quinta-feira, 24 de maio de 2012

A educação e o significado da vida (final)

Continuação de terça-feira
Educação não significa, apenas, adquirir conhecimentos, coligir e correlacionar fatos; é compreender o significado da vida como um todo. Mas o todo não pode ser alcançado pela parte - como estão tentando fazer os governos, as religiões organizadas e os partidos autoritários.
A função da educação é criar entes humanos integrados e, por conseguinte, inteligentes. Podemos tirar diplomas e ser mecanicamente eficientes, sem ser inteligentes. A inteligência não é mera cultura intelectual; não provém dos livros, nem consiste em jeitosas reações defensivas e asserções arrogantes. O homem que não estudou pode ser mais inteligente do que o erudito. Fizemos de exames e diplomas critério de inteligência e desenvolvemos espíritos muito sagazes, que evitam os problemas humanos vitais. Inteligência é a capacidade de perceber o essencial, o que é; despertar essa capacidade, em si próprio e nos outros, eis em que se resume a educação.
A educação deve ajudar-nos a descobrir valores perenes, para que não nos apeguemos a fórmulas ou à repetição de slogans (palavra ou frase associada, pelo uso, a um partido, grupo, etc (nota do tradutor)); deve ajudar-nos a derrubar as barreiras nacionais e sociais, em lugar de as reforçar, porquanto essas barreiras geram antagonismo entre homem e homem. Infelizmente, o nosso atual sistema de educação nos torna subservientes, mecânicos e fundamentalmente incapazes de pensar; embora desperte nosso intelecto, deixa-nos interiormente incompletos, estultificados e estéreis.
Sem uma integral compreensão da vida, os nossos problemas individuais e coletivos só tenderão a crescer, em profundidade e extensão. Não visa a educação a produzir meros letrados, técnicos e caçadores de empregos, mas homens e mulheres integrados, livres de todo o temor; porque só entre tais entes humanos pode haver paz duradoura.
A compreensão de nós mesmos extingue o medo. Para pelejar com a vida, de momento em momento, enfrentar suas complicações, tribulações e imprevistos, deve o indivíduo ser infinitamente flexível e, portanto, livre de teorias e de certos padrões de pensamento.
Não deve a educação estimular o indivíduo a adaptar-se à sociedade ou a manter-se negativamente em harmonia com ela, mas ajudá-lo a descobrir os valores verdadeiros, que surgem com a investigação livre de preconceitos e com o autopercebimento. Não havendo autoconhecimento, a expressão individual se transforma em arrogância, com todos os seus conflitos agressivos e ambiciosos. A educação deve despertar no indivíduo a capacidade de estar cônscio de si próprio, e não apenas deixá-lo comprazer-se na expressão individual.
Que benefícios traz a instrução, se no decorrer da vida nos destruímos? A série de guerras devastadoras, que temos tido, uma após outra, evidencia uma falha fundamental na educação que proporcionamos a nossos filhos. Quase todos nós, creio, estamos cônscios disso, mas não sabemos como atender ao problema.
Os sistemas, quer educativos, quer políticos, não se transformam miraculosamente; só se modificam quando há em nós uma transformação fundamental. O indivíduo é de primordial importância, e não o sistema; e, enquanto o indivíduo não compreender o processo total de si mesmo, nenhum sistema, seja da direita, seja da esquerda, trará ordem e paz ao mundo.
Bem, aqui termina o excelente texto de Krishnamurti. Agora, cabe a cada um refletir sobre o que foi dito.


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