduo aquelas barreiras psicológicas que o separam e o mantêm
isolado dos outros.
A educação não é uma simples questão de exercitar a mente. O exercício leva à eficiência, mas não produz a integração. A mente que foi apenas exercitada é o prolongamento do passado, nunca pode descobrir o que é novo. Eis por que, para averiguarmos o que é educação correta, cumpre-nos investigar o total significado do viver.
Para a maioria das pessoas o significado da vida como um todo não é altamente relevante, e nossa educação encarece os valores secundários, fazendo-nos apenas proficientes num determinado ramo do saber. Ainda que necessários o saber e a eficiência, se lhe atribuímos importância demasiada, somos levados ao conflito e à confusão.
Há uma eficiência inspirada pelo amor, que leva muito mais longe, que é bem superior à eficiência da ambição; e sem o amor, que traz a compreensão integral da vida, a eficiência gera a crueldade. Não é isso exatamente o que ora acontece no mundo inteiro? A educação atual está aparelhada para a
industrialização e a guerra, e desenvolver a eficiência é seu alvo
principal; estamos dentro da engrenagem desta máquina de competição
impiedosa e destruição mútua. Se a educação conduz à guerra, se nos ensina a destruir ou a ser destruídos, não falhou completamente?
Para instituirmos a educação correta, é indispensável compreender o significado da vida como um todo, e, para tal, devemos ser capazes de pensar, não rigidamente, mas de maneira direta e verdadeira. Um pensador inflexível não tem pensar próprio, porque se ajusta a um padrão; repete frases e pensa dentro de uma rotina. Não se pode compreender a existência da forma abstrata ou teórica. Compreender a vida é compreender a nós mesmos; este é o princípio e o fim da educação.
Continua na próxima quinta-feira
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