sexta-feira, 18 de maio de 2012

A educação e o significado da vida (I)

Esta postagem apresenta a primeira de três partes em que foi dividido o capítulo I do livro A educação e o significado da vida, do filósofo, e educador indiano Jiddu Krishnamurti (1895 - 1986). Segundo ele, a educação é completamente falha e como tal precisa ser modificada, pois trata-se de um dos mais sérios problemas do desenvolvimento do ser humano. Portanto, creio que vale a pena ler o que ele diz sobre algo tão importante.
A educação e o significado da vida
Quem viaja pelo mundo pode notar a extraordinária semelhança da natureza humana, seja na Índia, seja na América, na Europa ou na Austrália. Isto se verifica principalmente nos colégios e nas universidades. Estamos como que fabricando, segundo um modelo, um tipo de ser humano cujo principal interesse é procurar a segurança, tornar-se pessoa importante, ou viver deleitavelmente e com o mínimo possível de reflexão.
A educação convencional dificulta sobremodo o pensar independente. A padronização do homem conduz à mediocridade. Ser diferente do grupo ou resistir ao ambiente, não é fácil, e não raro é arriscado, porque adoramos o bom êxito. O esforço empregado para obter sucesso, que é o desejo de recompensa, seja na esfera material, seja na chamada esfera espiritual, a busca da segurança interior ou exterior, o desejo de conforto - tudo isso representa um modo de agir que abafa o descontentamento, põe termo à espontaneidade, gera o temor e este impede a compreensão inteligente da vida. Com o avançar da idade, a mente e o coração vão-se embotando cada vez mais.
Procurando o conforto (não no sentido de comodidade material, porém como efeito de "confortar": dar forças e esperança (nota do tradutor)) encontramos, em geral, um cantinho sossegado na vida, onde podemos viver com o mínimo de conflito possível, e não ousamos mais dar um passo sequer para sair deste isolamento. Este medo à vida, este medo à luta e à experiência nova, mata em nós o espírito de aventura; por causa de nossa criação e educação, temos medo de ser diferentes do nosso próximo, tememos pensar em desacordo com o padrão social vigente, num falso respeito à autoridade e à tradição.
Felizmente algumas pessoas se interessam com seriedade pelo exame dos problemas humanos, livres dos preconceitos da esquerda ou da direita; mas, a grande maioria dentre nós não tem o verdadeiro espírito de descontentamento, de revolta. Quando nos submetemos ao ambiente, sem compreendê-lo, todo espírito de revolta que acaso possuímos esmorece e nossas responsabilidades em breve tempo o apagam definitivamente.
Há duas espécies de revolta: a revolta violenta, que é mera reação, sem inteligência, contra a ordem vigente, e a profunda revolta psicológica da inteligência. Muitos se revoltam contra velhas ortodoxias só para caírem em outras novas, em novas ilusões e secretas concessões aos próprios apetites. O que em geral acontece é que nos desligamos de um grupo ou conjunto de ideais e ingressamos noutro grupo, adotamos outros ideais, criando novo padrão de pensamento contra o qual nos revoltamos outra vez. Toda reação gera oposição, e toda reforma cria a necessidade de novas reformas.
Há, porém, uma revolta inteligente, que, não sendo reação, nasce com o autoconhecimento, com o percebimento do nosso próprio pensar e sentir. Só quando enfrentamos a experiência tal como se apresenta, quando não evitamos perturbações, é que podemos manter a inteligência altamente desperta; e a inteligência altamente desperta é intuição - o único guia seguro na vida.
Qual é, pois, a significação da vida? Para que vivemos e lutamos? Se somos educados apenas para nos tornarmos pessoas eminentes, para conseguirmos melhores empregos, para sermos mais eficientes, para exercermos domínio mais amplo sobre os outros, em tal caso nossas vidas serão superficiais e vazias. Se somos educados, apenas, para sermos cientistas, eruditos casados com seus livros, ou especialistas devotados à ciência, estaremos então contribuindo para a destruição e a desgraça do mundo.
Se a vida tem um significado mais alto e mais amplo, que valor tem nossa educação se nunca descobrimos esse significado? Podemos ser superiormente cultos; se nos falta, porém, a profunda integração do pensamento e do sentimento, nossas vidas são incompletas, contraditórias e cheias de temores torturantes; e, enquanto a educação não abranger o sentido integral da vida, bem pouco significará.
Continua na próxima terça-feira

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